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Pedro Suruagy
A gratidão e a amizade foram os sentimentos que mais cultuou. Uma gentileza recebida transformava-se numa dívida perene. Sacrificava tudo o que possuía, expunha a própria vida, em defesa de um amigo. Lembro-me de uma tarde em que reuniu seus filhos e sua esposa, para nos informar que existiam comentários, na cidade, de que a residência de um amigo seria invadida, à noite naquele dia, por pistoleiros, e que ele ia ajudar na defesa da família. Comprou a briga e nos legou um magnífico exemplo de honradez.
Nasceu em Belo Jardim e criou-se em Lajedo, cidades do agreste pernambucano. Dotado de uma coragem pessoal suicida, viu-se, aos dezenove anos, envolvido em conflitos que o obrigaram a viajar para o interior da Paraíba. Vivia-se o início da década de vinte. O Presidente Epitácio Pessoa lançara o programa obras-contra-a-seca. Dezenas de açudes estavam sendo construídos em todo o Nordeste. Frentes de trabalho eram abertas. Milhares de pessoas foram convocadas. O anseio pela aventura o conduz a Patos, município encravado no alto sertão paraibano. Em pouco tempo, era uma figura muito estimada. Sua simpatia pessoal era contagiante. Conquistava as pessoas com relativa facilidade. Entretanto, agora é o conquistado. Apaixona-se por uma linda adolescente de quinze anos. Loura, esguia, seus olhos azuis refletem uma pureza e uma bondade que, incongruentemente, o atraem e o excitam. Esposá-la passa a ser a sua razão única. A vontade supera obstáculos. Casam-se e, para ela, foi casar com a aventura. O desconhec ido, lutas, tiroteios, Revolução de 1930, perigos mil, tudo foi enfrentado. O amor faz milagres. A moça ingênua e tímida rompe suas raízes e cria o seu mundo. Nove filhos surgiram no caminhar entre a Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Seis morreram. Não suportaram as dificuldades. Sua alma ficaria marcada pelo sofrimento. No entanto, jamais perdeu sua bondade. Certa feita, discursando num acontecimento muito importante para mim, destacando as influências que formaram o meu “eu”, afirmei que ela se esforçou tanto para ser boa que se tornou santa. E, realmente, entre as pessoas com quem convivi, nenhuma se aproxima tanto da conceituação de santa quanto mamãe.
Pedro Marinho Suruagy foi uma espécie de cavalheiro andante. Sentia uma atração toda especial pelo perigo. Somente a sabedoria que a idade traz, domaria seu temperamento.
Pai afetuoso, se preocupava em nos oferecer o melhor. Vivemos juntos trinta e dois anos e milhares de acontecimentos. Ele foi amplo em defeitos e virtudes. Guardo belas recordações das viagens que fizemos e dos diálogos que tivemos.
Faleceu em fins de julho, de 1969. Deixou um legado de dignidade. Seu exemplo permanece em minhas emoções. Para se ter um bom amigo é fundamental que se seja um grande amigo.
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