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Vietnamita acolhe crianças para evitar abortos em seu país

15/09/2016
Vietnamita acolhe crianças para evitar abortos em seu país
Tong Phuoc Phuc acolhe em sua casa bebês cujas mães não podem cuidar deles (Foto: Reprodução/Facebook/Tống Phước Phúc Orphanage)

Tong Phuoc Phuc acolhe em sua casa bebês cujas mães não podem cuidar deles (Foto: Reprodução/Facebook/Tống Phước Phúc Orphanage)

O vietnamita Tong Phuoc Phuc está há 15 anos acolhendo em sua casa bebês cujas mães não podem cuidar deles e enterrando milhares de fetos abortados em dois cemitérios que criou na cidade de Nha Trang, no sul do país.

Phuc, de 53 anos, se senta em uma cadeira na sala de estar de sua casa, rodeado de 15 crianças que correm pelos cantos e só se acalmam quando o pai adotivo liga o televisor e aparecem os desenhos.

Eles têm entre 3 e 12 anos e embora não os tenha concebido, os considera seus filhos, já que vivem com ele desde que nasceram.

“Cheguei a ter 50 em casa, mas o governo disse que eram muitos e tive que enviá-los a um orfanato administrado pela Igreja Católica. Agora tenho 18”, explicou à Agência Efe.

“O governo também me obrigou a transformar a casa em um orfanato para poder registrar as crianças e escolarizá-las. Agora temos quatro mulheres trabalhando conosco”, acrescenta.

Todas as crianças o chamam de pai em vietnamita e compartilham, segundo seu sexo, um nome comum: Vinh (honra) para os meninos e Tam (coração) para as meninas.

“O segundo e o terceiro nome (os nomes vietnamitas sempre são compostos) são o de suas mães e meu sobrenome”, aponta.

Embora receba ajuda de sua esposa e de suas quatro funcionárias, Phuc se preocupa muito com a educação dos pequenos e especialmente com seus resultados escolares.

“Todos os anos organizamos uma viagem juntos para algum lugar do Vietnã, mas digo que para vir é preciso tirar boas notas”, disse, enquanto mostrava um maço com todos os registros acadêmicos.

Este devoto da religião católica começou a receber crianças, mulheres grávida e mães de recém-nascidos em 2001, pouco depois do nascimento do primeiro de seus dois filhos biológicos.

“Quando estava no hospital pelo parto da minha esposa, uma mulher abortou e me dei conta de que era um grande problema no Vietnã. Pensei que tinha que fazer algo para evitar”, indica.

Embora muitos de seus vizinhos lhe tacharam de louco por assumir uma carga que não lhe correspondia, Phuc começou a fazer contato com mães que queriam abortar para convencê-las do contrário.

Além de boas palavras e conselhos éticos, Phuc lhes ofereceu sua casa e cuidar ele mesmo das crianças enquanto essas mães não pudessem.

“Em sua maioria são estudantes muito jovens, com três ou quatro meses de gravidez que estão assustadas por conta de suas famílias, por não ter dinheiro, pelos pais que as abandonaram”, explica.

A princípio acolheu quatro mulheres grávidas em sua casa, mas cada vez mais foram chegando mulheres e crianças recém-nascidas.

Após os dois ou três primeiros meses de vida das crianças, Phuc pede às mães que decidam se voltarão a seu lugar de origem, se ficarão mais tempo na casa com a criança ou se vão deixando o bebê com ele.

Proprietário de uma pequena fazenda agrícola e antigo funcionário terceirizado imobiliário, obtém os alimentos de sua horta e sua pequena fazenda, que também lhe proporciona algum ingresso.

“O mais difícil é pagar pelo leite em pó dos bebês. Quando recebemos doações, só reservo o dinheiro para isso”, comenta.

Além do cuidado das crianças e as grávidas, Phuc está empenhado a fazer que todos os fetos abortados na região recebam sepultura.

Vietnã é o país asiático com maior índice de interrupções voluntárias da gravidez, com mais de um milhão por ano, e Phuc quase todos os dias recebe uma chamada do hospital para avisar sobre um novo caso.

Phuc explicou como limpa o feto com vinho de arroz, o introduz em uma caixa e o enterra sob uma lápide minúscula.

Ele calcula que nestes anos foram sepultados cerca de 14 mil em dois terrenos: um cemitério foi criado para isso e, nos últimos anos, uma terra adjacente a sua fazenda também é usada com esse fim.

Muitas das lápides, do tamanho de um azulejo, estão adornadas com uma flor de plástico, algumas levam inscrito um nome cristão, outras só “a data de nascimento e de morte” (a mesma), enquanto poucas (as de crianças que morreram ao nascer) estão decoradas com brinquedos ou mamadeiras.

Apesar da despesa que lhe ocasionou a construção do cemitério e a manutenção de tantas crianças e mulheres (perdeu a conta de quantas passaram por sua casa), Phuc se diz cansado, mas feliz. “Sigo o ditado do meu coração”, afirma.