Internacional

Análise: China engloba a Colômbia, um parceiro histórico dos EUA, à iniciativa Cinturão e Rota

26/05/2025
Análise: China engloba a Colômbia, um parceiro histórico dos EUA, à iniciativa Cinturão e Rota
Foto: © AP Photo / Andy Wong

Em entrevista ao podcast Mundioka, especialistas afirmam que a entrada da Colômbia na iniciativa comercial global de Pequim mostra que a América Latina 'entrou em outro circuito', adotando um papel independente e autônomo frente aos EUA.

A Colômbia decidiu ingressar na iniciativa chinesa Cinturão e Rota, popularmente conhecida como Nova Rota da Seda. A decisão foi tomada após o IV Fórum da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC)-China, realizado em Pequim no dia 13 de maio, na qual o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou uma linha de crédito de quase US$ 10 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões) para a América Latina.

Entre os objetivos de Bogotá ao estreitar laços com a China está o fortalecimento da cooperação bilateral em infraestrutura, comércio, tecnologia e energia. Tais medidas representam um marco significativo para a política externa da Colômbia, um aliado histórico dos EUA.

Andrew Traumann, professor de relações internacionais da Unicuritiba, lembra ao Mundioka podcast da Sputnik Brasil, que já há 21 países no continente americano integrando a iniciativa Cinturão e Rota.

A entrada da Colômbia, no entanto, tem um caráter disruptivo, pelo fato de ser "o país com o maior alinhamento com os EUA" na história do continente. Ele frisa que a Colômbia tem uma característica geográfica estratégica, por ser um país que ao mesmo tempo é amazônico, caribenho e andino, ou seja, engloba três regiões da América Latina.

"É um país que tem um mercado muito grande, é um país que tem um potencial de crescimento muito grande, um país que produz petróleo, que produz minério, que tem um grande potencial turístico. E a gente vê, então, a China em um momento muito delicado, conturbado, da geopolítica internacional desde a posse de Donald Trump tentando estender ainda mais os seus braços em uma região que historicamente é de órbita de influência norte-americana."

Questionado sobre por que a Colômbia aceitou aderir a uma iniciativa que foi rejeitada por Brasil e Rússia, Traumann explica que, a Colômbia tem uma necessidade que o Brasil não tem por ser um país rico em recursos e de dimensões continentais.

"Porque se a gente for ver a maioria dos países que aderiram [à iniciativa] são países mais pobres. Só países africanos são mais de 50. Então são países que aderem pensando 'Vai ter alguém aqui investindo em infraestrutura'. [...] Então quando aparece essa oportunidade de alguém investir para você assim geralmente é aceito. A Colômbia está entrando nisso por necessidade."

Ao podcast, Maria Elena Rodríguez, professora de relações internacionais da PUC-Rio, enfatiza não ter dúvidas de que o estreitamento de laços entre China e Colômbia não agrada os EUA, mas afirma que o ingresso do país latino-americano na iniciativa Cinturão e Rota é bastante estratégico.

Ela explica que no memorando de entendimento assinado para a adesão à iniciativa, Petro tinha principalmente como foco "projetos de transição energética, segurança alimentar, reindustrialização, sobretudo no campo da saúde, inteligência artificial, mobilidade".

"Então, ele tentou trazer para a Colômbia, nesse processo, não única e exclusivamente grandes obras, como, digamos, o Porto de Xangai, que acabou de ser feito no Peru, ou grandes avanços em ferrovias. Ele trouxe uma coisa que eu acho que ele foi inteligente, dizendo 'A Rota da Seda, sim, mas nós queremos, nessas áreas, nesses setores que são estratégicos'."

Rodríguez afirma que hoje o alinhamento da América Latina aos EUA já não é automático como era anos atrás, e que há pelo menos 20 anos a região "entrou em outro circuito", recuperando seu papel autônomo e independente.

"Mas isso é um processo. De todas as maneiras, não é fácil a relação com os EUA, e não todos os países têm a mesma capacidade de resposta. Tem uns que são muito mais marginais, mais dependentes, mais difíceis de ter uma voz muito mais forte. O que está acontecendo com o Panamá é uma amostra disso. Quase que tem uma chantagem com os acordos comerciais, com tudo, sobretudo indo contra a soberania do Panamá", afirma.

Por Sputinik Brasil