Geral

Juros longos têm queda firme com leitura do PIB, apesar de mau humor externo

03/12/2019

A leitura do PIB do terceiro trimestre, que veio acima da mediana das estimativas dos analistas, sustentou os juros em queda durante todo o dia, a despeito da aversão ao risco que pautou hoje os mercados internacionais. O efeito foi mais pronunciado na ponta longa, dada a percepção de que o crescimento da economia se dá com qualidade, o que anima apostas de que será sustentável e longevo. Ao mesmo tempo, ainda que acima do esperado por parte do mercado, o PIB não alterou as apostas de queda da Selic e, assim, a ponta curta encerrou com viés de baixa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,71% (regular) e 4,72% (estendida), de 4,749% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 5,90% (regular) e 5,89% (estendida), de 5,961% ontem. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 6,571% para 6,49% (regular) e 5,47% (estendida). O DI para janeiro de 2027 encerrou a regular em 6,81% e a estendida, em 6,80%, de 6,901% no ajuste.

“O crescimento maior do que o esperado por boa parte do mercado e as revisões anteriores ajudaram a reduzir a preocupação sobre a recuperação da economia. Em meio aos receios sobre o acordo entre EUA e China, o dado foi um alento, ajudando na redução dos prêmios na ponta longa”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. O PIB subiu 0,6% no terceiro trimestre ante o segundo e 1,2% ante o mesmo período de 2018, quando as medianas das estimativas eram de 0,40% e 1,00%. O IBGE revisou para cima uma série de números anteriores, entre eles o do PIB de 2018, de 1,1% para 1,3%.

Com isso, houve também uma onda de revisões em alta nas estimativas para o ano. Pesquisa do Projeções Broadcast mostrou que em 2019 o acréscimo esperado passou de 1,0% para 1,2%, segundo as medianas do levantamento preliminar do serviço especializado da Agência Estado com 24 instituições. No Boletim Focus, o consenso é de 0,99%.

Na ponta curta, o otimismo sobre a recuperação da atividade não mudou a percepção de que há espaço para a Selic ir ainda mais abaixo e, por isso, as taxas também tiveram alívio, ainda que menor do que as longas, configurando perda de inclinação da curva. O economista-chefe da Guide Investimentos, João Mauricio Rosal, destaca que, apesar da perspectiva positiva para a atividade, o hiato do produto seguirá bastante aberto antes de comprometer a política monetária. “Mesmo que crescendo robustamente no ano que vem, continuaremos abaixo do pico histórico”, disse.

A empolgação com a economia doméstica contrastou com o clima pesado no exterior, permeado pelo pessimismo em torno do fechamento de um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos – após o presidente Donald Trump sinalizar não ter pressa nas negociações – e consequências sobre a economia mundial. “Os dados do PIB sugerem que estamos blindados dessa desaceleração global”, disse Rostagno. Como efeito da aversão ao risco, mas que desta vez não castigou os ativos locais, os rendimentos dos Treasuries tombaram e o dólar teve perda generalizada.

Autor: Denise Abarca
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.