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Vítimas de padres pedófilos pedem ações e não palavras da Igreja

04/03/2016
Vítimas de padres pedófilos pedem ações e não palavras da Igreja
Fornecido por AFP (Arquivo) Padres e bispos participam de uma missa, no Vaticano, em 18 de outubro de 2015

Fornecido por AFP (Arquivo) Padres e bispos participam de uma missa, no Vaticano, em 18 de outubro de 2015

As vítimas de padres pedófilos na Austrália pediram nesta quinta-feira em Roma para que a Igreja não se limite a “palavras” e passe aos atos, depois de ouvir o testemunho do cardeal George Pell sobre a ocultação durante décadas do fenômeno no país.

“Até agora só temos ouvido palavras. Precisamos passar para ações concretas, e que todo o peso da Igreja seja usado para ajudar as vítimas e para que isso não volte a acontecer”, pediu Anthony Foster, pai de duas meninas estupradas por um padre, após uma reunião a portas fechadas com o cardeal.

“Esperamos que a Igreja peça perdão e queremos reparações para as vítimas”, acrescentou Foster, que viajou de Ballarat, a cidade natal do cardeal Pell, perto de Melbourne, a Roma para assistir ao interrogatório do cardeal.

O cardeal australiano, “ministro” da Economia do Vaticano, classificou nesta quinta-feira de “coincidência desastrosa” o fato de cinco sacerdotes terem abusado de menores ao mesmo tempo na cidade australiana onde atuava, e as vítimas o acusaram de mentir.

O cardeal australiano prestou depoimento pela quarta e última vez ante a Comissão Real para uma Resposta Institucional ao Abuso Sexual de Menores.

Devido aos seus problemas cardíacos, o ex-bispo de Melbourne e depois de Sydney, de 74 anos, testemunhava pelo quarto dia consecutivo por videoconferência a partir de um hotel de Roma.

“George Pell era bispo auxiliar, responsável por supervisionar os padres que abusaram de minhas filhas”, lamentou Foster.

Em um breve comunicado lido à imprensa depois de se reunir com as vítimas, o cardeal reconheceu que escutou “histórias de sofrimento” e que foi “muito difícil”.

O cardeal, de 74 anos, colaborador do papa e integrante do grupo que assessora Francisco na reforma da Cúria, reconheceu os erros cometidos pela instituição, que para ocultar os casos de pedofilia trocava com frequência os responsáveis pelas dioceses e paróquias.

“Com 40 anos de distância, diria certamente que deveria ter feito mais”, admitiu interrogado sobre um caso específico.

O prelado disse que estava disposto a ajudar a sua cidade natal para que se torne “um lugar modelo”.

Dado o elevado número de suicídios entre as vítimas de padres pedófilos, o cardeal prometeu “trabalhar com o grupo (de Ballarat) para garantir que o suicídio não seja visto como uma opção para aqueles que sofrem”, disse ele.

Em 2013, a Igreja Católica na Austrália admitiu ter escondido durante décadas o abuso sexual de menores cometidos por membros do clero e confirmou a existência de 620 casos de pedofilia, incluindo com crianças de 7 e 8 anos, cometidos por padres desde os anos 1930.