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Um gigante ferido
Quem passa pela frente do Colégio de Aplicação da UERJ, na rua Santa Alexandrina, não pensa se tratar de uma escola de renome, que já foi uma das principais do Rio de Janeiro. Totalmente grafitada, com uma aparência descuidada, exibe no rosto as marcas de um quase abandono. Vive o seu pior momento, depois de ter obtido as melhores notas do Enem no ano passado.
Os problemas são variados: déficit de professores, ano letivo atrasado para os alunos do 6o ao 9o ano, casa de máquinas sucateada, provocando ameaça de incêndio, salários atrasados. Isso tudo em consequência da crise financeira da sua matriz, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que não recebe recursos que lhe são devidos pelo Governo. Uma vergonha, sem dúvida.
Como um dos fundadores do Cap-UERJ, há 58 anos, isso tudo me entristece profundamente. Lembro dos primeiros tempos dessa escola-modelo. Presidente do Diretório Acadêmico La-Fayette Cortes, ainda quando existia a Universidade do Distrito Federal (década de 50), participava do Conselho Técnico-Administrativo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Antes de terminar as reuniões quinzenais, o diretor Ney Cidade Palmeiro invariavelmente me convidava para falar. E o tema era sempre o mesmo: “Lembro aos ilustres conselheiros que o Regimento da FFCL estabelece que devemos ter um colégio de aplicação para treinamento dos alunos.” Fazia-se silêncio.
Até que, um dia, o prof. Ney, com o seu vozeirão gaúcho, me surpreendeu: “Quero informar ao representante dos alunos que, hoje, será criado pelo CTA o tão sonhado Colégio de Aplicação. Pode dar a boa notícia aos seus colegas.” Foi uma alegria só. Logo depois, o diretor nomeou o meu amigo Wilson Choeri para a direção da escola e determinou que as suas instalações fossem estabelecidas no Pavilhão Ney Cidade Palmeiro, construído na rua do Bispo 334.
Ao lado de Choeri e Fernando Sgarbi Lima, vice-diretor, ajudei a povoar a escola dos mestres necessários. Na Matemática, que era a minha área, foram nomeados os excelentes professores Hélio Barros de Aguiar e Moysés Scheinkman. Fiquei com a responsabilidade de lecionar Desenho Geométrico. Foi um prazer imenso dar as primeiras aulas dessa matéria. Para que isso acontecesse, deixava de almoçar, pois tinha compromissos profissionais com a revista Manchete Esportiva e só assim poderia cumprir a dupla jornada.
Com o tempo, resolveu-se homenagear o vice-diretor da FFCL. O Cap passou a chamar-se “Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira”, com o qual alcançou a consagração. Com bons laboratórios e uma biblioteca adequada, agregou ao seu quadro de grandes professores o indispensável tempo integral. Além disso, jamais admitiu que os seus alunos fossem escolhidos por proteção (pistolão) ou qualquer critério menos nobre. Os interessados, sempre em número crescente, eram submetidos ao democrático critério de sorteio – e assim se garantiu a necessária impessoalidade. Fez-se uma ótima escola. Espera-se que o Governo do Estado não acabe com ela.
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