Uma nota de repúdio divulgada nas redes sociais pelo povo Xukuru-Kariri provocou forte repercussão política e social em Palmeira dos Índios. O documento critica duramente declarações feitas pelo vereador Lúcio Carlos Medeiros (União Brasil), consideradas ofensivas, desinformadas e atentatórias aos direitos dos povos indígenas, especialmente no que diz respeito aos processos de demarcação de terras.
Na nota, publicada no perfil oficial do povo Xukuru-Kariri no Instagram, as lideranças classificam como “inaceitável e profundamente grave” o pronunciamento do parlamentar, que teria utilizado redes sociais para atacar e tentar deslegitimar o trabalho do advogado indígena Dinamam Tuxá, uma das principais lideranças do movimento indígena brasileiro e defensor jurídico de diversos povos originários no país.

Segundo o texto, o ataque ao advogado não se limita a uma crítica pessoal, mas representa uma tentativa explícita de enfraquecer o movimento indígena organizado e fragilizar processos legais de demarcação de terras, constitucionalmente assegurados. A nota destaca que Dinamam Tuxá possui atuação reconhecida nacional e internacionalmente, com passagem por fóruns da ONU, conferências climáticas globais e articulações institucionais em defesa dos direitos indígenas.

Acusações de desinformação e oportunismo político
Os indígenas afirmam que o vereador demonstra desconhecimento histórico, jurídico e social sobre a realidade dos povos originários, além de agir de forma oportunista ao tentar associar interesses pessoais às lutas coletivas indígenas. O documento também rejeita comparações feitas pelo parlamentar com outros territórios, como Rodelas (BA), classificando-as como “acusatórias, oportunistas e sem sustentação factual”.

“A fala do vereador não se sustenta em fatos, mas em distorções caluniosas utilizadas para criminalizar o movimento indígena como estratégia política rasteira”, diz um dos trechos da nota, que ainda ressalta que povos indígenas e agricultores familiares não são inimigos, mas vítimas históricas de políticas estatais excludentes.
Pedido de providências institucionais

Diante da gravidade das declarações, o povo Xukuru-Kariri cobra a atuação da Comissão de Ética da Câmara Municipal, defendendo a instauração imediata de procedimento administrativo para apurar possível crime de calúnia e difamação contra lideranças indígenas e contra o movimento indígena organizado.

O texto finaliza com uma reafirmação contundente:
“Dr. Dinamam Tuxá não está só. O povo Xukuru-Kariri não está só. Não aceitaremos ataques, intimidações ou tentativas de silenciamento. Mandatos não autorizam ataques levianos nem a distorção da luta histórica dos povos originários.”
A nota é datada de 16 de dezembro de 2025 e reforça o clima de tensão entre o movimento indígena e setores da política local, reacendendo o debate sobre demarcação de terras, direitos constitucionais e os limites do discurso político nas redes sociais.

Procurado pela reportagem, o vereador Lúcio Carlos Medeiros não foi encontrado. Mas o espaço está aberto para manifestação.