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Desaceleração de pandemia faz Itália ter suspiro de alívio

26/03/2020
Desaceleração de pandemia faz Itália ter suspiro de alívio
'Somos um grande país', diz placa em Roma, capital da Itália

‘Somos um grande país’, diz placa em Roma, capital da Itália (foto: ANSA)

(ANSA) – Apesar da situação dramática vivida pela Itália na pandemia do novo coronavírus, os dados divulgados nos últimos dias indicam que a curva de contágios pode estar perto de se estabilizar.

O crescimento diário nos novos casos vem desacelerando constantemente há uma semana, até chegar ao mínimo de 7,5% nesta quarta-feira (25), de acordo com os dados divulgados pela Defesa Civil. Com o crescimento de 8,3% nesta quinta (26), já são três dias seguidos com taxa de evolução abaixo de 10%.

Para efeito de comparação, até 10 de março, quando começou a valer o decreto que colocou o país inteiro em isolamento, os novos contágios avançavam a uma média diária de 26,5%. É como se a Itália, antes afogada em notícias negativas sobre a pandemia, agora conseguisse colocar a cabeça para fora da água.

“No caso italiano, você já começa a notar os efeitos das políticas de restrição do contato social”, diz, em entrevista à ANSA, o físico teórico Roberto Kraenkel, integrante do Observatório Covid-19 BR, grupo de pesquisadores que monitora a situação da pandemia, e professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp).

Segundo Kraenkel, uma das maneiras de verificar essa desaceleração é olhar para o tempo de duplicação do número de casos. Quanto maior esse período, melhor. “Tem uma tendência desde 12 de março, vista de forma mais clara desde o dia 17, com o tempo de duplicação aumentando constantemente”, explica.

De acordo com o físico, o período necessário para dobrar os contágios na Itália está atualmente em cinco ou seis dias. “E isso é muito bom, antes era de dois dias”, acrescenta. Um exemplo prático: o país saltou de 1.128 casos para 2.036 entre 29 de fevereiro e 2 de março, mas precisou de cinco dias para passar de 17,6 mil para 35,7 mil (13/03-18/03) e de mais sete para superar os 70 mil (18/03-25/03).

Esses dados mostram que as políticas de isolamento social funcionam para desacelerar a pandemia, mas também evidenciam que é preciso pelo menos uma semana para que os resultados comecem a aparecer.

“Na China, foram necessários 12 dias para aparecer o efeito claro das medidas”, diz Kraenkel. Segundo o físico, o rigor das medidas de confinamento aumenta de acordo com o tempo que se demora para implementá-las.

Sobressaltos

A desaceleração no crescimento de novos casos na Itália não exclui a possibilidade de sobressaltos na curva. A região da Lombardia, por exemplo, teve um aumento nos contágios nesta quinta em relação aos últimos dias, o que puxou a média nacional para cima.

A Lombardia concentra 43,5% dos casos do país e está com hospitais em colapso por causa do grande número de internados – 12 mil, sendo 1,26 mil em UTIs. A situação é particularmente grave na província de Bergamo, onde pessoas falecem antes de serem testadas, e cemitérios e crematórios não conseguem dar conta do fluxo de mortos.

Mas, mesmo ali, no epicentro da pandemia, a percepção é de melhora. O agente humanitário Luca Blumer, coordenador do atendimento a solicitantes de refúgio da cooperativa La Fenice, vive a poucos quilômetros do hospital de Alzano Lombardo, cidade de 13 mil habitantes localizada na província de Bergamo, e conta que passou a ouvir menos ambulâncias circulando nos últimos dias.

“Isso quer dizer que há menos pessoas internadas no hospital. Era dramático ouvir as ambulâncias passando em sequência”, diz, em entrevista à ANSA. Segundo Blumer, a diminuição dos casos diários permite um “suspiro de alívio” na província mais atingida pela pandemia na Itália.

Sul

Enquanto a situação dá sinais de desaceleração no norte, as autoridades temem agora uma explosão dos casos no sul da Itália, que dispõe de menos recursos financeiros e sanitários.

“O anúncio de números de contágio mais contidos no norte arrisca ser apagado pelo fato de que a crise está para explodir de maneira dramática no sul. Os próximos dias serão um inferno para nós”, alertou nesta quarta-feira (25) o governador da Campânia, Vincenzo de Luca, que ganhou notoriedade no mundo ao ter ameaçado usar “lança-chamas” para dispersar quem sair às ruas.

Nos últimos cinco dias, o número de contágios cresceu 50,3% na Itália, mas avançou 77,3% nas oito regiões do sul: Abruzzo, Basilicata, Calábria, Campânia, Molise, Puglia, Sardenha e Sicília.

Outra ressalva diz respeito à subnotificação de casos. O próprio chefe da Defesa Civil, Angelo Borrelli, admitiu nesta semana que o número real de contágios pode ser até 10 vezes maior que o oficial, já que a maioria das regiões examina apenas pacientes sintomáticos – o que, por outro lado, eleva a taxa de letalidade da doença.