Geral

Moléculas da vida são encontradas ao redor de estrela jovem, desafiando teorias (IMAGENS)

Sputinik Brasil 17/08/2025
Moléculas da vida são encontradas ao redor de estrela jovem, desafiando teorias (IMAGENS)
Foto: © Foto / A. Angelich (NRAO/AUI/NSF)/ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)

Pela primeira vez, cientistas detectaram moléculas precursoras de açúcares e aminoácidos no disco de poeira e gás ao redor de uma estrela recém-nascida. A descoberta, feita com o observatório ALMA, revela que os blocos fundamentais da vida podem surgir antes mesmo da formação completa de estrelas e planetas.

Moléculas precursoras de açúcares e aminoácidos foram detectadas pela primeira vez em um disco de poeira e gás ao redor de uma estrela recém-nascida, revelando que a química da vida pode começar antes mesmo da formação completa de estrelas e planetas. Por outras palavras, os blocos fundamentais ao surgimento da vida podem surgir em estágios extremamente primitivos do desenvolvimento estelar.

Segundo o astroquímico Kamber Schwarz, do Instituto Max Planck de Astronomia, os discos protoplanetários parecem herdar essas moléculas complexas de fases anteriores, e sua formação pode continuar durante o próprio estágio do disco. Isso desafia a ideia de que as violentas atividades das estrelas jovens destruiriam tais compostos, indicando que a vida pode ter raízes mais profundas no cosmos do que se pensava.

Impressão artística mostra o disco de formação planetária ao redor da estrela V883 Orionis. Na parte mais externa do disco, gases voláteis estão congelados, que contém moléculas orgânicas complexas. Uma explosão de energia da estrela aquece o disco interno a uma temperatura que evapora o gelo e libera as moléculas complexas, permitindo que os astrônomos o detectem. A imagem inserida mostra a estrutura química das moléculas orgânicas complexas detectadas e presumidas no disco protoplanetário (da esquerda para a direita): propionitrila (cianeto de etila), glicolonitrila, alanina, glicina, etilenoglicol, acetonitrila (cianeto de metila)
Impressão artística mostra o disco de formação planetária ao redor da estrela V883 Orionis. Na parte mais externa do disco, gases voláteis estão congelados, que contém moléculas orgânicas complexas. Uma explosão de energia da estrela aquece o disco interno a uma temperatura que evapora o gelo e libera as moléculas complexas, permitindo que os astrônomos o detectem. A imagem inserida mostra a estrutura química das moléculas orgânicas complexas detectadas e presumidas no disco protoplanetário (da esquerda para a direita): propionitrila (cianeto de etila), glicolonitrila, alanina, glicina, etilenoglicol, acetonitrila (cianeto de metila)

Estrelas e planetas nascem de nuvens densas de gás e poeira que colapsam sob a gravidade, formando massas giratórias. O material dessas nuvens continua a alimentar a estrela em formação, criando um disco ao seu redor. Com o tempo, os ventos estelares e a radiação dispersam parte desse material, e o que sobra forma os planetas — literalmente, restos de estrelas.

Tradicionalmente, acreditava-se que as erupções intensas de protoestrelas impediriam a sobrevivência de biomoléculas nos discos protoplanetários. Assim, pensava-se que essas moléculas só poderiam se formar após a fase mais turbulenta da estrela. No entanto, a descoberta recente desafia essa suposição.

A estrela em questão, V883 Orionis, localizada a cerca de 1.350 anos-luz, ainda está em sua fase destrutiva. Utilizando o observatório ALMA, no Chile, uma equipe liderada por Abubakar Fadul identificou pelo menos 17 moléculas orgânicas complexas no disco ao redor da estrela, incluindo etilenoglicol e glicolonitrila — precursores de aminoácidos e nucleobases.

A presença dessas moléculas sugere que elas foram herdadas da nuvem molecular original, preenchendo uma lacuna entre a química interestelar e a bioquímica planetária. Fadul destaca que essa descoberta revela uma linha contínua de enriquecimento químico desde as nuvens interestelares até sistemas planetários evoluídos, reforçando a ideia de que os ingredientes da vida são comuns no Universo.

Essas moléculas provavelmente se formaram em grãos de gelo nas nuvens, que se aglomeraram em objetos gelados. Com o aquecimento da estrela em crescimento, o gelo sublimou, liberando as moléculas no disco. Embora o sinal detectado seja fraco, futuras observações com maior resolução poderão confirmar e expandir a lista de moléculas encontradas, especialmente as que contêm nitrogênio, que apareceram em níveis baixos.