Política

Heloísa fala sobre impeachment, golpe e desistência de candidatura

22/08/2015
Heloísa fala sobre impeachment, golpe e desistência de candidatura
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Heloísa Helena desiste de concorrer a mais um mandato na capital

  Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho nasceu em Pão de Açúcar, interior alagoano. Mas foi em Palmeira dos Índios que passou boa parte de sua infância e adolescência, onde fez grandes amizades, preservadas até hoje. Figura importante no cenário da política nacional da política, Heloísa Helena também é enfermeira e professora.

Em 1998 foi eleita senadora por Alagoas, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com a maior votação daquela eleição. Por discordar das políticas do PT, em 2003 deixou o partido, para no ano seguinte, em 2004, ser uma das fundadoras do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), onde continua filiada. Em agosto de 2005 foi agraciada, pelo Governo do Estado de Alagoas, com a Medalha Marechal Floriano Peixoto. Em 20 de setembro de 2005 recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em novembro de 2005, em eleição livre promovida pela revista Forbes Brasil, foi eleita como a mulher mais influente na política e no legislativo Brasileiro. Em dezembro, os profissionais de comunicação, agência de publicidade e leitores da Revista IstoÉ Gente,elegeram Heloísa Helena como Personalidade do ano de 2005.

Em 2006 foi candidata à Presidência da República pela coligação PSOL-PSTU-PCB, conquistando a terceira colocação naquela eleição. Foi eleita vereadora de Maceió em 2008. Em abril de 2010, anunciou que não concorreria ao cargo de presidente da República para concorrer, pela segunda vez, ao Senado Federal. Foi novamente candidata à vereança de Maceió em 2012, sendo a vereadora que mais conquistou votos dos eleitores. Atualmente exercendo mandato de vereadora por Maceió. Em entrevista exclusiva ao Jornal Tribuna do Sertão, Heloísa fala sobre política, amizades e planos para o seu futuro na política.

Tribuna do Sertão (T.S.) Como se deu o seu interesse pela política?

Heloísa Helena (H.H.) Apesar da minha militância nos movimentos sociais e da minha formação ideológica, nunca tinha feito planos ou estabelecido metas de vida relacionadas à política institucional, candidaturas, etc. Nunca, pois sempre trabalhei como Servidora Pública, responsável e disciplinada, e nunca identifiquei na militância política uma profissão, mas uma alternativa de lutas incansáveis em defesa da ética e da justiça social. Aconteceu absolutamente por acaso, diante da ausência de outras pessoas, à época, que estivessem disponíveis para disputar a vice-prefeitura com Ronaldo Lessa, e da mesma forma no mandato de Deputada Estadual e Senadora. A conjuntura acabou promovendo condições que possibilitaram ao eleitorado me identificar num projeto que possibilitasse novos e melhores caminhos pra Alagoas.

T.S.    O que é mais desafiador nessa carreira?

H.H. Para quem se predispõe a ser honesto, a desprezar a roubalheira e o enriquecimento ilícito, a não ser omisso e cúmplice da bandidagem, a ser estudioso e disciplinado no cotidiano do trabalho; a estar nas instâncias de decisão política como mecanismo de disputar ideias no imaginário popular e construir políticas públicas que possibilitem melhorias objetivas no cotidiano da vida concreta das pessoas, sinceramente significa muitas e muitas angústias cotidianas. A vergonhosa impunidade, possibilitada pela maioria eleitoral nas urnas, tem criado na política um perfeito ambiente pra quem comercializa consciências e usufrui das mais diversas e podres formas de bandidagem. Quem é honesto, independente da concepção ideológica com a qual se identifica, tem realmente que participar, pois a cada dia mais modernos currais eleitorais são consolidados para quem faz da política um meio pra bandidagem, roubalheira e impunidade.

T.S. A senhora, atualmente, está no PSOL, mas pensa em deixar o partido para se filiar ao Rede Sustentabilidade. A senhora acredita que desta vez o partido vai conseguir um número de assinaturas suficiente para obter o registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)?

H. H. Tenho grandes e honrados amigos por onde passei, inclusive no PT, e também inimigos implacáveis, pois sabem que não tenho preço e não aceito mordaça. Embora seja fundadora do PSOL, tivemos uma profunda divergência na questão do aborto, pois a maioria partidária aprovou uma Resolução no II Congresso, impondo o apoio à legalização do aborto, o que constitui, para mim, ponto inegociável, pois tenho posição contrária. Assim sendo, as contendas começaram e se ampliaram bastante quando o partido decidiu apoiar Dilma no segundo turno e impedir apoio à Marina no processo de legalização da Rede. Como as ideias que defendo e a consciência ética têm muito mais importância para mim do que as estruturas formais, seja partido ou cargos políticos, resolvemos pactuar democraticamente a minha desfiliação para que eu pudesse ajudar Marina Silva. Aliás, da mesma forma que ela fez quando tentávamos legalizar o PSOL. Tomara desta vez consigamos, pois tudo que manda a legislação vigente já foi devidamente cumprido pela Rede

T.S. A senhora vai se concorrer a algum cargo político nas eleições de 2016?

H.H.  Já tinha convicção formada que o exercício de dois mandatos em cada instância legislativa, são suficientes para a contribuição social e sempre considerei inadequado o contrário. Óbvio que existem pessoas que num único mandato são carreiristas e corruptos, da mesma forma que existem outros que independente do número de participação eleitoral são verdadeiramente invencíveis do ponto de vista ético. Mas mesmo assim, prefiro delimitar e não concorrerei em 2016. Claro que a omissão e cumplicidade de muitos eleitores com o que de pior e mais repugnante existe no banditismo político influenciam bastante o afastamento dos dignos da militância política, mas não deve ser o definidor. Como diz na Bíblia, em Timóteo, “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Em 2018 posso até recomeçar e disputar a eleição novamente, até pra evitar muita comemoração na pocilga política pela minha ausência, né?

T.S. Há uma campanha pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff. A senhora é a favor? O que pode mudar no Brasil, caso ela realmente deixe a presidência do país?

H.H. Sei que existem muitos oportunistas levantando essa bandeira e sei que existem muitos corruptos bradando o contrário, afinal toda generalização é desonesta intelectualmente e perversa, mas do ponto de vista do arcabouço jurídico e dos crimes contra a administração pública identificados, já poderia ser aberto processo de crime de responsabilidade sim. Processo que culminaria, ou não, com cassação de mandatos, seja da presidente ou de vários parlamentares, incluindo alagoanos, claro. O problema no país é que posições e argumentos dependem do alvo, seja FHC ou Lula/Dilma, impeachment ou golpismo passam a ser palavras alardeadas conforme interesses eleitoreiros e não como mecanismos honestos de avaliação dos indícios e fatos. Mas um dia muda né? Não é possível que a maioria eleitoral continue sendo covardemente omissa ou vergonhosamente cúmplice deste tipo de bandidagem.

T.S. Vereadora, a senhora não nasceu em Palmeira dos Índios, mas todos a consideram cidadã palmeirense. O que isso significa e o que a cidade representa para a senhora?

H.H. Amo essa cidade, afinal minha infância e adolescência foram vivenciadas, em profundas tristezas ou maravilhosas alegrias, no cotidiano dela. Meu maior incentivo à leitura foi o meu irmão Hélio, na biblioteca Graciliano Ramos, minha formação espiritual e educacional tem profundas raízes na cidade, minhas preciosas amizades conservadas até hoje. Muito do que sou reflete a cidade, com certeza. Maceió foi a cidade que generosamente primeiro me acolheu politicamente, Palmeira foi a cidade que me adotou, amorosamente, como filha, que nasceu em Pão de Açúcar e de coração sertanejo da caatinga de Poço Branco (risos). Sem falar de outras cidades que também morei.