Nossas Histórias I

16/02/2022 20h08

Vida de criança é inesquecível. Criança lembra de tudo e muito mais. Tudo é festa, é alegria, até um passeio besta é motivo de preparação e de sonho durante a noite.

Lembro-me dos passeios maravilhosos organizados por meus pais. Era um verdadeiro caminho de caça ao tesouro.

Recordo-me quando meu pai e minha mãe levava eu, meus irmãos e meus primos até as imediações de Satuba, lá no Catolé. Acordávamos cedo, umas seis da matina numa ansiedade só, todos prontinhos com suas mochilas coloridas, olhos brilhantes e sorriso presente com os dentes amostra. Vamos viajar!

O Catolé, um lugar lindo, cheiro de água e terra molhada, além do cheiro das folhagens presente no chão que ao pisarmos exalava o cheiro forte do perfume de eucalipto. Chegando lá, tudo era confortável.  Desarrumar o carro, tirar as comidas primeiramente, depois as boias, bola, corda e outros tantos brinquedos que eu nem imaginava que coubessem em nosso carro. A panela de barro, o feijão quase pronto, a caixa térmica, que na época chamávamos de isopor, cheia de refrigerantes e sucos. O Catolé era todo nosso sim. Papai alugava para que o dia fosse só nosso e ficássemos a vontade em total liberdade.

Finalmente chegou a hora do primeiro mergulho em uma das piscinas que havia, fora as bicas de águas geladas que logo nos deixariam de beiços e dedos roxos, mas a gente não se incomodava com isso. Como era bonito o cenário, olhando para o alto mal conseguíamos ver o sol e o céu, as árvores e os pés de eucaliptos que se entrelaçavam num abraço amigável naquele ambiente era um verdadeiro espetáculo a olho nu. O sabor que tínhamos a cada mordida na manga ou as goladas de água de coco faziam com que esquecêssemos dos biscoitos e refrigerantes do lanche.

E a manhã corria sem pressa, sem briga, sem discussão, ali só tinha lugar para brincadeiras, mergulhos e tentativas de nadar. Sou capaz de lembrar até hoje cada canto daquele lugar mágico. As piscinas de pedra rachão, a água que escorria por entre as plantas da mata, as mesas de refeição de cimento armado, os vestiários e banheiros a meia porta pintados de verde bandeira, a garotada na porta de entrada com bacias de mangas espada e rosa, pitombas, cestos de caju, coquinho. Tudo tão simples e ao mesmo tempo tão encantador.

Chegou a hora do almoço, o caldeirão de feijão borbulhava sobre a mesa, cheirava muito bem e com certeza estava uma delícia. Mamãe como sempre nos surpreendia e cozinhava muito bem. Os pratos e talheres empilhados, casados um com o outro, a vasilha de arroz soltinho e colorido, o combo de carne de feijão e charque; meu pai adorava charque. A cumbuca de farinha, a pimenta forte e cheirosa que nos chegava aos olhos e nariz, além da travessa com couve serpentina, abóbora, quiabo e maxixe. Que delícia, um prazer total.

Barriga cheia, descanso, quietinhos para fazer a digestão...

E lá já chegara a tarde, um friozinho que apitava por entre a mata. Era hora de voltarmos a ativa, e lá vamos nós aos últimos mergulhos, pulos e pinotes, de volta a farra. Enquanto isso, da piscina posso ver meus pais nos observando e trocando conversas e eu como quem não quisesse olhar, enganava a olhar pelo canto dos olhos e via o sentimento de felicidade deles por nos proporcionar tamanho momento.

E agora temos a certeza de que é chegada a hora da volta, passarinhos correm pelo ar e gritam como que voltando ao ninho, e as cigarras praticavam seus intensos cantos. Estava cada vez mais escuro ali dentro. Mamãe nos chama para trocarmos. É o corre corre da hora e finalmente a despedida daquele dia que ficará em nossa memória, como agora.