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UE discute salvaguardas agrícolas antes da possível assinatura do acordo comercial com Mercosul

Parlamento Europeu avalia medidas para proteger agricultores e destravar tratado histórico com o bloco sul-americano. França resiste, enquanto Alemanha e Espanha apoiam acordo.

16/12/2025
UE discute salvaguardas agrícolas antes da possível assinatura do acordo comercial com Mercosul
Parlamento Europeu debate salvaguardas agrícolas antes de possível assinatura do acordo UE-Mercosul. - Foto: © AP Photo / Jean Francois Badias

A uma semana da decisão, a União Europeia discute salvaguardas agrícolas que podem destravar o acordo de livre comércio com o Mercosul. França lidera a oposição, enquanto Alemanha e Espanha defendem o tratado, que promete ampliar exportações e diversificar alianças. A assinatura pode ocorrer durante a Cúpula do Mercosul.

O acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul entra em fase decisiva após décadas de impasse. Nesta terça-feira (16), o Parlamento Europeu avalia medidas de proteção ao setor agrícola local, conhecidas como salvaguardas, que podem abrir caminho para votação no Conselho da UE e eventual assinatura durante a Cúpula do Mercosul, no sábado (20), em Foz do Iguaçu.

As salvaguardas representam uma tentativa da UE de atender países contrários ao tratado, como a França, maior produtora de carne bovina do bloco. Elas permitem suspender temporariamente o acordo caso haja prejuízo para algum setor agrícola europeu devido ao aumento das importações. Essa "blindagem" preocupa o agronegócio brasileiro, que vê no acordo uma oportunidade para ampliar exportações.

Segundo o G1, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, declarou que o Brasil está disposto a discutir salvaguardas para viabilizar o tratado, defendendo uma implementação gradual. Apesar disso, a resistência europeia persiste, especialmente da França, que desde 2019 se opõe ao texto, acompanhada por outros países. Protestos de agricultores ocorreram em vários países, incluindo bloqueios de estradas e ações contra produtos estrangeiros.

A oposição também se manifesta em movimentos como o "StopEUMercosur", ativo em países como Áustria, Alemanha e Espanha. Empresas como Danone e Carrefour já fizeram declarações polêmicas ao longo do processo sobre alimentos brasileiros, aumentando as tensões. Para barrar o tratado, seriam necessários quatro Estados-membros representando 35% da população da UE. França e Itália sinalizam intenção de adiar a votação, mas a posição italiana ainda é incerta.

Entre os países favoráveis ao acordo estão Alemanha, Espanha, Países Baixos, Portugal e Suécia. Para eles, o Mercosul é estratégico para diversificar alianças comerciais, reduzir dependência da China e garantir acesso a minerais essenciais para a transição energética. Além disso, o tratado abriria mercado para produtos europeus como vinhos, queijos e máquinas, enquanto o bloco enfrenta desafios econômicos e tarifas elevadas nos EUA.

Os opositores alegam que o acordo prejudicaria agricultores europeus, tornando os produtos do Mercosul mais competitivos devido ao menor custo de produção. Também levantam preocupações ambientais, afirmando que o tratado poderia acelerar o desmatamento na Amazônia e permitir o uso de agrotóxicos proibidos na Europa. O Brasil tem rebatido essas alegações, destacando seu Código Florestal e práticas sustentáveis, embora reconheça desafios como o desmatamento ilegal.

Desde 2019, o texto passou por alterações que, segundo especialistas, favoreceram mais a Europa. Foram incluídas exigências ambientais e leis como a antidesmatamento, cuja implementação foi adiada. A Comissão Europeia também propõe cláusulas de reciprocidade, impondo padrões europeus aos países do Mercosul. Para representantes do agronegócio brasileiro, essas medidas podem restringir exportações e não respeitam normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Apesar das críticas, defensores do acordo argumentam que ele é vital para fortalecer relações comerciais e enfrentar crises econômicas. Se aprovado, o texto ainda precisará do aval do Parlamento Europeu, o que pode ocorrer apenas em 2026. Até lá, a disputa entre interesses agrícolas, ambientais e estratégicos continuará a definir o futuro do maior acordo comercial já negociado entre os dois blocos.

Por Sputinik Brasil