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Secas na história

23/04/2015
Secas na história

Com os pingos e respingos das poucas chuvas caídas no sertão, vou fazendo a tinta para escrever sua história, que se mistura com a do homem, porque ou o homem aprende a conviver com a seca, ou ela mata o homem, trata-se de uma história assinalada pelas grandes secas e prolongadas estiagens, que impiedosamente, têm tangido o sertanejo de sua terra natal.

O problema maior do sertão é a falta d’água, haja vista as poucas chuvas caídas desde 2012, até agora, não foram suficientes para armazenar água necessária nos reservatórios, necessariamente para o consumo, e muito menos para criar a lavoura, mesmo de subsistência. Não fosse, pois, um programa federal dos carros pipas, a situação estava mais grave, porém, a água dos caminhões atenua a seca, mas não cria lavoura, e o ser humano carece de alimento, e este é gerado da terra com a chuva, e esta tem sido insuficiente para produzir.

A redenção do sertão é o rio São Francisco, e este estão morrendo pelas ações do governo, e quando o propalado canal do sertão estiver pronto e funcionando, aí o pouco da água que resta, será dividida e ele não suportará. Sua vasão vem sendo reduzida constantemente, enquanto isto, silenciosamente, o rio vai morrendo, suas matas ciliares estão desaparecendo, os assoreamentos são vistos em todo seu curso, tornando incapaz sua navegação, e consequentemente o peixamento está desaparecendo, gerando ao pescador, uma renda bem menor.

A transposição das águas do rio São Francisco se constitui o antídoto de sua morte, porque o rio carece com urgência é de revitalização, a bola não pode ser maior do que o coco, como tão bem escreveu o poeta Colly Flores, significando que, o conteúdo não pode ser maior que o invólucro. Precisa-se encher o rio aumentando sua vasão, para depois se usufruir dele. As secas periódicas que assinalam a história estão registradas e deram bons livros a exemplo da de 1915, que serviu de inspiração para Rachel de Queiroz escrever seu primeiro livro intitulado O quinze, onde seus personagens fogem da seca alarmados com tamanha catástrofe, A bagaceira, escrita por José Américo de Almeida, Vidas secas, de Graciliano Ramos onde Fabiano corria com medo do sol, que provocava a seca, e ele ia na frente dele e tantos outros escritores que seguiram a mesma temática, o canto imortal de Patativa do Assaré, na Triste partida e Vozes da seca, imortalizadas pelo Gonzagão tudo isto não sensibilizou os poderes maiores que ainda deixa o sertanejo sofrer as agruras de uma seca implacável, sendo tangido pelas intempéries da natureza em secas sem precedentes os anos passados e enganchados um no outro vem se atrelando em 2015, e se isto se consumar, aí sim “o Cancão vai piar” no dizer do sertanejo. Faz-se comitês, simpósios, reuniões e tudo mais tendo como tema a água, porém o que se precisa fazer é dar um basta na transposição, e se criar de imediatos comitês ativos sobre a revitalização, porque projetos de cima para baixo não funcionam, ou elaborados em frios e luxuosos gabinetes sem ter o calor gerado pelo clamor do sertanejo, que vive e vivencia as agruras numa terra sem assistência.