Variedades
Filme de Sorrentino que abrirá Veneza fala sobre amor e política
'La Grazia' se inspira em decisão tomada por Mattarella

O novo filme do diretor italiano Paolo Sorrentino, "La Grazia", escolhido para abrir o 82º Festival de Cinema de Veneza, nesta quarta-feira (27) é "sobre amor, dúvida, política" e foi inspirada em uma decisão tomada pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, para perdoar ou não um homem que matou a própria esposa.
"É um filme sobre amor. Não apenas o amor imediato, que diz respeito à história, mas também o amor em sentido amplo por uma esposa, uma filha, e também pelas instituições, pela lei, e até mesmo o amor por uma forma de fazer política que, infelizmente, está cada vez mais ultrapassada, uma forma que estava ligada ao exercício da dúvida e da responsabilidade", afirmou o cineasta à imprensa no Lido.
Na obra, que recebeu muitos aplausos durante a exibição para jornalistas no Festival de Venezia, Mariano De Santis, interpretado por Toni Servillo, é o fictício presidente da República, viúvo e católico, que mora no Palácio do Quirinale com sua filha, Dorotea (Anna Ferzetti), jurista como ele.
O mandatário está no fim de seu mandato e precisa decidir sobre dois delicados pedidos de perdão, ambos relacionados à eutanásia. No entanto, no fundo do coração dele permanece o grande amor pela esposa, falecida há oito anos, somado a uma dúvida que o assombra.
"O exercício da dúvida é uma das qualidades raramente vistas na política. A degeneração da dúvida na Primeira República era chamada de imobilidade. Mas em questões como conceder o perdão a um assassino ou assinar uma lei sobre a eutanásia, o exercício da dúvida deveria ser uma condição indispensável", comentou Sorrentino.
De acordo com o vencedor do Oscar, "vemos com muita frequência homens de poder exercendo certezas. Só que antigamente essas certezas eram sustentadas por ideologias", mas "hoje, elas são, em sua maioria, bizarras".
Falando sobre as características do filme, o diretor italiano revelou ainda que a inspiração para produzir "La Grazia" veio de "uma notícia sobre o fato de o presidente da Itália, Sergio Mattarella, ter perdoado um homem que matou sua esposa, que sofria de Alzheimer".
"Portanto, o fato de um presidente da República ter essa atitude perante a vida e toda uma série de valores que a política deve sempre incorporar realmente me impressionou. Porque a política deve frequentemente gerar dúvidas", concluiu.
Sobre a eutanásia, um dos temas centrais do filme, quando o presidente De Santis, um homem íntegro e de fé, é convidado a assinar uma lei que finalmente a regulamentará no país, Sorrentino enfatiza: "O gancho narrativo, a eutanásia, é certamente um dilema moral, e este tema exacerba esse dilema".
Para ele, este é "um assunto em que a escolha é verdadeiramente difícil, cheia de nuances". "Uma escolha não apenas entre o bem e o mal, e é preciso dizer que, como espectador, sempre detestei filmes que tentam apontar um lado ou outro".
O longa marca a sétima colaboração do cineasta com Servillo, protagonista do premiado "A Grande Beleza", que rendeu a Sorrentino o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.
O ator italiano fez questão de ressaltar que não se inspirou em nenhum presidente, passado ou presente, mas o que mais o impressionou nessa nova experiência com Sorrentino foi "sua grande capacidade de revitalizar, de fazer algo totalmente diferente do que veio antes".
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