Curiosidades
O feminicídio que marcou o Brasil: Lindomar Castilho e a morte de Eliane de Grammont
Cantor, que morreu aos 85 anos, matou ex-mulher a tiros por ciúmes em 1981
Lindomar Castilho, um dos cantores mais populares do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, deixou as páginas de cultura para figurar nas policiais em 1981, ao assassinar a ex-mulher, Eliane de Grammont, mãe de sua filha, então com apenas 1 ano e oito meses. O crime é considerado um dos feminicídios mais emblemáticos do país e motivou uma onda de protestos feministas em todo o Brasil. Condenado a 12 anos e dois meses de prisão, Lindomar cumpriu sete anos em regime fechado e o restante no semiaberto, sendo considerado quite com a Justiça em 1996.
Eliane de Grammont conheceu Lindomar em 1977, nos corredores da gravadora RCA, quando ele já era conhecido como o "rei do bolero". Eles se casaram em 1978 e, a pedido do cantor, ela abandonou a carreira musical. "A violência e o alcoolismo do marido tornaram a relação insustentável e, após um ano de união, ela pediu o divórcio", relembra o Blog do Acervo do GLOBO, em publicação sobre os 40 anos do caso, em 2021.
Já separada e com 26 anos, Eliane tentava retomar a carreira de cantora de MPB quando foi assassinada. Ela se apresentava na boate Belle Époque, em São Paulo, ao lado do músico Carlos Randall, que a acompanhava ao violão. Segundo o Blog do Acervo do GLOBO, na madrugada de 30 de março de 1981, Lindomar entrou no salão da casa noturna armado com um revólver calibre 38 e atirou enquanto Eliane se apresentava. Ela foi atingida no peito, e Randall, mesmo ferido, conseguiu imobilizar Lindomar com a ajuda do dono da casa. Eliane foi socorrida, mas não resistiu a caminho do hospital.
Preso em flagrante, Lindomar aguardou o julgamento em liberdade por ser réu primário, o que permitiu que tivesse contato com a filha, que ficou sob a guarda dos avós maternos. A mãe de Eliane, portanto, era obrigada a receber, nos fins de semana, o assassino da própria filha em casa.
O julgamento só ocorreu em agosto de 1984 e mobilizou ativistas, que promoveram vigílias em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo, na Praça da Sé, com faixas como "Não se mata quem dá a vida". Em vários pontos da cidade, frases como "bolero de machão é só na prisão" e "deixem-nos viver" podiam ser vistas pichadas nos muros.
A defesa de Lindomar, assim como no caso de Doca Street no assassinato de Ângela Diniz, buscou desqualificar a vítima, alegando que Eliane era uma dona de casa e mãe negligente, "que vivia com o pé na rua". Um suposto relacionamento com Carlos Randall também foi citado. Lindomar afirmou, na época, não se lembrar bem da noite do crime, mas garantiu que só atirou por estar tomado por "violenta emoção" após ser agredido por Randall.
Em entrevista à revista "Marie Claire", em 2020, Lili de Grammont contou ter se afastado do pai ao compreender as circunstâncias da morte da mãe. Na adolescência, porém, retomou contato com Lindomar, já em liberdade.
Em sua despedida ao pai, Lili escreveu: "Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução."
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