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Janela indiscreta

12/04/2015
Janela indiscreta

Josemar morou a vida toda no bairro da Pitanguinha, aonde nasceu. Os filhos, a esposa, pressionaram a se mudar para orla.
Devido aos tempos modernos, aos apelos da família, Josemar comprou um apartamento na praia de Ponta Verde. Trocou a casa confortável de 400 m², enorme jardim, rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira, por um apartamento de três quartos. O casal se instalou numa suíte, um filho, divorciado, em outra, um quarto foi transformado em gabinete. Colocou bureau, computador para trabalhar, escrever. Josemar se aposentou do Exército Brasileiro, serviu mais de 35 anos pelos recantos do Brasil, sempre comum pé em Maceió.
Hoje tem a vida que pediu a Deus. Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, olhando biquínis e saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Preenche as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. Depois do Jornal Nacional, Josemar recolhe-se ao escritório, abre o computador, pesquisa, lê jornais, envia e-mails e escreve, cismou de escrever um livro narrando passagens de sua vida militar. De sua confortável cadeira em frente ao computador, tem ampla visão sobre os apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama desde sua janela indiscreta. Aprendeu no Exército, observar é ver sem ser visto.
Numa janela descobriu uma jovem, chega em torno das 23 horas, ele espiando atentamente, enquanto sua querida Helena, a esposa, dorme o terceiro sono. A moça é um encanto, estatura baixa, cabelos louros escorridos até o ombro, corpo perfeito, seios duros, pontiagudos, cintura fina, delirante região glútea bem torneada e protuberante.
A jovem tira a roupa devagar, se enrola numa toalha, vai ao banho noturno. Ao sair do banheiro, abre a toalha, nuínha como Deus a fez, veste uma minúscula lingerie, deita-se ouvindo rádio, lê até pegar no sono. Josemar, excitado, antes de dormir acorda sua amada Helena para o descarrego.
Certa noite, Josemar pegou o carro, foi às compras no Super mercado. Ao longe, no ponto de ônibus, reconheceu a jovem em pé, com livros abraçados ao peito. Ao cruzarem os olhos, ela sorriu, Josemar freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a mini saia mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade no Farol. Josemar mentiu, também ia para o Farol. Conversaram amenidades, entretanto, o coração do jovem coroa estava disparado feito um menino. Chegaram à Faculdade.
Naquela noite Josemar ficou esperando ansioso a chegada de sua musa da janela. Compensou a espera, a menina ao chegar, tirou a roupa bem devagar, coisa que nem uma strip profissional faz com tanta sensualidade. Mais tarde sobrou para Helena.
Na noite seguinte, à mesma hora, Josemar passou com o carro, frustrou-se, não a encontrou. Na outra noite, se emocionou quando a viu no ponto de ônibus. Freou o carro, ela entrou, mais bonita. Vilma, assim se chama, 21 anos, faz Faculdade de Direito, mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, vive com o pai, um sacrificado, explorado pelo patrão, levam uma vida de parcimônia. Em certo momento ela foi direta, sem dó, olhando Josemar dirigir o carro.
– Eu acho que você está me paquerando. Não é? Pensa que não percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.
Josemar surpreendeu-se, tentou se acalmar virou o rosto, encarou-a, e deu um largo sorriso.
– Menina, você é danadinha hein?
– Danadinha ou danadona, vou lhe fazer uma proposta indecente. Transo com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde, às 10 horas, depois de minha última aula. Estou lhe esperando nessa esquina.
Josemar, emocionado, parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás.
O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa naquela noite. Antes da nove horas ele arriscou para a esposa.
– Helena, está passando um filme imperdível no Cinema de Arte. Topa?
Ficou esperando a resposta. A mulher estava sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho.
Quando deu 10 horas da noite Vilma se aproximou do local, ele estava plantado. No motel quase teve um infarto quando saiu do banheiro ao deparar com a bela jovem, deitada na cama, preparada para o amor.
O aposentado Josemar está com mais despesa no orçamento. Entretanto, feliz da vida, espera as tardes das quartas-feiras para ter nos braços a jovem acadêmica de advocacia. Toda a noite não se cansa em vê-la, fica observando ao longe pela janela indiscreta. Enquanto Helena adora ser acordada para o descarrego.