Finanças
Lula 'lamenta' crise nos Correios: 'Não podemos ter uma empresa pública dando prejuízo'
Conselho de Administração da empresa aprovou empréstimo de R$ 12 bilhões, que ainda depende de aval do Tesouro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou nesta quinta-feira a crise nos Correios.
— Eu lamento profundamente a crise nos Correios — disse, em café com jornalistas. — Nós não podemos ter uma empresa pública dando prejuízo. Uma empresa pública não pode ser a rainha do lucro, mas não pode ser a rainha do prejuízo.
Lula afirmou que trocou o presidente da estatal e disse que fará o necessário para superar essa crise.
A declaração ocorre após o Conselho de Administração dos Correios aprovar a contratação de um empréstimo de R$ 12 bilhões negociado com um grupo de cinco bancos. O fechamento da operação, no entanto, ainda depende de uma série de etapas internas e do aval do Tesouro Nacional, em um momento em que a estatal enfrenta a mais grave crise financeira de sua história.
Para viabilizar o socorro financeiro, os Correios precisam concluir um plano detalhado de reestruturação que comprove a sustentabilidade econômica da empresa no médio e longo prazo. A partir desse plano, a Secretaria do Tesouro Nacional, vinculada ao Ministério da Fazenda, vai decidir se concede a garantia da União ao empréstimo — condição considerada essencial para a conclusão da operação.
Sem essa garantia, os bancos não avançam na contratação. Com o aval, caso a estatal venha a dar calote no futuro, a dívida passa a ser responsabilidade da União.
Após a eventual autorização do Tesouro, os Correios ainda terão de fechar os termos finais do financiamento com Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
A expectativa no governo é de que o Tesouro aprove o aval, já que as negociações foram conduzidas de forma coordenada com a equipe econômica. Ainda assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem reiterado que a garantia só será concedida mediante a apresentação de um plano de reestruturação considerado consistente.
Questionado na quarta-feira se a operação poderia ser autorizada até esta sexta, Haddad disse que é possível.
A proposta aprovada pelo Conselho de Administração prevê prazo de pagamento de 15 anos, com três anos de carência e juros equivalentes a 115% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa de referência próxima à Selic.
O socorro financeiro está condicionado à implementação de um plano de reestruturação que inclua medidas de corte de gastos e aumento de receitas, com a meta de devolver os Correios ao lucro em 2027. Entre as ações previstas estão o desligamento de cerca de 15 mil funcionários por meio de um plano de demissão voluntária (PDV) — 10 mil em 2026 e 5 mil em 2027 — e o fechamento de aproximadamente mil unidades.
Do lado da receita, a estratégia inclui a ampliação de parcerias com o setor privado para diversificar os serviços prestados pela estatal.
Em rodadas anteriores de negociação, um pool de bancos chegou a propor um empréstimo de R$ 20 bilhões, com juros equivalentes a 136% do CDI. Embora a proposta tenha sido aprovada pelo Conselho de Administração, acabou rejeitada pelo Tesouro por superar o patamar considerado aceitável para operações com garantia da União, geralmente próximo de 120% do CDI.
Enquanto tenta equacionar as contas, os Correios também enfrentam uma paralisação de trabalhadores após impasse nas negociações do acordo coletivo. Os sindicatos reivindicam o pagamento de um valor extra de R$ 2.500 via vale-refeição ou alimentação, demanda que a direção da empresa afirma não ter condições financeiras de atender.
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) atua como mediador do conflito. Na quarta-feira, o vice-presidente da Corte, ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, determinou que os sindicatos convoquem assembleias para submeter aos trabalhadores uma proposta de acordo, cuja íntegra deverá ser divulgada em até 24 horas.
A proposta prevê reajuste salarial de 5,13% a partir de janeiro de 2026 e recomposição integral do INPC a partir de agosto do mesmo ano, com validade de dois anos, mas exclui o pagamento do chamado vale-peru. Uma nova audiência foi marcada para 26 de dezembro.
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