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Vamos evitar a batota

24/03/2015

No mundo lusófono, à exceção do Brasil, continua acesa a discussão em torno da aplicação do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Enquanto aqui as coisas amainaram, em Portugal há um grupo de escritores insistindo na tese de que queremos o Acordo para exercer sobre os demais países uma forma inaceitável de neocolonialismo cultural. Foram longe em demasia.
No “Jornal de Angola”, houve um bem escrito editorial sobre a matéria. Afirmava que a língua portuguesa é patrimônio de todos os povos que a falam e toca num ponto interessante: “Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a língua portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil de Portugal ou de Angola.” O importante é que todos respeitem as diferenças e que não se transacione com os afetos que a língua veicula. Que sejam respeitadas as especificidades de cada povo, partindo do princípio de que somos falantes de uma língua que tem o latim como matriz.
Até aí estamos todos de acordo. O que se visou, com o Acordo de 1990, foi obter uma simplificação (modesta, pois não atinge 3% da totalidade dos vocábulos) para permitir que o português fosse adotado na ONU como língua oficial, um velho pleito dos nossos diplomatas e acadêmicos.
Isso não ofende o direito sagrado dos que sabem menos de serem ajudados a saber mais. É o grande papel da educação, em que estamos todos empenhados. O “Jornal de Angola” é veemente: “Nunca descer ao seu nível. Porque é batota!”
Antes de prosseguir, fomos buscar no Houaiss o significado desta última palavra: fraude ou qualquer forma de trapaça. Não vemos, sinceramente, nos que lutam por uma língua única qualquer sentido menos nobre, muito menos gabolice, como pode ser também uma interpretação da palavra batota.
Citamos novamente o periódico, na referência ao escritor Dario Fo, Prêmio Nobel de Literatura: “O patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário! O que importa é escrever corretamente a nossa língua, deixando que cada povo fale como é seu costume. O que fizemos, na Academia Brasileira de Letras, ao estudar o assunto, foi preservar o étimo latino e respeitar as diferenças. Não se procurou abafar a originalidade de qualquer dos povos concernentes, nem muito menos associar os estudos acadêmicos, sob a liderança do insuspeito e competente filólogo Antonio Houaiss, a qualquer interesse menor pelo comércio das palavras. Seria essa uma visão reducionista e mesquinha, totalmente improvável pelo nível das pessoas envolvidas no projeto.