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La Belle de Jour
Fagundes, sessentão, senhor de seus negócios, tem uma vida folgada, fruto de seu trabalho. Depois de 25 anos morando no Sul Maravilha, retornou de vez à Maceió, comprou um belo apartamento na praia de Jatiúca. Faz questão, tem tudo do melhor. Dá conforto para a família que ele preza, ama e conserva, apesar do enorme defeito, pular a cerca, ama uma rapariga.
Final do ano passado, o filho Bruno fez uma viagem para Europa de 90 dias com a esposa, deixou dois netos na casa de Fagundes. Para ajudar na tarefa Dona Carmela contratou babá numa agência.
Fagundes atendeu quando Benedita tocou a campainha. Morena, cabelo preto escorrido, lábios carnudos, tornava-se atraente ao sorrir. Vestia discretamente um longo, tipo hippie, o corpo aparentava bem torneado.
Ele perturbado com a visão chamou sua mulher. Conseguiu disfarçar a emoção. Carmela acertou com Benedita, três meses dormindo em casa, enquanto Bruno fazia um curso na Europa. Nunca um avô foi tão atencioso com os netos. Vivia a brincar com os meninos, todos os dias passeava de carro com a ajuda da eficiente babá. Carmela brincava por ele estar um avô coruja e dedicado
Fagundes se assanhava, a babá sorria, apesar da diferença de idade sentiu que Benedita correspondia seus olhares pedintes. Aperto de mão, acocho, um cheiro, “ marcar cartão”, mão boba.
Num fim-de-semana Carmela foi visitar sua irmã no Recife. Fagundes ficou dando assistência aos netos, ajudado pela valorosa babá.
Era o que faltava. À noite, as crianças dormiram, Benedita ficou assistindo novela na televisão da sala. Vestia um frouxo short, blusa fina, semitransparente realçando os empinados seios.
Ao deparar com aquela cena, a lascívia, a libido, tomaram conta de Fagundes, o sangue ferveu nas veias. Não houve preliminares, foi se chegando por trás da babá, levantou o cabelo, deu um beijo molhado no cangote. Daí por diante, tendo Deus como testemunha, amaram-se no tapete persa da sala.
Na hora do relaxe, deitados, contemplaram o mar prateado por uma enorme lua saindo do infinito naquela inesquecível noite de verão.
Segunda-feira Carmela retornou do Recife de carona no carro de um sobrinho. Eram dez horas da noite quando abriu a porta do apartamento. Nesse momento Fagundes estava abraçado com Benedita no quarto de empregada. Ele ouviu quando a porta foi aberta, imediatamente se enrolou na toalha, mandou que a babá trancasse a porta e fingisse dormir.
Carmela encontrou o marido enrolado na toalha como se procurasse alguma coisa na cozinha. Ele disse estar com fome, buscava comida. A mulher ficou desconfiada com aquele fato inusitado. Foi ao quarto da empregada, Benedita atendeu com uma cara muito esperta para quem dormia.
Dona Carmela sem muitos rodeios pediu a verdade para Fagundes. Ele negou peremptoriamente, se ofendeu, não era possível a mulher ter desconfiança depois de mais de 30 anos de casados. No outro dia a babá foi substituída por uma senhora de 62 anos.
Essa história foi me contada por Fagundes enquanto tomávamos uma gostosa cerveja numa barraca da Jatiúca. Faltando dez minutos para quatro horas, ele conferiu o relógio, deixou parte da conta na mesa, levantou-se, estendeu-me a mão, confessou.
“-Pois é irmãozinho. Para você viver bem, tem que negar com convicção, negar sempre até o fim. Esse negócio de sinceridade, de confessar a verdade, é morte certa, nunca cometa o sincericídio.”
Empolgado com a história da maravilhosa babá, perguntei pelo destino da Benedita. Ele não se fez de rogado.
“-Estou indo a seu encontro, aluguei um apartamento no Conjunto Castello Branco. É maravilhoso e salutar o amor à tarde, Vou aos braços de minha “belle de jour”, minha paixão rejuvenescedora.”
Colocou a mão no bolso e saiu assoviando, satisfeito como uma criança em busca do colo de uma querida babá.
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