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A massoterapeuta

18/09/2016
A massoterapeuta

– “Como é ruim desconfiar da mulher”, pensava Pedro Clementino tomando cerveja, sozinho, no Bar da Biu. “Cicinha tem outro cara ou está fazendo programa. Todo dia uma novidade, celular, vestidos, calcinhas bonitas entrando pela bunda, até presente para mim. Cada dia mais gostosa, mais bonita. Seu salário não dá para isso, de onde vem esse dinheiro? Não nasci para ser corno. Vou descobrir tudinho”. Martirizava-se em dúvidas o jovem Pedro.

Tudo começou quando Pedro Clementino veio do sertão tentar a sorte na capital. Por lá não havia possibilidades de emprego, nem melhoria de vida, a população vive praticamente da bolsa família ou aposentadoria do INSS. Pedro ao chegar no Jacintinho foi morar num quarto alugado de uma casa apertada, mal lhe cabia. Arranjou seu primeiro emprego, servente de pedreiro em uma construção no Tabuleiro, passou a sobreviver do salário mínimo.

Logo descobriu as praias da capital, a coisa mais linda e exuberante de sua vida. Todo domingo desce a ladeira do Jacintinho rumo à Jatiúca, se esbalda na areia da praia, um menino, melado feito um bife à milanesa mergulha no mar azul esverdeado.

Cicinha empregada doméstica em um belo apartamento na orla da Ponta Verde, morava com a mãe, conheceu Pedro num bar enquanto ele dedilhava um velho violão cantando músicas ouvidas no rádio. Ao avistá-la, sorriu, paixão repentina, Cicinha, bela morena, olhos negros, constante sorriso nos lábios, correspondeu aos olhares insistentes de Pedro. Nessa mesma noite se amaram no quarto apertado, começava uma história de amor. Os dois, 24 anos, se deram bem, divertiam-se nos bares, nas praias, na cama além do amor, Cicinha dava-lhe uma massagem relaxante. Resolveram se juntar, mudaram-se para uma casa pequena, aluguel R$ 200,00, dividiam. Pobres não se casam, acasalam-se. Assim se passaram dois anos de felicidade e muito amor, preveniam-se da gravidez.

Cicinha tem uma rotina no emprego, às sete horas prepara um suco de laranja para o patrão, antes dele caminhar na orla. Ao retornar Dr. Sílvio toma um café reforçado. O rico comerciante, coroa bonito, casado pela terceira vez, em torno das oito horas ruma ao trabalho, enquanto Michelle, a esposa, vinte e cinco anos mais nova, acorda às 10, um suco para despertar, vai à Academia, malha duas horas seguidas, é seu grande sacrifício pela pátria e a família. Se mantém gostosa aos 40 anos.

No fim de semana Cicinha carrega o companheiro para praia, cerveja gelada, acarajé, ele é excelente companhia , se lambuza na areia, aluga uma bóia e parte mar adentro. Algumas brigas normais, entretanto, a cama e a massagem são aliados do amor.

Certa manhã Cicinha chegou atrasada no emprego, Dona Michelle estava em São Paulo comprando roupas nas Zara da vida. A empregada não teve tempo de colocar a farda de doméstica, ainda de mini saia preparava o suco do patrão, Dr. Sílvio percebeu a beleza de seu corpo. Durante a caminhada, surgia na mente as pernas da empregada. No retorno o patrão sentado à mesa da cozinha, esperou o café reforçado enquanto admirava o corpo de Cicinha fritando ovo. O patrão não aguentou, levantou se, encostou-se em Cicinha, ela sentiu o volume por trás, tomou um susto, “que é isso Dr. Sílvio?” disse acanhada, repreendendo-o. O patrão voltou a sentar enquanto ela servia o café. Dr. Sílvio, homem de pouca conversa, foi taxativo. “Olha Cicinha não sou mais uma criança, tento viver a verdade da vida. Hoje lhe descobri, vou fazer-lhe uma proposta, dou-lhe o que quiser por uns abraços, um toque.” Ela voltou ao fogão enquanto ele comia, olhava de lado. Silêncio sepulcral Ao levantar-se Dr. Sílvio abraçou-a por trás, ela gostou, levantou-a rumo ao quarto de empregada, fizeram amor. Cicinha complementou uma massagem, o patrão sentiu-se leve, disposto, sem as constantes dores na coluna. Ao sair deixou-lhe num envelope seis notas de R$ 50,00. Dr. Sílvio não pode mais viver sem a massagem de Cicinha, duas vezes por semana, leva-a a um motel, sai feliz da vida, corpo e alma leve como uma pluma.

Foi difícil explicar a Pedro ao pedir satisfação daquela “riqueza” repentina. Cicinha contou a verdade, pela metade. “Numa manhã o patrão reclamava de dores lombares, ofereci uma massagem, aprendi num curso, tenho força nas mãos, foi sucesso. Agora faço massagem duas vezes por semana no patrão e na patroa, eles me pagam R$ 50,00 cada massagem. Um dia vou deixar meu emprego, quero viver só de massagem, fiz curso, sou massoterapeuta. Vou ficar rica e deixo você.” Disse brincando, abraçando seu homem.

Pedro Clementino, satisfeito com a explicação, beijou-lhe os lábios, o pescoço, amou-a. Estão vivendo felizes como se fosse para sempre.