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O Diabo também estuda

06/09/2015
O Diabo também estuda

Dr. Fernando Pinto teve educação formal e rígida, família evangélica. Professor por talento e vocação, dedica sua vida ao magistério, ensina em colégios e faculdades. É o decano, o professor mais velho da Universidade, seus sessenta e alguns anos, ralos cabelos brancos, cavanhaque, dão-lhe um ar respeitável, como gosta tê-lo.

Durante todo tempo de militância no ensino, Dr. Fernando jamais aceitou as prevaricações descaradas dos colegas, sempre crítico às aventuras de professores com alunas, como o colega Bernardo chegado a enxerimentos, conquistas e casos com suas pupilas. O sem-vergonha é repreendido por Fernando quando conta casos com jovens alunas.

     Entretanto, o demônio surge sem percebermos, sem desconfiarmos a forma, muitas vezes ele aparece travestido em mulher bonita ou uma simples estudante. O capeta é treloso, sabe das fraquezas humanas. Para testar o nosso emérito e puro professor, o satanás incorporou-se em Genoveva, aluna bonita, cabelos pretos, longos, olhos grandes, amendoados, sobrancelhas cerradas, pele macia, uma perdição, como diz Bernardo.

    Ano passado, perto da formatura da turma, Dr. Fernando notou estranho comportamento em Genoveva, vestes sensuais, muito sorriso, passou a tirar dúvidas da aula com o professor. Fernando, gentilmente, se prontificava, embora sentisse constrangido, apenas os dois na sala de aula. A diaba se achegava perto, vestindo mini-saia, exibindo as pernas e uma borboleta colorida tatuada no calcanhar esquerdo. Aquela tatuagem deixava Dr. Fernando quase afônico, gaguejava nas explicações. A diabinha percebeu a fraqueza do professor, diariamente sentava-se na primeira fila. Durante a aula, Genoveva abria as pernas com classe e sensualidade. O professor percebeu, ela mostrava a calcinha apenas para ele.

       A moça bonita não saía de sua cabeça, sonhava com as pernas, a calcinha branca. A tatuagem fantasia constante. Fazia amor com sua doce esposa pensando em Genoveva.

      Certa vez, após as aulas, a jovem pediu para tirar uma dúvida. O professor esperou os alunos saírem, sentaram-se, ele foi taxativo.

      “ – Genoveva, você sempre foi uma moça comportada, discreta; de um tempo para cá tenho notado mudança em seu comportamento, principalmente seus vestidos, suas saias, suas calças justas. Quero pedir dois favores,  assista às minhas aulas mais composta e sente-se nas últimas bancas.”

          Falou rápido com certo nervosismo esperando alguma resposta da aluna, contudo, ficou sem ação, nocauteado, ao ver Genoveva levantar-se como uma vencedora, caminhar até a porta da sala de aula, trancá-la com chave, retornar sorrindo, abrir o zíper da calça jeans, deixar cair. Dr. Fernando não resistiu quando a moça o abraçou, deitaram-se por trás do birô. Fizeram amor como dois animais, na sagrada sala de aulas.

   Ao terminar, Dr. Fernando sentiu-se culpado, vexado. A aluna cochichou em seu ouvido: “Quero mais amanhã, sei que você não trabalha à tarde, lhe espero na praia da Pajuçara, em frente ao Memorial Teotônio Vilela às três horas”.

          Ele emudeceu olhando Genoveva se afastar, abrir a porta, desaparecer. O sisudo professor passou o resto do dia e a noite pensando naquele pecado. Quando o diabo atenta, difícil enjeitar. Na tarde seguinte, junto ao Memorial, estava Genoveva mais bela que nunca. Levou-a ao motel, ficou louco com as invencionices da “Borboleta”, como ele a apelidou, na cama.

     Todo dia achavam sempre uma maneira de se amarem. Até que certa manhã, depois de dois meses e uma semana de amor, Dr. Fernando ficou surpreso, Genoveva, vestida composta, entrou na sala, mal cumprimentou o professor. Assim continuou até o final do dia, e no outro dia.

    Em momento propício, Fernando tomou coragem, pediu um particular, perguntou o motivo daquele distanciamento, ele estava louco de paixão, querendo amor. Genoveva respondeu com tranquilidade, sem algum remorso.

 -“Não me leve a mal Dr. Fernando, eu desejava experimentar o amor de um coroa experiente. Posso dizer, gostei e ponto final. Vou me casar em maio professor, precisava dessa experiência, meu futuro marido é jovem, bonito, rico, entretanto, eu queria uma aventura descompromissada, escolhi bem, agradeço os ensinamentos, os carinhos. Seus dedos, suas mãos, seus lábios, marcaram meu corpo, momentos deliciosos, entretanto, pretendo ser fiel a meu marido, não vou repetir. Obrigada por tudo, professor, foi maravilhoso”  

     No dia da formatura Dr. Fernando recebeu um formal aperto de mão e um piscar de olho maroto de Genoveva, o diabo também estuda.