Finanças

Mudanças no IR vão beneficiar 73,5% dos professores da educação básica

Metade dos docentes ficará isenta, aponta estudo do Ipea

Agência O Globo - 18/12/2025
Mudanças no IR vão beneficiar 73,5% dos professores da educação básica
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

A isenção do Imposto de Renda para Pessoa Física (IRPF) para quem ganha menos de R$ 5 mil, além da redução do tributo para salários de até R$ 7.350, prevista para janeiro de 2026, vai beneficiar três em cada quatro professores da educação básica — que engloba educação infantil, ensino fundamental e médio, nas redes pública e privada. O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (17) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que destaca que, ao longo de um ano, o impacto positivo pode equivaler ao recebimento de um 14º salário.

Segundo o estudo, mais de 600 mil professores da educação básica deixarão de pagar o imposto de renda. Pouco mais da metade da categoria ficará isenta da tributação em razão da Lei nº 15.270/2025, proposta pelo governo federal e sancionada em novembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os dados fazem parte do estudo "O imposto na ponta do giz: efeitos da reforma tributária sobre o IRPF de docentes da educação básica".

“A proporção de docentes isentos de IRPF aumenta de 19,7% para 51,6% após a reforma, enquanto 21,9% passam a ter redução da carga tributária, beneficiando cerca de 73,5% da categoria”, detalha o Ipea.

Impacto

A estimativa do impacto da Lei 15.270 foi realizada a partir da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que reúne o cadastro de todos os trabalhadores com carteira assinada ou em regime estatutário, com base em microdados referentes a 2022.

"Este estudo do Ipea evidencia como a reforma do Imposto de Renda aumenta a renda disponível dos professores ao comparar a renda antes e depois da tributação. Os resultados mostram um impacto efetivo sobre o orçamento dos docentes, especialmente entre aqueles próximos ao piso do magistério, com ganhos que podem equivaler a um salário adicional ao ano. Avaliar esses efeitos concretos é essencial para qualificar as políticas públicas”, avalia a presidente do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo.

Efeito multiplicador

De acordo com Adriano Souza Senkevics, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, o efeito positivo ocorre devido à correção da tabela do imposto de renda, que estava bastante defasada em termos de progressividade fiscal — conceito relacionado ao aumento da alíquota conforme renda e patrimônio.

Senkevics destaca que os professores compõem “uma das maiores categorias ocupacionais do Brasil”, presentes em todos os municípios, o que deve gerar impacto pulverizado nas economias locais.

“Existe, digamos, o chamado efeito multiplicador. Quanto mais renda disponível você tem para trabalhadores, mais isso se transforma em consumo e mais arrecadação”, explica.

O especialista acrescenta que, apesar do Piso Nacional do Magistério (R$ 4.867,77 para jornada de 40 horas semanais atualmente), os salários variam entre municípios e estados, conforme o plano de carreira de cada secretaria de educação.

“Vamos ter estados em que o percentual de professores isentos pode subir de 20% para 60%”, prevê Senkevics, citando exemplos como Minas Gerais, Tocantins e Roraima.

Mesmo no Distrito Federal, onde os professores têm os melhores salários do país, a proporção de isentos do imposto de renda deve mais que dobrar, passando de 10% para 25%.