O governo federal reagiu à propagação de notícias falsas sobre uma suposta taxação de transações financeiras acima de R$ 5 mil, atribuída ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As mensagens, compartilhadas pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e por páginas bolsonaristas nas redes sociais, foram desmentidas pela Receita Federal em nota pública, que classificou a fake news como "destinada a enganar as pessoas", sem citar o parlamentar diretamente.

Estratégia eleitoral e repercussão digital

O episódio ocorre quase um ano após a chamada "crise do Pix", quando desinformações sobre normas do Fisco prejudicaram a popularidade do governo Lula nos primeiros meses de 2025. A situação reforça a estratégia da oposição de explorar o tema da tributação para desgastar o Planalto.

Na postagem replicada por Nikolas no X, originalmente publicada por um perfil bolsonarista, alega-se que o governo implantaria uma tarifa de 27,5% para trabalhadores que movimentassem mais de R$ 5 mil por mês a partir de 2026. A Receita Federal, contudo, afirmou que a informação "é completamente falsa".

Segundo o órgão, "a Constituição Federal proíbe a tributação de movimentações financeiras. Isso não existe e nunca irá existir nos termos da Constituição atual. Não existe tributação por movimentação financeira".

Busca por esclarecimentos e novas fake news

Mesmo após o comunicado oficial, os termos “Receita Federal imposto” e “Receita Federal taxação” figuraram entre os mais buscados na terça-feira, de acordo com o Google Trends. Também circulou nas redes sociais a falsa informação de que haveria uma multa de 150% para quem não pagasse o suposto tributo. “A Receita Federal esclarece que disseminar mentiras, fake news e pânico financeiro interessa apenas a criminosos”, diz outro trecho da nota. As informações falsas também foram desmentidas pelos perfis oficiais do governo e do Ministério da Fazenda.

No início do ano, uma instrução normativa para ampliar a fiscalização de transferências via Pix já havia motivado uma onda de notícias falsas, sugerindo que o governo planejava taxar as transações. Na ocasião, Nikolas publicou um vídeo sobre o tema, que viralizou e ampliou a reação da direita bolsonarista. A norma foi revogada pela Receita Federal no dia seguinte à publicação do parlamentar, após o desgaste provocado pela desinformação.

A crise também reavivou críticas à chamada "taxa das blusinhas", proposta do governo para taxar compras de até US$ 50 do exterior. Desde abril de 2023, a medida é alvo de parlamentares da oposição, que apelidaram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de "Taxad". Preocupada com o impacto popular, a pasta recuou inicialmente, mas a tributação foi aprovada pelo Congresso — com voto favorável da maioria da bancada bolsonarista — e sancionada por Lula em 2024.

Em maio, o Planalto voltou a ser alvo de críticas da direita bolsonarista pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), proposta que acabou rejeitada pelo Congresso. Já em novembro, o presidente sancionou o projeto que isenta do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil mensais.