Geral
FPI faz coleta de água no São Francisco para analisar se ainda existem os efeitos da mancha escura
Se a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco existe para proteger o rio considerado da integração nacional, também é sua atribuição cuidar da qualidade da água desse manancial que corta cinco estados brasileiros: Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. No domingo (22), os técnicos da FPI percorreram cerca de 55 quilômetros do “Velho Chico”, coletaram dezenas de amostras e, agora, essa água será submetida a análises laboratoriais para confirmar se ela pode mesmo continuar servindo de abastecimento para municípios do Sertão alagoano. E a boa notícia que chega com essa fiscalização in locu é que aquela mancha escura que surgiu em abril último já não consegue mais ser vista visualmente, o que reacende a esperança de que a qualidade da água, de fato, não está mais sendo tão afetada.
Um dos maiores problemas enfrentados pelo povo sertanejo é a seca. E se já é difícil conviver com esse problema, que acaba se tornando social, além de ser climático, dificuldade ainda maior passam a enfrentar essas comunidades quando o abastecimento de água, que normalmente já é deficiente, atinge o dia a dia desse povo. Foi o que ocorreu num passado recente, mais precisamente em abril e junho últimos, quando uma mancha escura surgiu no Rio São Francisco, nas imediações do município de Delmiro Gouveia. A primeira suspeita foi de que houvera um derramamento de óleo, porém, após análises feitas em laboratório, descobriu-se que na verdade aquilo eram algas invasoras, antes nunca surgidas nas águas no “Velho Chico”.
FPI faz coletas
O Instituto do Meio Ambiente (IMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estão estudando a causa daquela mancha que obrigou a Companhia de Abastecimento de Alagoas (Casal) a suspender o fornecimento de água para milhares de pessoas por um período de duas semanas, em meses diferentes.
E como as investigações continuam, já que o estudo ainda não foi concluído, uma nova coleta foi realizada durante esse domingo. Dessa vez, foi a FPI que, aproveitando a presença dos técnicos do Ibama no programa, tomou para si a responsabilidade de fazer a 5ª coleta. Foram percorridos 55 quilômetros entre as cidades de Piranhas (AL) e Paulo Afonso (BA) e, neles, os analistas ambientais recolheram água em 10 pontos diferentes, todos dentro do reservatório da Usina Hidrelétrica de Xingó.
O material recolhido será analisado pelo Laboratório de Hidroquímica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e caberá ao professor doutor Paulo Petter, apresentar os resultados.
Cianobactérias
Após o trabalho deste domingo, a FPI vai querer saber se as cianobactérias ainda continuam presentes nas águas do Rio São Francisco. “Já havíamos feito quatro coletas. Isso vem ocorrendo desde abril, quando aconteceu aquele fenômeno. Todos os relatórios apontaram para um processo de eutrofização, que é o enriquecimento do ambiente com nutrientes e floração de algas de uma espécie de dinoflagelados. Nesse caso, essa espécie invasora conseguiu se multiplicar, dominar aquele ecossistema e sua abundância modificou a cor da água, dando-a uma coloração marrom e preta. E o último estudo comprovou um fato ainda mais grave, as cianobactérias se proliferaram nas águas do Lago do Xingó”, explicou Rivaldo Couto, analista ambiental do Ibama e integrante do Núcleo de Emergências Ambientais do órgão.
“O perigo das cianobactérias é que elas podem ser extremamente agressivas à saúde humana. São microalgas que podem causar desde uma simples diarreia, passando por problemas no trato intestinal, até a morte. Nesse último caso, isso pode ocorrer se elas forem consumidas em concentração elevada”, acrescentou Rivaldo Couto.
O que será analisado
A FPI recolheu a água de diferentes formas. Através da sonda multiparamétrica, vários parâmetros serão mensurados, a exemplo de temperatura, saturação, oxigênio, PH e turbidez.
Já as amostras que foram acondicionadas nos frascos serão avaliadas quanto a clorofila, os sólidos em suspensão (que aferem todo o material orgânico e mineral contido na água) e nitrogênio e fósforo (que podem ser indícios da entrada de esgoto dentro do rio).
Um outro equipamento coletou mais água para que pudesse ser medida a quantidade de fitoplâncton no manancial. O resultado apontará as espécies e a densidade das microalgas encontradas.
“Todo esse material será avaliado para que possamos saber se a água está dentro dos padrões estabelecidos em legislação própria para o devido consumo humano. Tanto a Portaria nº 29 do Ministério da Saúde (MS), quanto a Resolução nº 357/07 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelecem os limites permitidos de células dentro da água. Caso esses valores estejam alterados, é provável que a água tenha sofrido algum tipo de degradação ambiental, tornando-se imprópria para o consumo. E se isso ocorrer, é necessário um monitoramento mais detalhado a fim de assegurar a saúde da população”, esclareceu Roberto Wagner, também analista ambiental.
“A FPI é movida pelo sentimento de proteger o Rio São Francisco. Oferecemo-nos para ajudar nesse processo porque queremos mesmo fazer parte dele. É nossa responsabilidade trabalhar para defender os patrimônios ambiental, natural e cultural do Velho Chico e quaisquer coisas relacionadas a ele nos interessa, torna-se importante para cada uma das 24 instituições que compõem a Fiscalização Preventiva Integrada. Ficaremos monitorando essa investigação quanto a qualidade da água e, tão logo ela seja finalizada, vamos discutir de que forma poderemos ajudar. De todo modo, já fomos comunicados que a mancha praticamente pode mais ser vista, o que já é um bom sinal. Mas, enquanto o laudo final não fica pronto, seguiremos firmes no propósito de cuidar desse rio que, há tempos, já é considerado da integração nacional”, finalizou o promotor de Justiça Alberto Fonseca, coordenador da FPI do São Francisco.
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