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O melhor presente de minha vida

Carlito Peixoto Lima 21/12/2025
O melhor presente de minha vida
Carlito Peixoto Lima - Foto: Assessoria

Há quem não goste do Natal, sente melancolia ou coisa parecida, fica triste, deprimido com a proximidade da festa natalina. Entretanto, há quem ame o Natal. Eu, por exemplo, quando dezembro aparece, me envolvo em clima de festa. São tantas as comemorações natalinas e ano novo que o velho fígado reclama. Talvez esse minha alegria natalina seja fruto das boas recordações do que ficou em minha mente e em minha alma dos belos natais de minha infância e juventude.

A festa de rua natalina iniciava em fim de novembro na Praça Sinimbu. Roda mundo, roda-gigante, navios, carrossel, tiro-ao-alvo e folguedos: reisado, chegança, pastoril. Que bonito: Viva o cordão azul! Viva o cordão encarnado! Lá vinham as pastoras num palco, dançando e cantando as jornadas: “Boa noite meus senhores todos, boa noite senhoras também. Somos pastoras, pastorinhas belas que alegremente vamos à Belém..." No intervalo nós meninos, chamávamos a Mestra ou outra pastora do encarnado em cena. Ela aparecia, saia rodada, dançando, se requebrando ao som da música, tocando no pequeno pandeiro de lata enfeitado de fitas coloridas. Meninos na pré-puberdade, subíamos ao palco com uma nota de Cr$ 1,00 (um) cruzeiro, prendia-a com presilha, como se estivesse condecorando, em seu vestido, nesse momento não resistíamos, roçávamos com a costa da mão os seios da divina pastora. Aliás, era esse o principal objetivo daqueles meninos, maloqueiros, felizes. A pastora saía de cena rubra ainda sentindo o roçar de nossas mãos, dançando para trás, cantando até desaparecer entre as cortinas do palco. Logo depois apareciam todas novamente, cantando sorridentes outra jornada: “Meu São José dai-me licença, para o pastoril dançar. Viemos para adorar, Jesus nasceu para nos sal- var. " O pastoril era uma festa dentro da festa de rua. Andávamos em grupo paquerando as meninas desfilando pela calçada. Um olhar, um sorriso, era o bastante para alegrar o coração do jovem. O alto-falante tocava música romântica e dava recados que eram cobrados ao preço de Cr$ 0,50 (cinquenta centavos): “Alô, alô, Cidinha Madeiro, você é a menina que mais brilha nessa festa. Assinado: Você já sabe.” E dedicava música às musas de nossa ingênua e pura adolescência.

Quando aparecia um grupo de Guerreiro com vistosos chapéus de espelhos enfeitados, era sucesso. O visual do Guerreiro empolga a todos. Em algum local da praça construíam uma embarcação, um navio de taipa, de barro. A "Nau Catarineta" era palco da Chegança, dança folclórica de origem ibérica, tendo como personagens, o Almirante, o padre, os marinheiros; as músicas fala em luta entre mouros e cristãos. Muita música na praça, uma banda de pífano dava voltas na calçada tocando em animação carnavalesca.


Na véspera de Natal, pouco depois das onze horas da noite retornávamos em bando, cada qual para sua casa na Avenida da Paz. Hora de abrir os presentes embaixo da árvore de Natal, o momento da alegria Nos empanturrávamos com a ceia, sempre havia peru assado. Uma hora da manhã começava a Missa do Galo no coreto da Avenida; várias famílias reunidas em torno do Coreto, parecíamos uma só família. A alegria tomava conta de todos 


Nos meus 12 anos ganhei no Natal o melhor presente de minha vida. Uma bicicleta Monark, vermelha, aro grande, uma belezura. Naquela noite assisti à missa do coreto montado na bicicleta, torcendo que acabasse rápido. Dei incontáveis voltas em torno da calçada da Avenida até meus pais me botarem para casa, cansado de tanto pedalar. No dia seguinte rodei com a bicicleta todo bairro de Jaraguá, Pajuçara, Ponta da Terra. Por muitos anos essa bicicleta foi minha companheira. Muitas vezes ia para o Colégio Diocesano (Marista) de bicicleta. Percorri toda Maceió em cima de minha amada Monark. Várias vezes desci a ladeira do Farol perigosamente guiando com os pés no guidão, as mãos soltas, menino sem juízo. Inesquecível aventuras. Ainda sinto o cheiro de borracha dos pneus furados, consertados com michelin.


Certa vez, correndo, descontrolei-me, bati com a bicicleta num muro, ela entortou, empenou. Mandei consertá-la num mecânico, me plantei na oficina, acompanhando como se ela fosse um parente sendo operado no hospital. Maior felicidade ver minha querida amiga renovada, rodando nos trinques. Natal me lembra generosidade, amizade, paz, lembra minha querida bicicleta Monark, o mais valioso presente de minha vida.