Geral

A política é a arte do diabo

02/07/2012

  No ano de 1513, o historiador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu um livro político intitulado “O Príncipe”, que retrata os fundamentos do pensamento humano e que serviu de base na formação da Teoria do “Estado” (na época, chamado de “Principado”), em cujo texto ele sugere aos Príncipes (governantes) as “maneiras” de como conduzir os negócios públicos, internos e externos. Nesta obra, Maquiavel defende, propriamente, muito mais a centralização do poder político do que o “absolutismo”. Suas “maneiras” ensinadas aos Princípes sobre a melhor forma de administrar o governo, credencia a obra como uma experiência que não deve ser seguida. Para muitos leitores, desavisados, as proposições de Maquiavel demonstram que ele era um defensor da falta de ética na política, uma vez que sua expressão “os fins justificam os meios” banaliza o comportamento humano, diante das ações póliticas dos governantes. Mas, não é assim que se interpreta o pensamento de Maquiavel. É preciso, porém, situar o autor no contexto do seu tempo (século XVI) e do seu estado geográfico (a península Itálica). 

Portanto, na opinião do notável filósofo francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778): “Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo”. E, tanto isso é verdade, que Maquiavel faz uma constatação: “Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és”. E, mais ainda, assegura Maquiavel: “Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha”. 
Ora, o comportamento de Luiz Inácio Lula da Silva ao visitar Paulo Salim Maluf e lhe pedir apoio e voto para seu candidato à Prefeitura Municipal de São Paulo nos leva a crer que “os fins justifica os meios”. E não ó só isso, afirma Maquiavel: “Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição”. Aliás, também é de Maquiavel essa assertiva: “A ambição é uma paixão tão imperiosa no coração humano, que, mesmo que galguemos as mais elevadas posições, nunca nos sentimos satisfeitos”. E não fica só nisso: “Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”.
Para se ter uma idéia sobre as relações políticas entre Luiz Inácio Lula da Silva e Paulo Salim Maluf, é necessária fazer uma pausa no tempo presente para voltar à época das Greves no ABC Paulista, entre 1969 a 1980. No ano de 1969, Paulo Salim Maluf era Prefeito nomeado da cidade de São Paulo. Lula era apenas um operário (torneiro mecânico) que foi eleito suplente na Diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista. Em 1979, Paulo Maluf é nomeado Governador de São Paulo pela Ditadura Militar. Luiz Inácio Lula da Silva é reeleito Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No ano de 1980, Lula lidera uma greve geral na região do ABC paulista, mobilizando mais de cem mil metalúrgicos. O governador Paulo Maluf manda a tropa militar acabar com as manifestações públicas e ordena a prisão dos líderes do movimento sindical. Lula é preso por ordem de Paulo Maluf. Na prisão, Lula faz greve de fome. Paulo Maluf, diante da pressão popular e do protesto de parlamentares (como o senador Teotônio Brandão Vilela), artistas, intelectuais, professores e gente da Igreja, manda libertar o líder Lula que, uma vez solto do cárcere, juntamente com seus companheiros sindicalistas, funda o PT (Partido dos Trabalhadores).  
Ainda bem que o economista alemão Karl Marx (1818-1883) está morto e sepultado na Inglaterra. Se seu corpo estivesse enterrado em solo brasileiro, com certeza, ele saltaria do túmulo para protestar: “Como pode um operário se aliar a um burguês”?  Para Marx, burguês não é apenas o morador da cidade, “mas o proprietário dos meios de produção”. Burguês é o explorador do trabalho alheio. Lula não leu Marx, embora ele seja socialista. Melhor ainda, comunista. E daí, como fica essa aliança entre o explorador e o explorado? Apesar das duras críticas recebidas pela opinião pública, o ex-presidente do Brasil foi enfático, disse ele não se arrepender “nem um pouco”, com essa aliança… É por isso que se diz, popularmente, que “a política é arte do diabo”. Pensemos nisso! Por hoje é só.