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Ivan Junqueira e a poesia moderna
Poeta, tradutor e crítico, posso asseverar que Ivan Junqueira, falecido aos 79 anos de idade, fará muita falta à Academia Brasileira de Letras. Não só pela qualidade da sua produção literária, mas também pela preciosa característica da Casa de Machado de Assis, que é do convívio pleno. Ele era de uma impressionante assiduidade, até mesmo nos momentos em que não queria se render à precariedade da sua saúde.
Quando perguntei à jornalista Cecília Costa, depois de 29 anos de companhia, qual a impressão mais forte que Ivan lhe deixara, a sua resposta emocionada foi pronta, testemunhada pelo presidente Geraldo Holanda Cavalcanti: “Foi a paixão pelos amigos. Ele não tinha meias amizades.”
Foi acadêmico com força total, nos últimos 14 anos, honrando a cadeira nº 37, onde substituiu o poeta João Cabral de Melo Neto. Produziu 13 livros, alguns deles premiados, e todos com muitas edições, como “T.S.Eliot – Poesia” e a clássica e difícil tradução de “As flores do mal”, de Charles Baudelaire, cuja obra de 1857 se considera a fonte da poesia moderna. Apreciava no autor francês a fidelidade à métrica tradicional e a visão mística do universo, onde descobriu misteriosas “correspondências”. Tudo isso tornou ainda mais desafiante a sua tradução, fazendo do trabalho de Ivan algo único na literatura universal.
Como ser humano, Ivan Junqueira era tido como sisudo, fechado, de permanente mau humor. Aos íntimos não deixava essa impressão porque tinha um humor aguçado. Foi muito feliz o amigo Murilo Melo Filho quando lhe entregou o prefácio do excelente livro “Senhores da palavra”, recém lançado, em que estão registrados cerca de 600 episódios, “que ilustram a verve e o pendor humorístico de inúmeros acadêmicos, revelando assim para o público que esses austeros “senhores da da palavra”, também sabem narrar e são mais humanos do que se imagina.”
Na biografia de Ivan consta, com destaque, o período em que foi um dedicado e competente presidente da Academia Brasileira de Letras. Nos anos de 2004 e 2005 revelou-se como administrador, a ele se devendo uma ativação inusitada das conferências, além de uma alentada programação de novos livros, dando vida intensa às nossas diversas coleções. Lembrou, na época o estilo de fazer dos seus tempos de Biblioteca Nacional quando editou a insuperável revista “Poesia Sempre”, entre 1993 e 2002. Era uma referência como publicação de um apurado gosto literário, além da excelência do seu aspecto gráfico.
Ivan Junqueira será sempre lembrado pela sua figura profundamente humana, mas também pelos livros que deixou e os próximos que se encontram nas gráficas. Vem aí uma nova edição do “Testamento de pasárgada”, antologia crítica da obra de Manuel Bandeira, “Reflexos do solo posto”, críticas e análises feitas nos últimos anos e o inédito de poesia intitulado “Essa música”, classificado pelo acadêmico Alfredo Bosi como o “zênite da sua trajetória poética”. O seu nome será para sempre lembrado.
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