Finanças
Condomínios ficam mais caros, e inadimplência avança, mostra pesquisa
Censo condominial revela que taxa subiu quase 25% em três anos. Média é de R$ 516
O Brasil tem 327.248 condomínios ativos, que reúnem cerca de 39 milhões de moradores, segundo o Censo Condominial 2025/2026, feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Receita Federal e da plataforma uCondo, de gestão de condomínios. O estudo mostra que os condomínios ficaram mais caros, ao mesmo tempo em que a inadimplência avançou.
Segundo o censo, a taxa condominial no país subiu 24,9% em três anos, alcançando a média de R$ 516 no primeiro semestre deste ano. Paralelamente, a inadimplência superior a 30 dias chegou a 11,95%, o maior patamar do período analisado.
— Esse salto está ligado ao cenário econômico mais amplo, que registrou recordes de endividamento das famílias brasileiras — avalia Léo Mack, diretor de Operações da uCondo e cofundador da empresa.
Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), diz que, diante do endividamento, a taxa de condomínio “acaba ficando muitas vezes para um segundo momento”.
O censo também aponta que cerca de 500 mil pessoas trabalham no setor. No caso dos síndicos, a remuneração média é de R$ 1.520, considerando todos os perfis — moradores ou profissionais, com vínculo formal ou informal. Para Mack, apesar das responsabilidades, a função ainda é pouco valorizada.
— O síndico acumula responsabilidades, e seu papel exige preparo técnico, disponibilidade e responsabilidade. O censo mostra que a valorização do síndico avança, mas a média ainda não reflete, de forma uniforme, o grau de exigência da função em todo o país — comenta.
O estudo revela também que os condomínios que utilizam a uCondo registraram mais de 308 mil chamados neste ano. As principais demandas envolveram solicitações administrativas, reclamações e manutenção de áreas comuns.
Risco da inadimplência dos moradores
Diante do crescimento da inadimplência condominial, Rodrigo Palacios, sócio da área de Direito Imobiliário do Viseu Advogados, alerta que os riscos para moradores em atraso são elevados e vão desde a cobrança de multa e juros até a possibilidade de penhora e perda do imóvel:
— Com o Código de Processo Civil de 2015, o crédito condominial referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias foi elevado à condição de título executivo extrajudicial. Isso permite ao condomínio entrar diretamente com uma ação de execução, sem passar pelo longo processo de conhecimento para provar a dívida.
O advogado Ermiro Ferreira Neto, doutor em Direito Civil pela USP, destaca que os inadimplentes devem procurar a administração do condomínio e apresentar propostas de pagamento. Ele diz que há situações em que o próprio síndico ajudar.
— No limite, o síndico pode, a partir de poderes atribuídos pela assembleia de condôminos, também apresentar propostas e negociar acordos quanto ao pagamento da taxa de condomínio — diz.
Cuidados para não perder o imóvel
Orçamento - Faça um planejamento financeiro pessoal considerando a taxa de condomínio como uma despesa fixa. O pagamento da taxa deve ser tratado como uma obrigação essencial, assim como planos de saúde e outras contas básicas.
Controle financeiro - Mantenha um calendário organizado de pagamentos para evitar esquecimentos e atrasos. Sempre que possível, crie uma reserva financeira para lidar com imprevistos e conseguir manter a taxa de condomínio em dia em momentos de dificuldade.
Diálogo - Em caso de dificuldades para pagar a taxa de condomínio, busque rapidamente o diálogo com o síndico ou com a administradora do condomínio. Quanto antes a conversa acontecer, menores serão os juros, as custas judiciais e o risco de perda do imóvel.
Negociação - Negociar é sempre uma opção, tanto antes quanto após o início da ação judicial. Apesar de o condomínio não ser obrigado a aceitar, na maioria das vezes prefere fechar acordos, pois isso garante um recebimento mais rápido e reduz os gastos com custos judiciais e honorários.
Mudança de imóvel - Se o orçamento estiver apertado e for difícil manter as despesas, incluindo a taxa de condomínio, avalie a possibilidade de mudança para um imóvel com custos menores e de colocar o atual para alugar. Antes, procure o síndico, explique a situação e peça um prazo para organizar a saída e resolver a pendência.
Como resolver conflitos
Entre os chamados registrados no levantamento, 28% foram classificados como reclamações. Segundo Léo Mack, os temas mais recorrentes envolvem barulho, disputas por vagas de garagem, regras de uso das áreas comuns, presença de animais de estimação e questões de convivência entre vizinhos.
Na hora de lidar com conflitos relacionados à vida em condomínio, o advogado Rodrigo Palacios explica que o melhor caminho é o diálogo e a mediação extrajudicial:
— A solução pode vir pela via judicial, mas esta deve ser encarada como o último recurso em nosso mapa de solução de conflitos condominiais. O Judiciário entra quando o problema deixa de ser um mero incômodo e se transforma em risco, dano, abuso ou repetição crônica.
Segundo o advogado, a via judicial é recomendada apenas em casos extremos, quando todas as tentativas amigáveis, as advertências e as multas previstas em convenção, regulamento interno ou impostas por assembleia foram esgotadas.
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