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Tio Hugo

19/04/2015
Tio Hugo

Hugo sempre foi mulherengo. Deixou de fumar, de beber, de jogar, entretanto, mulher continua seu vício, prioritário. De São João Del Rey, sua terra natal (foi íntimo de Tancredo Neves), telefonou-me pedindo algumas informações sobre apartamento em Maceió. Não sei seu estado conjugal hoje, sei que casou-se, tem filhos e netos. Disse-me apenas que tinha “aloprado” em casa, vinha para Maceió passar algum tempo.
Depois de quatro meses encontrei-o, surpreso em saber que permanecia na cidade. Alugou pequeno apartamento na praia de Pajuçara, passa a vida lendo, assistindo televisão, andando na orla, namorando, seu esporte predileto. Comprou um computador, conversa com o mundo.
Emagreceu oito quilos, aparência saudável. Devido à velha amizade retornamos a nos ver, almoçamos juntos quinzenalmente. Contou-me sua vida, amando a terra, as mulheres, sempre mulheres.
Certo sábado ele foi ouvir chorinho e músicas bonitas numa casa de dança. Diz, ser um templo das descoladas bonitas, sem compromisso. Só sai solteiro quem quer. Hugo adorou o ambiente, arranjou algumas paqueras. Certa noite conheceu Josete, bela morena quarentona, corpo bem recheado, não perdeu a sensualidade apesar das cachaças que toma. Ela tem esse problema, alcoólatra. Hugo se engraçou de Josete, dançaram, paqueraram, final de noite, levou-a para o apartamento. Passaram uma noitada maravilhosa, muito sexo, muito uísque na cabeça de Josete. Hugo recusou quando Josete ofereceu um cigarro de maconha. Dava gargalhadas, euforia provocada pelo “canabis”. Nosso amigo abstêmio, nunca censurou a namorada.
O casal estava se dando bem apesar dos porres de Josete, passaram um mês em pleno amor. Viajaram para o Recife, Fortaleza. Josete trabalha na Secretaria da Educação, tem um cargo arranjado por um primo deputado. Casou-se uma vez, não deu certo, não tem filhos, mulher sem compromisso. Seu único problema é cachaça, o vício, a droga. Durante uma noitada de amor, Josete bebeu muito, fumou maconha, cheirou cocaína. Nunca Hugo tinha visto a namorada igual àquela noite. Ela pedia todas posições do Kama Sutra. Nosso herói teve que apelar para a valorosa azuladinha para satisfazer sua parceira bêbada, ninfômana. Certo momento, num intervalo, abraçados, ela girou a cabeça, fitou os olhos pra Hugo, perguntou.
– “Como é mesmo o seu nome?”
Deu-lhe uma tristeza, nosso amigo se desgrudou, repeliu Josete. De porre ela caiu desmaiada na cama. Dia seguinte pela manhã, Hugo contou o ocorrido, Josete nada lembrava. Acabou-se o encantamento, ele terminou, se sentiu magoado, não perdoou, achou uma falta de respeito a si mesma e a ele, mesmo bêbada, não lembrar do nome do homem com quem fazia amor. Josete tentou voltar, ele intransigente, é homem de princípios.
Entretanto, a cata às mulheres continuou. Certo dia o ar-condicionado do seu quarto amanheceu quebrado, não prestava para conserto. Nos classificados escolheu um anúncio de um seminovo, telefonou e foi vê-lo em Rio Largo. Negociou com o proprietário. Levava numa condição, só pagaria depois do aparelho funcionar no mínimo uma hora no seu apartamento. O cidadão aceitou a condição, pediu para a filha acompanhar Hugo, testar o ar, e receber o dinheiro.
Colocaram o aparelho na mala do carro. Lourdinha, a filha, entrou, sentou-se. Morena, pequena estatura, short no joelho, sandália japonesa, ar de moleca falou.- “Vamos embora, rapaz. Tenho ainda que voltar com o dinheiro do meu pai”. Hugo se encantou com a juventude daquela moça, conversa descontraída, simpática. Divertiram-se durante o percurso. Alegrou-se quando ela confessou ter 20 anos, ele pensava ser menor idade.
Ela contou, estuda à noite, curso de enfermagem. Os dois levaram o ar-condicionado para o quarto, conseguiram com dificuldade colocá-lo no buraco, ligaram esperando uma hora. Sentada no sofá Lourdinha sorria, olhava Hugo, se achegava. Ele não resistiu deu-lhe um beijo, se abraçaram, se beijaram, se amaram no friozinho, durante a hora de teste do ar-condicionado.
Lourdinha, agora, dorme duas, três noites por semana no apartamento, faz faxina, faz jantar, e muito amor com seu coroa. Estão de cama e mesa. Hugo rejuvenesceu, está feliz ao lado de sua “Lolita”, moleca, sapeca. Em Rio Largo, os amigos de Lourdinha chamam seu namorado de Tio Hugo.