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Laboratório

Péricles é um professor talentoso, dedica sua vida ao magistério, ensina em colégios e faculdades. Seus sessenta e alguns anos, raros cabelos brancos, dão-lhe um ar respeitável, como gosta de sê-lo.
Durante o tempo de professor, Péricles jamais aceitou as prevaricações descaradas iguais as dos colegas, é crítico às aventuras de professor com alunas.
Mas, o demônio surge sem percebermos, sem desconfiarmos de que forma, muitas vezes ele aparece travestido de mulher bonita, sabe das fraquezas humanas. Certa vez o satanás incorporou-se em Helena, aluna bonita, cabelos pretos, longos, olhos grandes, amendoados, sobrancelhas cerradas, pele macia, uma perdição.
Final do ano passado, perto da formatura da turma, Péricles notou estranho comportamento de Helena, todo final de aula passava a tirar dúvidas com o professor. Péricles se prontificava, entretanto, sentia-se constrangido com a proximidade daquela aluna. Ele ficava excitado quando ela se achegava mais perto vestindo saia curta, exibindo as pernas, uma borboleta colorida tatuada nas costas. Aquela tatuagem deixava Péricles quase afônico, gaguejava nas explicações. O diabinho percebeu a fraqueza do professor, resolveu diariamente sentar-se na primeira fila. Durante a aula, Helena, descuidada, abria as pernas com classe e sensualidade. Péricles percebeu, ela mostrava a calcinha apenas para ele.
A aluna não saía de sua cabeça, sonhava com as pernas, a calcinha branca e a tatuagem.
Certa manhã, após as aulas, a jovem pediu para tirar uma dúvida. O professor esperou os alunos saírem, sentaram-se, ele foi um pouco ríspido.
— Helena, você sempre foi uma moça comportada, discreta; de um tempo para cá tenho notado mudança em seu comportamento, principalmente seus vestidos, suas saias curtas, suas calças justas. Quero pedir dois favores: que assista às minhas aulas mais composta e que se sente nas últimas bancas.
Falou rápido com certo nervosismo esperando alguma resposta da aluna. Contudo, ficou sem ação, nocauteado, ao ver Helena levantar-se, caminhar até a porta da sala, trancá-la com chave, retornar sorrindo, abrindo o zíper da calça jeans, deixou-a cair. Péricles não resistiu quando a moça o abraçou, deitaram-se por trás do birô. Fizeram amor, ali na sacro santa sala de aulas.
Ao terminar ele sentiu-se culpado, vexado. A aluna cochichou em seu ouvido.
— Quero mais amanhã, você não trabalha à tarde, lhe espero na praia da Jatiúca, estarei discretamente perto da escultura do poeta Lêdo Ivo, às quatro horas.
Ele emudeceu olhando Helena se afastar, abrir a porta, e desaparecer. O comportado professor passou o resto do dia e a noite pensando naquele pecado. Quando o diabo atenta, difícil enjeitar. Na tarde seguinte, perto da escultura, estava Helena, mais bela que nunca. Levou-a ao motel, ficou louco com as invencionices da aluna na cama.
Todos os dias achavam uma maneira de se amarem no motel. Até que numa manhã de segunda-feira, depois de dois meses de amor ininterrupto, Péricles ficou surpreso, Helena, com roupa composta, entrou na sala, mal cumprimentou o professor. Assim continuou até o final do curso. Evitava falar com o professor.
Em momento propício, Péricles tomou coragem, pediu um particular, perguntou o motivo daquele distanciamento, ele estava louco de paixão, querendo amor. Ela respondeu com tranquilidade, sem algum remorso:
— Não me leve a mal, professor, eu desejava experimentar o amor de um coroa bonito como o senhor. Gostei e ponto final. Vou me casar em fevereiro, precisava dessa experiência, foi um laboratório. Meu futuro marido é mais jovem, me disse que é virgem. Eu precisava de uma experiência descompromissada. Acho que escolhi bem, agradeço ao senhor, desculpe eu fazê-lo de laboratório. Seus dedos, suas mãos, seus lábios, marcaram todo meu corpo, momentos deliciosos, entretanto, pretendo ser fiel a meu marido, não vou repetir. Obrigada por tudo, professor, o senhor foi maravilhoso.
No dia da formatura Péricles recebeu um formal aperto de mão e um piscar de olho maroto de Helena, cumplicidade de dois meses de amor, dois meses de experiência, dois meses de laboratório, dois meses inesquecíveis.
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