Elogiada como Gerluce em “Três Graças”, novela da TV Globo, Sophie Charlotte personifica o cotidiano de milhões de brasileiras. Os atrasos no trabalho viraram meme, o verbo “gerluçar” pegou como sinônimo de atrasar, e vídeos imitando a personagem invadiram as redes. Mergulhada na trama de uma mulher que tenta conciliar os cuidados com a mãe doente (Dira Paes) e com a filha grávida (Alana Cabral) com a vida profissional e amorosa, a atriz se diz surpresa com a repercussão:

— É a primeira vez que vivo isso. Não sabia que ressoaria tanto esse drama cotidiano. Estou muito feliz. Nós nos preocupamos em não romantizar a gravidez na adolescência ou a mulher moderna multifuncional que é o esteio da família.

Os conflitos de Gerluce não se limitam ao corre da cuidadora. Ela precisa encarar fantasmas do passado, como Jorginho Ninja (Juliano Cazarré), o ex-presidiário que a manteve em cárcere privado e é pai de sua filha, Joélly (Alana Cabral), levantando um debate sobre perdão e justiça. Para construir esse sofrimento, Sophie se inspirou nos casos de violência contra as mulheres.

— O perdão de Deus e a mudança são direitos de todos, mas não é obrigação da mulher perdoar. A violência já foi vivida. Nem sempre a solução é simples. Deixamos um espaço para quem está assistindo poder refletir — afirma.

Nos capítulos da próxima semana, enfim, Gerluce põe o plano do roubo da estátua As Três Graças em ação. Ou expropriação, diria a personagem, devota de Santa Rita de Cássia que pede a bênção para o malfeito todas as noites, esperançosa de ser perdoada pelo crime por estar tirando de ricos criminosos para dar aos pobres, vítimas dos remédios falsificados da Fundação Ferette.

— Ela está tão exausta que começa a falhar consigo mesma e seus princípios. Nossa história vai começar a andar para as consequências dessas escolhas — avisa Sophie, lembrando que o romance com Paulinho (Romulo Estrela) surge como um alívio.

A atriz conta que o ritmo frenético da personagem tem afetado é sua hora de descanso e a faz sonhar com o trabalho.

— Acordo pensando “Nãoooo, eu só queria descansar” — diz Sophie, que admite que na vida real “gerluça” se atrasa às vezes, mas por bons motivos. — Sempre fui pontual, mas outro dia cheguei em casa e meu filho (Otto, de 9 anos) estava dormindo. De manhã, ele veio feliz mostrar o boletim e queria conversar . Não o interrompi e “gerlucei” de leve (risos).

Os domingos têm sido um respiro para curtir mais o filho e tentar “aproveitar o sol”, depois de passar horas no estúdio durante a semana:

— Me dou o direito de ficar de pijamão.

Em casa, Gerluce também costuma ficar à vontade, com camisetas surradas e shortinhos confortáveis. Mas fora dela a protagonista de “Três Graças” costuma estar com os olhos marcados, batom vermelho-cereja, unhas compridas e esmaltadas. Segundo a atriz, parte da estética foi inspirada em sua avó paterna, a paraense Alva Frizia Silva.

— Nunca tive costume de usar decotão. É a primeira vez. Essa unha sempre impecável e o batom, tudo a gente trouxe muito da minha avó — conta.

Com Roberto Carlos

Sophie tem alimentado outra paixão: a música. Na trilha sonora da novela, ela canta “Proposta”, parceria com Roberto Carlos que embala o romance de Gerluce e Paulinho, e marcará presença no tradicional especial de fim de ano do Rei, no dia 23, na TV Globo.

— É inesquecível poder gravar uma canção com Roberto Carlos. Ele me convidou novamente para o especial. Já estou providenciando o vestidão. Ele já me abraçou em outros momentos, como quando permitiu que eu gravasse “Sua estupidez” para a série “O rebu” (2014). Roberto Carlos é um grande mestre.

Após shows com Tom Veloso, filho de Caetano, a atriz se prepara para lançar um EP com quatro faixas em 2026.

— Sempre fico tímida, muito nervosa, mas o prazer de estar cantando é tão grande, que vou superando. Entendi que é uma via muito boa de troca com o público, num outro lugar. Este ano foi muito importante nesse sentido para mim.

Até por conta do amor, Sophie está cada vez mais envolvida com música. Namorada do cantor e ator Xamã, o Bagdá de “Três Graças”, ela diz que um incentiva o outro nessa mistura de talentos:

— Ele tem uma inquietação artística grande, uma generosidade de compartilhar o conhecimento que tem desse universo. A gente troca bastante nossas experiências artísticas.

A parceria entre os dois continua no dia a dia, como na montagem da árvore de Natal da casa de Sophie:

— Contei com a ajuda do Xamã na parte das luzinhas. Para comprá-la, fui com meu pai de metrô para a Saara, no Centro do Rio. É uma árvore com significado. Alguns dos enfeites eram dos meus pais, trago outros de viagem e ganho de amigos.

A festa, no entanto, não será na casa da atriz, mas, no imóvel que era de sua avó em Niterói, com o lado paraense de sua família:

— Tem muitos pratos deliciosos típicos, cada um colabora de uma forma e a gente faz uma superfesta reunindo todos os tios, primos e seus filhos. É minha celebração favorita — diz ela, descrevendo o clima dos encontros familiares: — Minha avó paterna teve dez filhos, cada um deles teve três filhos, então tenho muitos tios e primos. É maravilhoso ter uma família unida.