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Júlio Uçá: de Palmeira dos Índios para o mundo

26/07/2015
Júlio Uçá: de Palmeira dos Índios para o mundo
Cantor e compositor alagoano Júlio Uçá (Foto: Arquivo pessoal)

Cantor e compositor alagoano Júlio Uçá (Foto: Arquivo pessoal)

Tudo começou na igreja. Júlio Uçá aprendeu a tocar as primeiras notas no violão quando tinha 15 anos, e integrava um grupo da Renovação Carismática da igreja católica, em Palmeira dos Índios, cidade onde nasceu. Quando fez 17 anos foi estudar em Maceió. E foi lá que começou a ter mais ‘intimidade’com a música.
Logo depois que se formou no curso de Hotelaria, surgiu a oportunidade de participar de uma das edições do Festival de Música do Sesc (Femusesc) e mostrar aos alagoanos um novo talento que surgia. Tendo como referência os músicos Zeca Baleiro, Adriana Calcanhoto e Chico César, entre outros, a MPB contemporânea de Júlio Uçá conquistou o público. “Eu já compunha algumas coisas e decidi inscrever a canção ‘Moreninha’, de minha autoria. Não tinha pretensão de ser o vencedor, mas via aquilo como uma chance de mostrar a minha música”, afirmou.
Mesmo sem a pretensão de ser um dos vencedores, ele chegou um pouco mais distante do que imaginava. “Fiquei entre os finalistas e foi uma surpresa muito boa. Não esperava tudo aquilo. Por causa desse resultado, participei de outros grandes festivais em Alagoas, e também em outros estados”, completou o músico.
Entre os festivais que Júlio participou estão o Projeto Jaraguá Cultura e Negócios, em Maceió, Feira da Música, realizada em Fortaleza, Circulação Sesc Música Alagoana, Misa Acústico (Maceió) e finalmente, o Femusesc 2008 (Maceió), quando foi o grande vencedor, na categoria melhor música, com a canção ‘Cabelo de Mola’. “Foi uma emoção muito grande. Eu já tocava essa música nos barzinhos onde me apresentava, na época, e tinha uma repercussão muito boa. E foi por causa desse ‘feedback’ que eu inscrevi a música. No dia do festival foi emocionante. Tinha uma multidão, apesar de chover bastante, e muita gente já sabia a letra da canção. Todo mundo cantando. Concorri ao lado de grandes nomes da música alagoana e foi uma honra ganhar esse festival. Depois disso, apresentei ‘Cabelo de Mola’no Festival (Femucic) de Maringá”, disse ele.
Outra grande conquista de Júlio foi a participação do concurso ‘Novo Cantor’, da cantora Preta Gil, onde apenas uma música seria selecionada para fazer parte do projeto. Foram dois mil inscritos, e mais uma vez, a personalidade musical do compositor mereceu destaque. “Eu fiquei em quarto lugar com a música ‘Descolorar’. A música não foi escolhida, mas para mim é como se tivesse sido. Foi outra alegria”, comentou o músico, entre risos.

Estrada

Júlio Uçá também levou sua música aos palcos dos estados de Minas Gerais e de São Paulo. “Passei uma temporada morando nesses dois estados, mas posso dizer que hoje toco mais em São Paulo, morando em Maceió, do que quando estava lá. Quando voltei para Alagoas fiquei centrado na gravação do meu primeiro trabalho, totalmente autoral”, ressaltou.
No ano passado, seu primeiro disco ‘Cabelo de Mola’, foi lançado nas plataformas digitais. O trabalho, com 11 músicas próprias, abrange temas variados, como o amor presente no cotidiano e no imaginário, que convida a pensar em cenários com forte apelo ao pop, foi produzido junto com o cantor e compositor alagoano Raffa Honorato, falecido em agosto do ano passado. “Gravamos o disco todo na casa do Raffa, em Guaxuma. Posso dizer que o Raffa cuidou muito mais do meu disco do que do dele mesmo. Ele faz uma falta enorme, tanto pela amizade que tínhamos, como pelo talento. Ele chegou a ver o disco lançado nesse formato, digital, que ficou muito bacana. Ainda não fiz o show de lançamento para o público, mas ainda este ano pretendo fazê-lo. O ano passado foi muito corrido. Tive minha música ‘Carnaval de Rua’ selecionada para fazer parte de um CD da Copa do Mundo, que fazia referência aos lugares onde os jogos aconteceriam. E fui apresentá-la em Recife. Eu já tinha lançado essa música no Carnaval de Olinda, quando toquei lá, em 2012, e ela foi muito bem aceita pelos pernambucanos”, ressaltou.

Europa

A partir do lançamento da música ‘Carnaval de Rua’, que se tornou mundialmente conhecida, Júlio Uçá deu outro grande passo em sua carreira e para seu curriculum musical. Ele foi convidado para representar Alagoas, e o Brasil, no Azores Fringe, em Açores (Portugal). Os shows aconteceram, ainda, em Porto (Portugal) e Bruxelas (Bélgica).
Segundo ele, a sensação de tocar fora do País foi extremamente gratificante. O artista foi acolhido de maneira cordial pelo público seleto, que o acompanhou durante todas as apresentações, nos lugares por onde passou. “Sair de tão longe e ter uma recepção tão cortês foi maravilhoso. Eram idosos, jovens e crianças que prestavam atenção em cada nota, cada acorde. Isso, para o músico, é sensacional. Sou do Nordeste, sou de Palmeira e carrego comigo as raízes da minha cultura palmeirense e também as influências do coco de roda de Jacinto Silva, meu conterrâneo. Os europeus são meio tímidos, centrados. Mas consegui fazer todo mundo dançar”, garantiu o Júlio Uçá.

Projetos

Enquanto não lança o disco ‘Cabelo de Mola’ para o público, Júlio continua a se apresentar nas casas noturnas de Alagoas, e de outros estados, e também se dedica a um projeto paralelo, chamado ‘Seu Jujuba’, voltado para o público infantil. São canções da MPB, com arranjos diferenciados para as crianças. O repertório vai da Galinha Pintadinha a Vinícius de Moraes. “Estou muito feliz e ansioso para colocar esse projeto logo em prática, principalmente agora, que também tenho o meu filho, o Bento, que acabou de completar um aninho, e sei que ele vai gostar. Vivo de música, faço muita coisa corporativa, faço gravações em casa, com equipamentos próprios. Sou esperançoso de que um dia eu consiga viver apenas do meu trabalho autoral, mas se isso não acontecer não vou me frustrar. Vou continuar mostrando meu trabalho na noite e dando seguimento aos meus projetos, com muita dedicação e amor. E como disse Fernando Pessoa, em um dos seus personagens fictícios, ‘Da mais alta janela da minha casa, com um lenço branco, digo adeus aos meus versos que partem para a humanidade’”, finalizou.