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Neonazismo no Brasil: regulamentação das redes é essencial para 'proteger as pessoas', diz analista

Especialistas apontam que o neonazismo, embora anterior à Internet, ganhou força no ambiente digital, exigindo regulação das plataformas.

Sputinik Brasil 11/12/2025
Neonazismo no Brasil: regulamentação das redes é essencial para 'proteger as pessoas', diz analista
Especialistas alertam para o crescimento do neonazismo no Brasil e defendem regulação das redes sociais. - Foto: © Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil afirmam que, embora a ideologia nazista seja anterior à Internet, a web potencializou sua difusão e recrutamento, especialmente por meio de fóruns on-line.

O Brasil nunca experimentou um regime fascista ou nazista como o europeu, mas movimentos extremistas inspirados no fascismo italiano e nazismo alemão já tiveram presença significativa no país.

Após a Segunda Guerra Mundial, grupos neonazistas surgiram influenciados por ideologias estrangeiras, especialmente nas décadas de 1980 e 1990. Atualmente, esses grupos se espalham pelas redes sociais e têm crescido no país, segundo pesquisadores, chegando a ser alvo de alerta da Organização das Nações Unidas (ONU).

Vinicius Bivar, professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Observatório da Extrema Direita (OED), explica que a ideologia nazista no Brasil remonta a 1928, mas enfrentou crise durante a Segunda Guerra Mundial, ressurgindo nos anos 1980 com a "cultura bonehead".

"Bonehead são os grupos de skinheads supremacistas brancos. A gente usa essa designação para diferenciar esses grupos dos skinheads tradicionais, que não são grupos de extrema direita", detalha Bivar.

Segundo ele, células nazistas são mais presentes em estados como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, elegendo como inimigos as populações das regiões Norte e Nordeste, especialmente pessoas não brancas, associadas a fluxos migratórios.

"Essa dimensão regional é uma particularidade brasileira, mas, em larga medida, a ideia do supremacismo e da hierarquização racial é importada da Europa, sendo adaptada ao contexto nacional, mas mantendo a essência da supremacia branca", afirma.

Alexandre de Almeida, historiador, antropólogo e membro do OED, reforça que militantes nazistas e fascistas acolhidos no Brasil nos anos 1980 foram apoiados por simpatizantes e parte da comunidade alemã pós-guerra, que se identificava com o nazismo.

Almeida ressalta que, ao chegar ao Brasil, a ideologia nazista passou por adaptação, elegendo nordestinos e negros como alvos.

"Eles não tiraram da cartola. Colocaram de forma mais radicalizada o que aprenderam com seus pais, que aprenderam com as instituições. Daí surge a ideia de que o verdadeiro paulista é o descendente europeu", analisa.

Como as células neonazistas operam no Brasil?

Bivar destaca que as células neonazistas atuam de formas diversas, desde grupos estruturados com hierarquia militar até organizações descentralizadas em fóruns virtuais, sem liderança clara.

"Recentemente, houve apropriação de esportes de combate, como kickboxing e MMA, por grupos supremacistas, replicando fenômeno já observado na Europa", observa.

Ele acrescenta que a presença desses grupos na Internet é variada, com fóruns dedicados à promoção, divulgação e recrutamento de simpatizantes.

"Esse é o mecanismo mais comum. Não se vê tanta presença de organizações neonazistas nas redes sociais mais tradicionais", aponta Bivar.

Almeida enfatiza que, apesar de anterior à Internet, a ideologia nazista ganhou amplitude com a rede, tornando urgente a discussão sobre regulamentação das plataformas.

"É preciso proteger as pessoas não só desse tipo de conteúdo, mas também de outros crimes praticados nas redes, como pedofilia, que muitas vezes não são devidamente controlados pelas plataformas. Jovens têm cada vez mais acesso a esses materiais", alerta.