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Mais velho diretor de cinema em atividade do mundo, Manoel de Oliveira chega aos 106 anos

11/12/2014
Mais velho diretor de cinema em atividade do mundo, Manoel de Oliveira chega aos 106 anos
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Manoel de Oliveira completa 106 anos em 2014

    “Quanto mais idade tem, mais o cinema é a vida dele”. Assim Adelaide Maria de Oliveira Trêpa define o pai, o português Manoel de Oliveira. Cultuado no Brasil e na Europa e vencedor dos maiores prêmios internacionais do cinema, ele é o mais velho diretor em atividade no mundo e completa, nesta quinta-feira (11/12), 106 anos.
Nascido em uma família abastada na cidade do Porto, em 1908, Oliveira é filho de um casal de industriais. Na década de 1920, passou a dedicar-se à carreira cinematográfica, e estreou nas telas ainda no cinema mudo, com o documentário “Douro, Faina Fluvial” (1931). Desde então, acumulou mais de 60 produções, entre longas, curtas e documentários.
Na última década, a idade não tem sido um impeditivo para seu trabalho. Pelo contrário. “Cada vez ele está mais perto do cinema. Nas conversas, nos interesses, tudo é o cinema. Ele traz uma centelha diferente na maneira de olhar a vida e a arte”, diz Adelaide.
O média-metragem “O Velho do Restelo”, uma reflexão sobre a história de Portugal por meio de textos de Luís de Camões ou Miguel de Cervantes, e o curta “Chafariz das Virtudes” são as mais recentes obras do diretor, que estrearam este ano em festivais. Porém, a dificuldade de financiamento quase impediu a realização do primeiro.
Nunca foi um sucesso de bilheteria, mas é considerado um dos diretores europeus mais conceituados dos últimos 50 anos. Prêmios em Berlim, Locarno, Veneza ou Cannes endossam uma carreira reconhecida no exterior, mas cujas obras são pouco vistas em seu próprio país.
O estilo pausado e reflexivo, com densas referências culturais, cativou estrelas como John Malkovich, Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni, que trabalharam com o “mestre”. Oliveira é um confesso admirador da atriz Fernanda Montenegro, e há alguns anos expressou publicamente o desejo de trabalhar com ela – algo que ainda não aconteceu.
Segundo o crítico José de Matos-Cruz, a vasta obra do português revela duas perspectivas: a cultural, refletida nos valores da tradição e do imaginário lusitano – como a ideia de um Quinto Império, que, ,aliás dá nome a um de seus filmes – e a histórica, que tenta preservar a memória do século XX.
O diretor, que também assina o argumento e o roteiro de seus filmes, mantém diálogo com a literatura. “Aniki-Bobó” (1941), seu primeiro longa-metragem, é baseado em um conto de João Rodrigues de Freitas e trata de dois meninos apaixonados pela mesma menina. A obra é tida como uma antecipação ao neorrealismo italiano. Após rodar esse filme, Oliveira ficou quase 14 anos longe das telas, coibido pela ditadura salazarista.
Foi a partir de década de 1970 que sua produção disparou, chegando a filmar quase uma obra por ano. Mais tarde, alavancado pelo produtor português Paulo Branco, assinou obras como “Francisca” (1981), “O Convento” (1995) – estrelada pelos hollywoodianos Deneuve e Malkovich – e “Viagem ao princípio do mundo” (1997), protagonizada pelo italiano Mastroianni.
Considerado um humanista de raízes cristãs, os filmes de Oliveira abrangem temas como a filosofia de Nietzsche e a tradição bíblica. “A divina comédia” (1991), “Non, ou a vã glória de mandar” (1990) e “Um filme falado” (2003) são uma amostra dessa vertente.
A produtora e distribuidora portuguesa Midas Filmes homenageará o aniversariante com a estreia em Portugal de “O Velho do Restelo”, além de três filmes relacionados a cidade natal do diretor: “Douro, Faina Fluvial” (1931), “O Pintor e a Cidade” (1956), “Painéis de São Vicente de Fora – Visão Poética” (2010).
Mas, quando Oliveira completou 100 anos, ele já tinha muito claro qual seria o seu melhor presente: “Continuar fazendo filmes”.