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Ozempic e similares passam a exigir receita médica retida para compra

Vanessa Lima 23/06/2025
Ozempic e similares passam a exigir receita médica retida para compra

A partir desta segunda-feira (23), a venda de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Saxenda – conhecidos como “canetas emagrecedoras” – passa a exigir receita médica retida, conforme nova determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida, que altera a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 471/2021, busca coibir o uso indiscriminado desses remédios fora das indicações clínicas aprovadas.

Desenvolvidos originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, os agonistas do receptor GLP-1 passaram a ser usados também para controle da obesidade. No entanto, seu consumo cresceu entre pessoas que desejam perder peso rapidamente, mesmo sem acompanhamento médico – o que acendeu alerta entre profissionais da saúde.

Segundo a Anvisa, a retenção da receita, que já era exigida por lei para medicamentos com tarja vermelha, será agora obrigatoriamente fiscalizada. Na prática, muitos estabelecimentos vinham vendendo esses medicamentos sem solicitar a prescrição.

Um estudo apresentado pela pesquisadora da USP Thamires Capello revelou que 45% dos consumidores compraram os medicamentos sem qualquer orientação médica. Desses, 73% jamais foram acompanhados por um profissional de saúde, e mais da metade utilizou os fármacos apenas para emagrecer.

O uso descontrolado pode trazer efeitos colaterais sérios, como náusea, vômito, desnutrição, perda de massa muscular, queda de cabelo e deficiência de vitaminas. Além disso, há risco de pancreatite, distúrbios gastrointestinais e problemas na tireoide, especialmente em casos de uso prolongado ou com dosagens irregulares.

Também há contraindicações importantes: pessoas com histórico de pancreatite, grávidas, lactantes ou com casos de câncer medular da tireoide na família não devem usar essas substâncias.

Segundo endocrinologistas como Cristina Schreiber e Samara Rodrigues, embora os medicamentos tragam benefícios no controle da obesidade e da glicemia quando bem indicados, seu uso sem monitoramento pode provocar sérias complicações, além de levar ao chamado “efeito rebote” — quando o peso perdido retorna de forma acelerada após a suspensão do remédio.

Dados revelam que o número de prescrições de medicamentos para perda de peso aumentou 41% entre 2021 e 2022 no Brasil. Um levantamento da Anvisa identificou um volume significativamente maior de efeitos adversos no país do que em outros lugares do mundo, em decorrência do uso fora da bula.

A situação levou ao aumento de apreensões de produtos falsificados e contrabandeados. Só em 2025, mais de 350 apreensões foram registradas em aeroportos brasileiros. Em apenas duas operações no Aeroporto Internacional do Recife, a Receita Federal confiscou mais de 600 unidades de canetas.

Médicos ressaltam que a obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que exige tratamento contínuo, individualizado e baseado em hábitos saudáveis. O uso de medicamentos deve ser parte de um plano terapêutico acompanhado por endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas.

A obesidade atinge mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, sendo um dos maiores desafios de saúde pública. No Brasil, mais da metade da população adulta apresenta sobrepeso ou obesidade. Em muitos casos, o tratamento farmacológico é necessário — mas deve ser seguro, responsável e monitorado.

Em nota, a farmacêutica Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e Wegovy, afirmou que compartilha das mesmas preocupações da Anvisa quanto ao uso irregular dos medicamentos.