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Racismo e o vírus populista. Descubra se você é um racista
Alguns dos ataques a Taís Araújo: “1) Pensava q o facebook era pra humanos não pra macaco; 2) Já voltou da senzala? 3) Cabelo de parafuso enferrujado; 4) Linda com M de banana; 5) Pode ser mais clara?”
Que é o racismo? “Conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias; doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras; preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, ger. considerada inferior; p.ana. atitude de hostilidade em relação a determinada categoria de pessoas; “r. Xenófobo””.[1]
Para não ser um idiótes temos que saber o que são as coisas (ao menos as mais elementares) e suas origens. O racismo (tal como o praticado contra Taís Araújo, por exemplo) é, antes de tudo, um preconceito. É uma ideia ou opinião ou sentimento formado a partir de uma crença irracional (sem ponderação, sem base científica). Chega a ser um sentimento hostil, revelador de intolerância (asco em relação à existência de uma pessoa de outra “raça”, de outra cor, de outra etnia).
O racismo exterioriza um ataque ou uma atitude subjetiva gerada por uma sequência de mecanismos psíquicos e sociais. Do ponto de vista econômico, o racismo tem origens históricas na tentativa de justificar a exploração de um grupo “considerado inferior” por outro (o hegemônico).
Do ponto de vista identititário (identidade de um povo), o racismo constitui o motivo para se distanciar ou impedir a aproximação de um grupo que conta com cor, costumes, tradições e comportamentos distintos (o preconceituoso diz: “não quero me misturar”).
Isso pode se converter até mesmo numa política pública (veja o caso de Berlusconi, na Itália, por exemplo, ou Sarkozy, na França), que culmina com a criminalização do outro (só por ser “outro”), que deve, assim, “ser tratado de forma diferente”.
Desencadeado o estigma (o estereótipo, o nojo, o distanciamento, o rechaço), constroi-se o mito da superioridade de uma “raça” sobre a outra ou da iniquidade (invalidade) dessa outra. Nesta última hipótese é que surgem políticas mais radicais (fascistas, nazistas, fundamentalistas etc.).
Se você acredita no mito da superioridade racial você é, inequivocamente, um racista (pensa algo que a Constituição brasileira não apoia). Mais: supõe haver diferenças biológicas entre os povos (todos originários da África, diga-se de passagem, consoante o pensamento evolucionista de Darwin). Se você não acredita nesse mito, vamos prosseguir.
O racista está picado pelo vírus populista
O racismo exprime várias características do vírus (do imaginário) populista[2], que os povos transmitem e recebem como um antigo legado, de fundo religioso, fundado numa peculiar visão de mundo, sagrada, que considera a sociedade como um organismo natural, como se fosse um corpo humano, cuja saúde e coesão exigem a subordinação incondicionada dos indivíduos, que não devem reivindicar suas individualiades, posto que estariam sujeitos a viver unicamente em função da harmonia e da unidade do grupo.
O indivíduo deve se submeter ao plano coletivo (regido pelas crenças hegemônicas, ainda que aberrantes), que pode ser revelado por um Deus ou ser inerente à natureza, porque se parte da premissa de que o povo é um conjunto de pessoas “unitário e indivisível” (e o que importa é conjunto e suas crenças, não as individualidades).
A consequência primeira dessa visão de mundo reside na intolerância, na insuportabilidade do diferente, na refutação de todos os que foram excluídos ou nunca deveriam ter entrado no Jardim Edênico da prosperidade (e, eventualmente, da felicidade).
Se partirmos (por hipótese) da suposição de que o mundo ocidental teria sido feito para o desfrute do homem(não das mulheres) branco (não dos negros, índios, pardos, mulatos, asiáticos etc.), europeizado (não dos americanos, asiáticos, nativos, selvagens etc.), proprietário (não dos não proprietários, leia-se dos assalariados precarizados, dos proletários, dos subalternos e dos marginalizados), adulto (não das crianças nem dos idosos), corporalmente são (não dos portadores de deficiências) e de orientação sexual masculina(não dos homossexuais, transsexuais etc.), começamos a entender a brutal quantidade de discriminações contra todos que foram (arbitrariamente) postos para fora do referido Jardim Edênico da prosperidade terrenal (ou seja: contra as mulheres, os negros, pardos, mulatos, povos americanos ou asiáticos, não proprietários, crianças, idosos, portador de deficiências, homossexuais etc.).
O racista, mordido pela mosca do vírus (do imaginário) populista, não tolera as ideias (liberais) de direitos e liberdades individuais (frente ao Estado e frente às demais pessoas: projeção vertical e horizontal dos direitos), de singularidade e dignidade individuais, de Constituição, de Declaração de Direitos fundamentais (nacionais ou internacionais), de respeito aos demais seres humanos, à natureza, aos animais e ao bom uso da tecnologia (em suma: à ética).
O racista prioriza a “ordem social” (coesão do corpo orgânico) em detrimento da liberdade política, a segurança (das suas crenças) sobre a liberdade individual, a comunidade sobre o indivíduo, a tirania (o autoritarismo e até mesmo o totalitarismo) sobre a democracia, a estética sobre a ética, a esfera espiritual (imginária) herdada de longa data sobre a esfera secular iluminista (processo histórico mediante o qual a política, a sociedade, o direito e a cultura se tornam independentes da religião)[3].
O racista é um vassalo da visão de um mundo imaginário, atrasado, longevo, intolerante e supostamente uniforme (eventualmente escravagista), onde ainda não chegou (ou não chegou com muita intensidade) a visão ilustrada da vida e da humanidade, que é a visão da modernidade (séculos XVII e XVIII). Sendo assim, é claro que ele não aceita a ideia da autonomia indivídual nem de individualiadade, de razão, de heterogeneidade, de pluralidade, de diversidade. O mundo do racista é um mundo fechado. Ele é a negação da filosofia iluminista que prega o respeito a todas as pessoas, que não podem ser discriminadas por sua cor, raça, etnia, procedência, orientação sexual etc. (tal como diz o art. 5º da Constituição brasileira).
Para não ser um idiótes temos todos que saber (e deplorar) que o mundo racista é o da exclusão, do corte, da ruptura, do egoísmo, do autoritarismo, da visão unilateral e prepotente. Não é com esse tipo de visão (idiótes) que nós brasileiros vamos construir um Brasil melhor e sustentável. O racismo, como expressão de uma deplorável intolerância populista, constitui um dos sinais dos nossos tempos trágicos e céticos. O pior é saber que o racista, normalmente, não tem a mínima ideia (ignora) de que é herdeiro de uma escória de pensadores malignos e mentecaptos, que refletem a obscuridão mais nefasta das ciências.
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