Finanças

Comissão Europeia vai adiar para janeiro assinatura do acordo UE-Mercosul

Segundo agência, presidente Ursula von der Leyen informou a decisão aos líderes dos países europeus reunidos para a reunião de cúpula do bloco em Bruxelas

Agência O Globo - 18/12/2025
Comissão Europeia vai adiar para janeiro assinatura do acordo UE-Mercosul
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - Foto: Reprodução / Instagram

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou aos líderes europeus que a assinatura de um acordo de livre comércio da União Europeia (UE) com o Mercosul — composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — será adiada para janeiro, segundo informaram fontes diplomáticas à AFP. A declaração teria ocorrido durante uma reunião de cúpula do bloco europeu em Bruxelas.

Se for confirmada, a decisão frustra as expectativas do presidente Lula, que esperava receber Ursula na reunião do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu, no fim de semana, para assinar o acordo e encerrar mais de 25 anos de uma conturbada negociação.

A Comissão Europeia queria que o pacto, que criaria a maior zona de livre comércio do mundo, fosse selado nesta semana, mas o plano foi frustrado depois que a Itália se somou à França para exigir um adiamento, com o objetivo de buscar maior proteção para o setor agrícola.

Além disso, Bruxelas, sede da União Europeia, foi tomada por protestos violentos de agricultores europeus contra o acordo.

Lula abre via para adiamento

Apesar da expectativa de fechar o ano com o acordo UE-Mercosul sacramentado, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a via, hoje, para que a assinatura fosse adiada para janeiro, em meio aos protestos de milhares de agricultores em Bruxelas.

Pela manhã, Lula revelou ter telefonado para a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para entender a razão de ela ter se juntado ao líder francês, Emmanuel Macron, na resistência à assinatura final do acordo.

Segundo ele, Meloni lhe pediu "paciência de uma semana, de dez dias, do próximo mês" e lhe assegurou que se assim for, a Itália "estará junto com o acordo". Lula disse que vai transmitir o pedido aos outros líderes latino-americanos do Mercosul para decidirem o que fazer.

O que é o acordo?

O texto é negociado há mais de 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo. Nesta quinta-feira, os líderes europeus debatiam em Bruxelas se vão apoiá-lo. Com esse acordo, os europeus poderiam exportar produtos como veículos e maquinário aos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em troca, facilitariam a entrada nos países do bloco de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido a suas normas de produção; o que os agricultores europeus veem com temor.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esperava assinar o tratado no próximo sábado durante uma cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR). Mas para isso, precisa do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da UE reunidos em Bruxelas.

Agora, tudo parece apontar para um adiamento, o que daria um breve respiro para a França, que não para de reforçar que o acordo não é aceitável em seu formato atual.

Um prazo adicional representaria um revés para a Comissão Europeia, para a Alemanha, a Espanha e os países nórdicos, que queriam que o acordo fosse assinado nos próximos dias. Para eles, o tratado ajudaria a impulsionar as exportações em um contexto de forte concorrência chinesa e de um governo americano propenso a adotar tarifas aduaneiras.

— Seria muito frustrante que a Europa não alcançasse um acordo com o Mercosul — disse o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, ao chegar ao Conselho Europeu.

Ao contrário, França, Itália, Polônia e Hungria estavam dispostas a formar uma minoria de bloqueio em oposição ao tratado.

— Consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado — disse a jornalistas antes da cúpula o presidente francês, Emmanuel Macron.

Agricultores revoltados

Nesta quinta-feira, em Bruxelas, à margem da cúpula de chefes de Estado e de governo da UE, milhares de agricultores manifestaram sua revolta.

Os protestos deixaram um panorama de pneus incendiados, batatas e projéteis arremessados, jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo lançados pela polícia. A situação ficou especialmente tensa nas imediações das instituições europeias, protegidas por um importante dispositivo policial.

Segundo a polícia da capital belga, 7.300 pessoas com cerca de 50 tratores participaram do protesto autorizado, durante o qual praticamente não houve tumulto. Mas outros 950 tratores chegaram ao bairro europeu, bloqueando várias ruas. "Nosso fim = sua fome", dizia um cartaz sobre um caixão preto junto aos protestantes.

Os agricultores protestavam contra vários temas, não só contra o acordo UE-Mercosul, mas também contra as taxas sobre os fertilizantes ou a reforma da política agrícola comum (PAC) da UE, explicaram vários participantes à AFP.

Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a "concorrência desleal" de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.

— Estamos aqui para dizer não ao Mercosul — declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille, acusando a presidente da Comissão Europeia de tentar "impor o acordo à força".. — É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura.

Von der Leyen se reuniu esta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que "a Europa estará sempre ao seu lado".

A Copa-Cogeca afirmou que levou à Bélgica 10 mil manifestantes procedentes de vários países, sobretudo da França. Muitos agricultores europeus acusam os países do Mercosul de não cumprirem as normas ambientais e sociais que eles são obrigados a cumprir, o que permitiria vender seus produtos mais baratos.