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Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro? Entenda mais sobre o aniversário mais famoso do mundo
Bilhões de pessoas em todo mundo celebram hoje o aniversário de Jesus Cristo. A verdade, entretanto, é que ele não nasceu num dia 25 de dezembro. “A teoria mais forte atualmente é que a data tenha sido escolhida para se contrapor à principal festa religiosa dos romanos, do Sol Invencível, que se dava na noite do dia 24”, afirma Valeriano Santos Costa, diretor da faculdade de Teologia da PUC-SP. Na data, os romanos celebravam o solstício de inverno, quando acontecia a noite mais longa do ano.
E não para por aí. O ano de nascimento de Jesus, que marca o início da contagem do nosso calendário – afinal, estamos a caminho do ano 2016 “depois de Cristo” – provavelmente está errado. “Os evangelhos não fornecem datas precisas, apenas indícios. E muitas variáveis devem ser consideradas, como a diferença de calendários adotados por judeus e romanos à época”, afirma o historiador Julio Cesar Chaves, mestre em Ciências da Religião e pesquisador do cristianismo primitivo. “Tanto Lucas quanto Mateus relatam que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o que provavelmente situaria o nascimento entre os anos 6 e 4 a.C. (antes de Cristo)”, diz.
Segundo a tradição cristã, Maria teria dado à luz em Belém. Mas o local também é contestado por alguns estudiosos, como o teólogo americano John Dominic Crossan e o arqueólogo israelense Aviram Oshri. Belém, que fica na Judeia, é citada nos evangelhos de Lucas e Mateus, mas os especialistas dizem haver indicações de que ele teria nascido na Galileia, onde começou a pregar. O fato de ambos evangelhos situarem o nascimento em Belém é visto como uma tentativa de associar Jesus à profecia de Miqueias, segundo quem o messias esperado pelos judeus nasceria naquela cidade.
Se nem data e local de nascimento estão livres de controvérsia, tampouco as imagens reproduzidas nos presépios mundo afora, com o menino na manjedoura recebendo a visita dos três reis magos, são encaradas por estudiosos como realidade. “As narrativas sobre o nascimento foram feitas três ou quatro gerações depois, quando as informações históricas e os testemunhos diretos já estavam perdidos”, diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos autores do livro “Jesus Histórico. Uma Brevíssima Introdução”, da Klíne Editora. “O relato tem uma discussão de poder, de reis importantes vindo de longe prestar homenagem”, completa.
Sem detalhes claros sobre o nascimento de Cristo, há quem duvide de sua existência. Na opinião dos especialistas, entretanto, essas correntes apresentam mais motivações ideológicas do que históricas, uma vez que há, sim, provas da existência da Jesus. “Ele é tão histórico quanto o imperador Tibério, ou a maioria dos imperadores romanos. Se você vai colocar Jesus como ficção, tem que colocar boa parte da história antiga na linha da ficção. Do que não se tem provas científicas é de que ele seja o salvador. Aí entra a questão da fé”, afirma Costa.
“A quantidade de fontes antigas de períodos praticamente contemporâneos a Jesus que o mencionam é considerável – inclusive em obras não cristãs. Não faria sentido pensar que uma quantidade tão grande de fontes compostas quase ao mesmo tempo e por autores diferentes fizesse referência a uma pessoa que nunca existiu, ou que fosse fruto de uma invenção”, diz Chaves. Segundo ele, a ideia segundo a qual Jesus seria uma invenção mítica surgiu por volta do século 18, e nenhum estudioso sério defende tal tese. “A quantidade de fontes antigas que mencionam Julio César, por exemplo, é muito menor do que as que mencionam Jesus. No entanto, nunca vi ninguém questionar a existência do primeiro”, completa.
A mais recente pesquisa sobre a vida de Jesus trata de um fragmento de papiro traduzido do copta – idioma usado por cristãos no Egito antigo – pela professora da Escola de Teologia de Harvard Karen King e cita Jesus dizendo “minha mulher”. A própria historiadora reconhece que o documento, escrito cerca de quatro séculos após a morte de Cristo segundo suas estimativas, não prova que ele fosse casado, apenas que cristãos dos primeiros séculos acreditavam nisso. “E ninguém sabe ao certo se esse papiro é real ou uma farsa”, ressalta Costa.
Estudar a vida de Cristo é um tema polêmico pois envolve não só ciência, mas fé. Para Chevitarese, jamais existirá um retrato único dele. “É como um caleidoscópio. Existem inúmeros retratos de Jesus: no evangelho de João, Jesus é Deus; para Paulo, ele é o messias, mas não Deus. No fundo, Jesus é uma percepção de cada comunidade”, conclui.
Abordagem sobre o nascimento de Jesus via relatos da Natividade
Os relatos dos evangelhos de Mateus e Lucas não mencionam uma data ou estação do ano para o nascimento de Jesus e Karl Rahner afirma que os evangelhos, de forma geral, não proveem informações cronológicas suficientes para satisfazer as demandas de um historiador moderno. Mas tanto um quanto outro associam o nascimento de Jesus com a época de Herodes, o Grande e, por isso, a maior parte dos estudiosos geralmente assume uma data para o nascimento entre 6 e 4 a.C. Porém, muitos estudiosos enxergam nos relatos uma contradição, pois enquanto o Evangelho de Mateus localiza o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes, que morreu em 4 a.C., o Evangelho de Lucas o faz dez anos depois da morte dele, durante o censo de Quirino, descrito pelo historiador Josefo . A maioria acredita que Lucas teria simplesmente se enganado, enquanto outros tentaram reconciliar relato com os detalhes fornecidos por ele , utilizando abordagens que vão desde “erros gramaticais” — a tradução da palavra grega prote, utilizada em Lucas, deveria ser lida como “registro [censo] antes de Quirino ser governador da Síria”— até argumentos arqueológicos e referências a Tertuliano sugerindo um “censo em duas fases” — que teria envolvido um registro inicial, baseado em Lucas 2:2, que cita um “primeiro recenseamento”[. Géza Vermes descarta estas tentativas como sendo “acrobacias exegéticas”. Apesar da celebração do Natal em dezembro, nem Lucas e nem Mateus mencionam uma estação do ano para o nascimento de Jesus. Porém, argumentos acadêmicos sobre o realismo dos pastores deixando seus rebanhos pastando no inverno já foram propostos, tanto disputando um nascimento no inverno (no hemisfério norte) para Jesus quanto defendendo-o com base na brandura dos invernos em Israel e nas regras rabínicas sobre ovelhas perto de Belém antes de fevereiro. Segundo Santo Agostinho, em seu livro De Trinitate, 4º volume, a data do Natal foi estabelecida em 7 de Janeiro (hoje em dia modificada para 25 de Dezembro) porque uma tradição afirma que a concepção de Jesus foi no dia 8 de Abril e a gestação ocorreu durante 9 meses exatos.
Cristologia da Natividade
A Natividade de Jesus teve importantes consequências para o debate cristológico sobre a pessoa de Cristo desde os primeiros dias do cristianismo. A cristologia de Lucas está centrada na dialética das duas naturezas das manifestações divina e terra da existência de Cristo, ao passo que a de Mateus se foca na missão de Jesus e no seu papel como salvador da humanidade.
A crença na divindade de Jesus levou à questão de se Jesus era um homem nascido de uma mulher ou Deus nascido de uma mulher. Diversas hipóteses e crenças sobre a natureza de seu nascimento circularam nos primeiros quatro séculos do cristianismo. O debate sobre o título “Theotokos” (“portadora/mãe de Deus”) dado à Virgem Maria é um exemplo do impacto da mariologia na cristologia na época. Algumas destas hipóteses e doutrinas foram finalmente consideradas heresias — o nestorianismo, por exemplo — enquanto outras levaram a cismas e à formação de novos ramos da Igreja — a Igreja Assíria do Oriente, que existe até hoje.
A ênfase salvífica de Mateus 1:21 impactou muito depois o debate teológico e a devoção ao Santo Nome de Jesus. Mateus 1:23 é fonte da “Cristologia de Emanuel” no Novo Testamento. Começando com este versículo, Mateus demonstra um claro interesse em revelar Jesus como “o Senhor entre nós” (“Emanuel”) e em desenvolver a caracterização de Jesus como “Emanuel” em pontos chave de seu evangelho[136] .
O nome em si não aparece mais nenhuma vez no Novo Testamento, mas Mateus parte dele em Mateus 28:20 (“Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo”) para indicar que Jesus estará com os fieis no fim dos tempos. Ulrich Luz vai mais longe e afirma que o tema de “Emanuel” está presente em todo o Evangelho de Mateus entre 1:23 e 28:20, aparecendo implícita ou explicitamente em diversos outros versículos.
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