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Mel Vasconcelos: Dos textos literários, poesias e crônica para a série infantil
A alagoana Melina Vasconcelos, da Produtora “Filmiola”, ganhou, recentemente, uma verba destinada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) para a execução do projeto de animação “Mamacarrão”, de sua autoria, que se trata de uma série voltada para o público infantil. Outra produtora alagoana, a Staff, também foi beneficiada com o projeto “O incrível Mundo dos Malbets. E o melhor: essa foi a primeira vez que a Melina escreveu alguma coisa destinada à essa área, o que deixou claro a forte ligação que a escritora tem com as crianças , pois buscou exatamente na filha Maria, de apenas 4 anos, inspiração para compor todo esse universo lúdico e também bastante real. E a produção não para por aí.
Além dessa primeira experiência, Melina é roteirista, produtora e diretora de filmes e já ganhou alguns prêmios por conta disso. Ela escreve textos literários, poesias, sonetos, crônicas, roteiros de publicidade, roteiros de documentários e roteiro de filme de ficção, mas também fez faculdade de História na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), em Palmeira dos Índios, cidade onde viveu a maior parte de sua vida. Estudou Roteiro e Direção Cinematográficos na Escuela Internacional de Ciney y Televisión (Eictv), em Cuba, e fez vários outros cursos na área de cinema nas cidades de São Paulo, Maceió e Natal. E o mais interessante é que ela atua em todas essas áreas que estudou, pois os documentários que escreve possuem embasamentos históricos, e é nessa primeira formação onde ela busca todos os subsídios na hora de criar os roteiros e estórias. Acostumada a escrever desde criança, sempre recebia dos pais presentinhos como canetinhas, caderninhos e diários, coisa que muitas vezes não gostava de receber, pois preferia ganhar brinquedos, como as outras crianças. E talvez tenha sido todo esse encorajamento dos pais que ajudaram Melina a se transformar na profissional de múltiplos talentos que hoje possui. Agora, a expectativa é para a estreia de “Mamacarrão” na televisão, para o deleite das crianças e também dos adultos.
T.S. Você também já produziu e dirigiu outros filmes. Quais foram?
M.V. Tenho alguns filmes escritos e dirigidos por mim, todos curta metragem. “Mar Vermelho” foi o primeiro. Ele foi feito para concorrer no concurso Claro Curtas de 2010 e ganhou o terceiro lugar nacional. Depois fiz “Um sonho para Tereza”, minha única ficção filmada. E foi toda filmada em Cuba, como exercício de um dos cursos. “Geração Z Rural” é o meu preferido. Foi um documentário que fiz para o Canal Futura e fala da geração Z, aquela que não conhece o mundo sem as facilidades da internet, da zona rural, onde questiono o que é inclusão digital e que novo tipo de sociedade a tecnologia provoca. Ele foi veiculado no canal Futura, nacionalmente, e ganhou Menção Honrosa na Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Animação é a primeira vez que vou fazer. Não desenho. Tenho o meu querido e talentosíssimo ilustrador que é o Lucas Nascimento, daqui de Maceió. Ele foi as minhas mãos nesse projeto e colocou no papel o que estava na minha cabeça.
T. S. Você teve, recentemente, um projeto aprovado pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro, o Prodav, através da Ancine, para a produção de uma série de animação. Como se deu esse processo?
M.V. O Prodav 05 é uma das linhas de financiamento do BRDE, através da Ancine, para o audiovisual brasileiro. Ela contempla o financiamento do desenvolvimento de projetos de ficção, documentários e animação, sejam eles seriados ou não, com o objetivo de criar produtos audiovisuais pelo Brasil para serem comercializados nas tv’s a cabo, atendendo a lei n.º 12.485, que obriga as tv’s pagas que operam no país a veicular uma quantidade mínima de horas semanais de conteúdo nacional produzido por produtoras independentes. O desenvolvimento de projetos, no caso da série “Mamacarrão”, abrange desde a produção do primeiro episódio das séries, chamado de episódio piloto; a escrita dos roteiros de todos os outros capítulos da temporada.
T. S. Como se deu todo esse processo?
M.V. Para a inscrição, foi necessário o roteiro do primeiro capítulo e somente as sinopses de mais cinco episódios, o desenvolvimento do design de todas as personagens, com suas expressões faciais, cenários e etc., e todos os itens necessários para se montar o que chamamos de ‘bíblia’, que é um projeto com tudo o que as séries precisam para serem produzidas completamente. Com esse material em mãos, o episódio piloto e a bíblia, poderemos participar de pitchings nas tv’s pagas e vender nossos produtos (pitching é uma apresentação sumária de três a cinco minutos com o objetivo de despertar o interesse da outra parte, investidor ou cliente, pelo seu negócio).
T. S. O que é a série e o que o público, principalmente o infantil, pode esperar dela? Já tem um número de capítulos definidos?
M.V. Se qualquer um observar, as perguntas de todas as crianças são todas cheias de sentido, e quando a gente acha engraçado é porque perdeu o hábito de pensar com sentido, a gente passa a pensar da forma que a sociedade ensina a gente, e para de questionar muita coisa que deveria ser questionada. A Mamá, protagonista da série, vive fazendo esse tipo de pergunta, deixando os adultos sem respostas e como não as tem, passa os dias investigando seus questionamentos e no final obtém a sua própria resposta. Mamá tem um apetite intenso, de jujuba a brócolis e de querer saber de tudo um pouco, ela entende bem. A menina gordinha que sonha em ser bailarina deixa desconcertado qualquer adulto com suas perguntas filosóficas, e vai junto com Clara, sua prima e companheira de aventuras buscar respostas através da lógica infantil. Filha de Dina e Giovanni, donos de uma cantina italiana, e irmã de Dudu, pré-adolescente desastrado, Mamá adora macarrão e tira dele a energia que precisa para saciar tanta curiosidade. “Mamacarrão” é uma série de animação infantil de 13 episódios de 11 minutos. A série tem como tema central a introdução à abordagem filosófica para crianças entre quatro e sete anos, com a intenção, além de entreter e divertir, de estimular o público ao pensamento e a busca por respostas para os questionamentos latentes da faixa etária para a qual se direciona, estimulando habilidades de raciocínio, investigação e conceituação do universo ao seu redor. Questões como “Por que o tempo passa?”; “De onde eu vim?”; “Meninas podem fazer tudo que meninos podem?”; “A gente cresce quando para de brincar?” serão tratadas durante a primeira temporada. A série se baseia na constatação de que há muito em comum entre crianças e filósofos: a capacidade de olhar para o mundo com extrema curiosidade e por isso, ficarem intrigados com conceitos problemáticos, questionando assim a verdade, as regras, a justiça. Os filósofos usam esta capacidade para investigar o mundo e procurar dar respostas, através da construção de conceitos que servem como referência para a busca por respostas de todos, as crianças fazem a mesma coisa, porém despretensiosamente e de forma empírica. É natural, porém, que o público infantil se interesse pelo tema por tratar dessas questões, se identificando e sendo estimulado com os processos de raciocínio e de julgamento colocados em forma de animação e de um tom bem humorado.
T.S. Você trabalha na podutora “Filmiola”. O que é a produtora e como vai ser a participação dela dentro desses projetos selecionados?
M.V. Eu sou a proprietária e fundadora da Filmiola. A Filmiola é uma produtora de conteúdo. Crio conteúdo, os mais diversos: para publicidade, para tv, para cinema, para internet. E também produzo. A Staff Vídeo é a empresa onde trabalhei durante 10 anos, prestando serviço. E agora nós nos associamos, criamos um grupo econômico, que é uma sociedade pontual, ou seja, somos sócios para criação e produção de conteúdo para tv e em alguns projetos de cinema.
O outro projeto selecionado foi “O incrível Mundo dos Malbets”, que é de autoria do Sidney Agra, um dos proprietários da Staff, portanto um dos meus sócios no grupo. Ele escreveu o argumento e através da Filmiola, minha produtora, formatei e embasei o projeto, que também saiu vencedor, junto com “Mamacarrão”.
T.S. Como está o mercado do audiovisual, de animações e produções de séries e filmes no Brasil?
M.V. O mercado do audiovisual em geral, no Brasil. O audiovisual, em especial, foi bem estimulado e hoje caminha bem. A agência reguladora de Cinema, Ancine, através da devida cobrança pelas veiculações publicitárias na tv e cobrança de impostos das empresas de telefonia, por exemplo, somado ao investimento do próprio governo, criou uma engrenagem muito bem organizada e funcional para impulsionar o nicho. A Ancine não só tem linhas de financiamento para a produção, por conta da lei de obrigatoriedade de veiculação de conteúdo nacional nas tv’s pagas, ela também cercou todos os lados frágeis que havia na produção brasileira.
Se falta profissional, ela promove cursos, vídeo conferências, capacitação no Brasil inteiro; se falta dinheiro para a produção, financia; se falta público para conteúdo nacional, conta com a lei da tv paga, pois a formação de público através dela é uma consequência óbvia; se falta cinema, também tem uma linha de financiamento de salas de exibição, entre muitas outras ações: enviar filmes brasileiros para festivais no exterior, estimular co-produções com outros países. A Ancine é um exemplo de compromisso e de que é possível realizar quando se tem interesse.
T.S. E em Alagoas?
M.V. Em Alagoas, temos dois editais de audiovisual, um do Estado e um do município de Maceió e a produção, embora ainda esteja longe do que é capaz, está estimulada. Muitos colegas cineastas, roteiristas, produtores, diretores de arte, estão produzindo seus trabalhos (financiados ou como podem. Eu, inclusive) e muitos são premiados em festivais, Brasil afora. O que falta em Alagoas é uma maior atenção à arte e à cultura. E nisso não se mexe se não mexer também na Educação. É aquele velho problema de sempre. Precisamos prioritariamente de uma lei de incentivo à Cultura, pois Alagoas é o único estado da federação sem essa lei. Constrangedor! Precisamos de um compromisso do governo do estado nesse sentido, de dar uma atenção maior à cultura, às artes, à nossa identidade, desde entregar a pasta a um gestor público responsável e capaz para tal, com ficha limpa inclusive, até parar de tratar a cultura sem nenhum tipo de prioridade.
A lei de incentivo à cultura, por exemplo, prevê a constância de editais, garante a destinação de uma porcentagem da arrecadação estadual para esse fim e estimula a iniciativa privada a apoiar, acabando com a política de balcão que é financiar projetos de uma forma não democrática, escolhendo a dedo quem terá seu projeto financiado. Toda essa cultura de viver da cultura, depois que a coisa for tratada com seriedade, vai estimular os produtores até a participarem das linhas de financiamento nacionais e locais.
A possibilidade de viver da arte, com toda certeza, vai estimular a participação dos produtores, roteiristas, escritores, pintores, já existentes e o aparecimento de outros no mercado. Mas tenho certeza que depois da seleção desses dois projetos alagoanos, muitos colegas (inclusive muitos deles já me disseram) se sentiram estimulados para participar das próximas, porque isso também é uma questão de auto-estima geral. Quando um alagoano ganha, o outro se pergunta: “Por que não eu?” Para quem quer entrar no mundo das artes, só posso dizer que é necessário muita paixão, muito foco, muito ouvido de mercador e couro muito grosso nas costas. No final, se passar por tudo isso sem desistir, é porque deu certo e a arte encruou em você. E para viver dela, além disso tudo, é necessário ser também empreendedor.
T.S. O jornal Tribuna do Sertão agradece pela entrevista.
M.V. Eu fico muito feliz de ter sido convidada pela Tribuna do Sertão para falar sobre essa seleção por vários motivos: por se tratar de um jornal da minha cidade, onde comecei a trabalhar com arte e a produzir na área cultural; por se tratar de um veículo sério, cujos proprietários são meus amigos particulares muito queridos, e pelo fato de você (Lucianna) ter participado do início do meu trabalho na área e agora estar fazendo essa entrevista. Enfim, fico com uma ótima sensação de dever cumprida, de evolução, de ter algum serviço já prestado, e sem esquecer que muito trabalho e dedicação me esperam, não só para efetivar esse projeto, mas para continuar a realizar o que quero e preciso.
São essas pequenezas, que tratam da evolução, e o reconhecimento, que me engrandece, que fazem uma pessoa continuar a jornada. Muito obrigada pela atenção de sempre.
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