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Os dois tenentes

31/05/2015
Os dois tenentes

O Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva –NPOR– do 20º Batalhão de Caçadores, hoje 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, é celeiro de muitos oficiais da reserva do Exército Brasileiro.
Anos atrás, dois tenentes formados pelo NPOR foram estagiar seis meses no 14º Regimento de Infantaria sediado em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Os tenentes Cavalcanti e Tenório se apresentaram ao comando com ardor e amor à Pátria. Em tempo integral no quartel, dormiam no quarto de oficiais. Bons militares, aprendiam as lições, o trabalho do Regimento. Entretanto, nem tudo era ralação, davam bordejos e paqueradas pela vizinhança, pegavam o trem em busca dos cabarés do Recife.
Numa dessas viagens de trem eles conheceram Marília e Virgínia. Achado do destino, as duas paraibanas trabalhavam em uma fábrica naquela região, moravam juntas numa casa em Tejipió, perto do 14º R.I. Eram mulheres livres, independentes, coisa raríssima naquela época. Com uma semana de namoro os dois tenentes estavam dentro da pequena casa das operárias. Entendiam-se às maravilhas, nos passeios, nas conversas, na cerveja e na cama, havia um probleminha, as idéias socialistas das operárias chocavam com o pensamento conservador dos militares.
Tenente Cavalcanti encantou-se com a beleza de Virgínia, loura, olhos cinzas, serena na conversa e no amor. Depois de algum tempo, ao ouvir os gritos de euforia sexual, os altos gemidos de Marília, ele ficou com inveja do amigo. Tenório confidenciou, nunca havia conhecido mulher como aquela, gostava do amor, melhor de cama não existia, só parava de gritar na apoteose, ele tinha que dar duas tapinhas na cara. Ele ficou inebriado com tantas formas de amor inventadas pela namorada.
Passaram cinco meses, inesquecíveis tardes e noites de amor na pequena casa das operárias de Tejipió.
Terminado o estágio, retornaram a Maceió. Despedida com choro, sexo e cerveja, a casinha de Tejipió tremeu naquela noitada com o trabalho dos quatro amantes.
Três semanas depois da despedida, no 20º BC, Cavalcanti recebeu carta de Virgínia, final de semana as duas estariam em Maceió para matar saudade. Quando Tenório soube, entrou em pânico, noivo, se casaria no próximo mês, se o vissem com Marília, a noiva ciumentíssima não perdoaria. Pediu ao amigo dar desculpas, cooperava financeiramente com as despesas, contudo as deixassem longe de sua área. Cavalcanti também era noivo em Major Isidoro, pequena e bonita cidade do sertão alagoano, mandou recado, não viajaria no fim-de-semana por obrigações militares. Fardado, foi esperar as operárias na Rodoviária na noite da sexta-feira.
Saltaram do ônibus, Virgínia se enlaçou com o namorado, beijando-lhe a boca. Marília, decepcionada, ficou triste sem a recepção esperada, sem seu Tenente. Hospedaram-se do Hotel Pimenta, centro da cidade. Marília, boa colega, inventou dar uma volta a pé nos arredores, dando liberdade para o casal se amar no pequeno quarto do hotel.
No sábado passearam, navegaram na lancha do horário na Lagoa Mundaú. Domingo à tarde, depois da praia, foram ao Cinearte. Cavalcanti combinou com Marília esperar Tenório no hotel, ele apareceria, certeza. Quando o filme, “Suplício de uma Saudade”, estava no início, Cavalcanti reclamou de forte dor de barriga, pediu licença à namorada, levantou-se, voltaria em poucos minutos. Correu ao Hotel Pimenta, bateu no quarto. Marília ao abrir a porta não conseguiu falar, ele abraçou a morena, ela não resistiu. Cavalcanti pedia, grita meu amor, ela obedecia. Amaram-se aos gritos, finalmente um urro canino, seguido de duas tapinhas. Cavalcanti fumou um cigarro, retornou correndo para o cinema, sentou-se ao lado da desconfiada Virgínia.
Depois do filme, no quarto do hotel, Virgínia percebeu uma carteira de cigarros continental, sem filtro, em cima da cabeceira. Muito viva, descobriu a traição do namorado e da amiga. Arrumou a mala, partiu para a Rodoviária. Marília, havia entrada em férias, passou mais três semana e meia de amor com o namorado substituto. Os hóspedes do Hotel Pimenta se acostumaram com os gritos de amor da quente paraibana e do ardiloso tenente.