Brasil

Jovens mortos por Policiais Militares foram enterrados hoje (30) à tarde, no Rio

30/11/2015
Jovens mortos por Policiais Militares foram enterrados hoje (30) à tarde, no Rio

 

Parentes e amigos comparecem ao velório dos cinco rapazes assassinados pela PM do Rio, na tarde do último domingo (29), no Cemitério de Irajá (Foto: G1)

Parentes e amigos comparecem ao velório dos cinco rapazes assassinados pela PM do Rio, na tarde do último domingo (29), no Cemitério de Irajá (Foto: G1)

Roberto Silva de Souza, de 16 anos, foi enterrado no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, por volta das 16h20 desta segunda-feira (30). Ele é um dos cinco jovens mortos por tiros de fuzil da PM no último sábado (28), próximo ao Conjunto de Favelas da Pedreira, no Subúrbio do Rio.

Pouco depois, o corpo de Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, também foi enterrado no mesmo cemitério, por volta das 16h35. Após o enterro, parentes e amigos rezaram a oração “Pai Nosso” e bateram palmas em homenagem a Wilton. Já Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16 anos, foi enterrado por volta das 17h. Amigos realizaram um cortejo para Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e por votla das 17h15 o corpo dele foi enterrado.

Os cinco jovens voltavam para casa na noite de sábado (28) quando foram alvejados por 50 tiros quando estavam chegando em casa. “A gente jovem que mora em comunidade, não pode ter um carro se não é vagabundo. Eu não aguento mais. Que mundo é esse que um menino sai para curtir e são alvejados desse jeito? A gente pede paz, aqui em Costa Barros e no mundo inteiro”, disse um primo de Wilton durante o enterro.

Protesto
Logo depois dos enterros de Roberto e Wilton, Wesley e Carlos Eduardo foram enterrados no mesmo cemitério, por volta das 17h. A revolta e a emoção deram a tônica. Do lado de fora do cemitério, Monica Aparecida Santana Corrêa, mãe de Cleiton Correa de Souza, 18 anos, estava revoltada pela demora em liberar o corpo do filho para o enterro no cemitério de Irajá. O corpo estava preso no Instituto Médico Legal até as 17h20. A Rua Nossa Senhora da Apresentação foi fechada durante o protesto.

“Eles botam tanta burocracia, acham que a nossa dor é pouca. Faltava um carimbo. tem que ter tempo para enterrar hoje, eu não quero saber de onde eles vão tirar tempo”, afirmou ela, que disse que o filho estava trabalhando como ajudante de caminhão. “O sonho dele era servir à Marinha”, conta ela, emocionada ao falar sobre o filho ter sido morto pela polícia. “Quando eles botaram a mão fora do carro, eles foram metralhados. Foram cinco sonhos destruídos”, disse Monica.

Velório
Os jovens foram velados no início da tarde desta segunda-feira (30) na capela Santo Cristo, do cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. O enterro dos cinco amigos estava marcado para as 16h desta segunda.

Amigos levaram para o cemitério camisas em homenagens aos mortos. Além disso, amigos fizeram um protesto em homenagem aos jovens. Eles levaram umabandeira do Brasil com o nome e a idade de cada um dos mortos.”Esses furos são para cada um dos tiros que foram disparados”, disse Antonio Carlos Costa, presidente da ONG.

A ação foi classificada como “homicida e indefensável” pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20, foram alvejados por cinquenta tiros quando voltavam para casa, na favela da Lagartixa, no Conjunto de favelas da Pedreira, no subúrbio do Rio. As famílias de ambos, que eram irmãos de criação, estavam muito emocionadas. No carro, também estavam os amigos Roberto Silva de Souza e Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18 anos.

A família conta que Wilton ia se formar no início de dezembro em um curso de contabilidade e administração, e tinha acabado de comprar uma moto. “Ele era um garoto sério, não tinha nada a ver com nada relacionado à crime, tráfico, nada”, disse uma tia de Wilton, que relatou medo de ameaças de policiais: “Eles tanto podem ficar presos como não ficarem. Temos medo de virem cobrar sim. Era para trazerem segurança, mas não acontece”, afirma.

A mãe dele, Márcia Ferreira de Oliveira, viu os policiais tentando forjar a cena do crime usando uma arma de brinquedo. “Podia vistoriar tudo que eles não iriam encontrar nada. Eu cheguei e um PM disse: ‘Eu vou atirar, eu vou atirar’. Eu vi ele se mexendo, pedi socorro”, lamenta a mãe de Wilton.Uma prima de Wilton que não quis se identificar por questões de segurança diz que ele era muito dedicado. “Na noite do acontecido, vi as fotos dele no Parque Madureira. Ele quase não saía, fiquei feliz de ver ele se divertindo, ele praticamente só estudava”, disse.

No carro, também estavam com Wilton os amigos Roberto Silva de Souza e Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18 anos, e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos. A família confirmou que Wesley, parente de Wilton e que estava no carro, já tinha tido uma passagem pela policia. Ele será velado na mesma capela, por volta das 14h. Todos os amigos moravam no Morro da Lagartixa, no complexo da Pedreira, no subúrbio do Rio.

Segundo testemunhas que estavam no local, uma van e uma moto também foram atingidas pelos tiros dos policiais.

 

Os PMs do 41º BPM foram presos em flagrante após depoimento ao delegado da 39ª DP (Pavuna), que investiga o caso. O comandante do batalhão foi exonerado. Eles responderão perante as Justiças comum e Militar. Três deles responderão por homicídio doloso e fraude processual e um deles por fraude processual.

‘Filhos de chocadeira’
A bisavó de Wilton, uma das mais emocionadas durante o velório, estava indignada com a morte dos jovens. “Eu acho que esses quatro [policiais] foram gerados não por uma mãe, mas por uma chocadeira”, disparou a bisavó de Wilton.

Ela lembra que Wilton conseguiu comprar uma moto com o dinheiro guardado em uma lata de leite em pó. “A família inteirou o resto do valor”, lembra.

Wesley, que também estava no carro, era irmão de criação de Wilton, e a senhora só o conheceu no dia 20 de novembro. “Ele me disse que ia me apresentar a filha dele, minha tataraneta, mas não deu tempo”, lamenta. A mãe de Wesley diz que quer justiça: “Nenhuma mãe merece passar pelo que eu estou passando. Ver meu filho único, que eu criei sozinha, e ver ele com o rosto todo deformado, cheio de massa, porque acabaram com o rosto dele”, disse Rosileia Castro de Andrade, emocionada.

“Ele queria trabalhar, ser um grande homem, pegar o diploma dele. Era um exemplo para a família, queria comprar uma casa para a família. Ia começar o estágio, mas não deu tempo”, contou, emocionada, a tia do jovem, Débora Esteves, de 32 anos, supervisora de loja.