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Luta por justiça marca solenidade de entrega do Prêmio Alagoas de Direitos Humanos

09/12/2019
Luta por justiça marca solenidade de entrega do Prêmio Alagoas de Direitos Humanos

Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, vereadora pelo Rio de Janeiro assassinada brutalmente em março de 2018, foi o nome nacional escolhido para levar para casa o título vencedora do Prêmio Alagoas de Direitos humanos

A humanidade é a palavra chave que liga os povos de todos os lugares, idades e cores. Um vocábulo simples que representa também o ato de assemelhar-se ao outro, reconhecer a si mesmo no próximo e, portanto, tratar dele com dignidade. Foi por tal princípio que, há quase 71 anos, em 10 de dezembro de 1948, líderes de diversos países se reuniram em Paris para assinar um documento de comum acordo para o desenvolvimento do mundo: a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Declaração lista os direitos básicos de mulheres e homens para condições de existência, como o direito à vida, à saúde, à propriedade, à migração e outros, sendo ainda um os documentos mais importantes da humanidade. Em celebração ao seu aniversário, a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos realizou, na noite da última sexta-feira (7), a solenidade de entrega da segunda edição do Prêmio Alagoas de Direitos Humanos, no hotel Ritz Lagoa da Anta, no bairro de Jatiúca, em Maceió.

Com resquícios de elegância, o evento, gratuito e aberto ao público, reuniu uma plateia diversa e atenta. Foram cerca de 300 pessoas acomodadas na sala Pontes de Miranda, tendo entre as autoridades presentes, presidentes de conselhos estaduais, políticos e representantes de outros governos. “O Prêmio Alagoas de Direitos Humanos se tornou um importantíssimo instrumento para reconhecer e valorizar as práticas em prol dos direitos humanos realizadas em Alagoas e no Brasil. São temas de grande urgência e relevância, ainda mais em tempos tão inóspitos”, conta Maria Silva, secretária da Mulher e dos Direitos Humanos.

Evento reuniu cerca de 300 pessoas para celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Ascom Semudh)

As homenagens foram tomadas de emoção do início ao fim. O público acompanhou a entrega dos troféus com suspiros, sorrisos, lágrimas e até gritos de palavras de ordem. “Quem mandou matar Marielle?”, disse a cerimonialista da noite com a voz embargada e sob aplausos. “Quem mandou matar Marielle?”, repetia uma faixa aberta pelo público no momento em que Monica Benicio foi chamada para receber suas homenagens. Monica, viúva de Marielle Franco, vereadora pelo Rio de Janeiro assassinada brutalmente em março de 2018, foi o nome nacional escolhido para levar para casa o título vencedora do Prêmio Alagoas de Direitos humanos.

“Num ano como esse, num governo como esse, ser defensor dos direitos humanos é um risco, num dos países que mais mata os defensores de direitos humanos no mundo. É uma responsabilidade, mas uma responsabilidade que eu faço com muito afeto, principalmente quando a gente tem tantos outros homenageados que inspiram. A gente vê que a luta vale”, destacou Monica.

Evento reuniu cerca de 300 pessoas para celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Ascom Semudh)

Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e homenageado especial, não pôde comparecer ao evento por motivos de força maior. Seu representante, vice-presidente da comissão nacional de Direitos Humanos da OAB, Everaldo Patriota, recebeu as honras e lembrou ao público a valiosidade da democracia. “Não democracia sem participação popular, sem controle social”, disse. O Padre Manoel Henrique, conhecido pelos muitos anos de paróquia e a militância social, encheu todos os presentes com a emoção de algumas histórias. “Para mim é uma grande honra estar hoje aqui ao lado de vocês. Muito obrigada”, disse.

O Prêmio também homenageou a história de alagoanos que resistiram à Ditadura Militar. Marivone Loureiro, que levou para casa o prêmio Guerreira dos Direitos Humanos, lembrou de suas perdas durante o período mais obscuro da história do país e fez um breve histórico de sua vida na militância – que ainda não acabou. “Também queria agradecer a oportunidade de aqui estar mais uma vez ao lado de padre Manoel, que celebrou meu casamento e batizou meus filhos mesmo quando me acusavam de terrorismo”, disse.

Evento reuniu cerca de 300 pessoas para celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Ascom Semudh)

Outras duas homenagens foram póstumas, para o jornalista e advogado Jayme Miranda e a estudante de economia Gastone Beltrão. Os familiares receberam as honras e lembraram da importância da luta por memória e justiça, que também são direitos e deveriam ser garantidos.

A sargento Haydée agradeceu ao seu programa do Ronda no Bairro e a oportunidade de fazer policiamento de proximidade. A coronel Valdenize lembrou a importância de trabalhar com a prevenção e o público jovem. “Fiz da minha profissão o meu sacerdócio”, disse. Carlos Jorge da Silva Santos, idealizador do Instituto Manda Ver, lembrou que esperança é o ideal que nunca pode ser perdido, porque é a chave de qualquer mudança.