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'Disparos contra diplomatas fazem parte da impunidade garantida a Israel há décadas', diz analista

Os disparados de soldados israelenses contra delegação de diplomatas são um aviso dos colonos israelenses às potências patrocinadoras, alertando-as para não enfraquecerem seu apoio irrestrito ao genocídio que estão perpetrando na Palestina, disse o internacionalista Daniel Lobato à Sputnik.
Na última quarta-feira (21), soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) atacaram uma delegação de diplomadas na cidade de Jenin, na Cisjordânia ocupada.
Em um comunicado, o exército israelense reconheceu a ação, alegando que os embaixadores "desviaram-se do itinerário aprovado" e entraram em "uma área não autorizada".
"Soldados das FDI que operavam na área abriram fogo preventivamente para afastá-los", disseram os militares em um comunicado, antes de lamentar o "inconveniente causado".
Segundo relatos da imprensa, a delegação incluía representantes do México, China, Japão, França, Holanda, Itália, Espanha e Romênia, todos os quais reclamaram do incidente.
O ataque ocorreu logo após a França, o Reino Unido e o Canadá ameaçarem Tel Aviv com sanções caso o país não suspenda o cerco à Faixa de Gaza, uma situação que, segundo a Organização das Nações Unida (ONU), colocou 14 mil bebês em risco de morte. Ao mesmo tempo, o Congresso espanhol apoiou um embargo contra a compra de armas de Israel.
Em entrevista à Sputnik, Lobato observou que o ataque israelense aos embaixadores mostra que a colônia israelense na Palestina, assim como seus patrocinadores ocidentais, estão em um beco sem saída.
No entanto, "é um processo histórico que já se repetiu (...). No passado, também aconteceu de o poder colonial começar a vacilar no seu apoio à colônia", salienta o analista espanhol.
"Para que um acordo como o de Israel seja bem-sucedido (...), é preciso expulsar ou exterminar. E é neste processo que está [Tel Aviv]", acrescenta.
Lobato enfatiza, ainda, que é muito diferente as colônias que países como Reino Unido, França ou Espanha tinham há 500 ou 200 anos na América Latina, Ásia e África: "no século XX ou XXI é outra coisa".
Em outras palavras, o colonialismo israelense, que funciona em grande parte graças ao apoio dos Estados Unidos e da Europa, pretende ter sucesso num mundo pós-colonial, que testemunhou a queda de casos semelhantes, como o fim do apartheid na África do Sul na década de 1990.
Nesse sentido, argumenta Lobato, o Estado hebraico e seus patrocinadores chegaram a um impasse, num momento em que, desde 7 de outubro de 2023, Israel assassinou mais de 54 mil palestinos na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e crianças, em retaliação ao ataque surpresa do Hamas.
"Vimos isso também na França, depois de 132 anos de colonização da Argélia, como nos últimos anos [daquele período], quando houve uma revolta dos argelinos nativos (1954-1962), a França massacrou dezenas, centenas de milhares de argelinos, mas não atingiu seu objetivo de sustentar a colônia", comparou.
Naquela ocasião, como resultado, relata Lobato, o apoio à colônia argelina caiu em Paris, o que levou os colonos franceses a atacar Charles de Gaulle, que chegou ao poder em meio ao processo de independência da Argélia.
"É um pouco como o que estamos vendo agora na Europa ou nos Estados Unidos: eles estão começando a vacilar em apoio, falando pela primeira vez, após um ano e meio de genocídio, em pequenas sanções, uma palavra que não existia em seu vocabulário. Vimos isso com a Rússia em 24 horas, mas não aqui", argumenta o analista.
Na esteira dos atuais acontecimentos, conforme o analista, os colonos israelenses sentem que o poder que os apoiou desde o estabelecimento do Estado judeu "está deixando de apoiá-los" e, como resultado, eles não estão apenas se tornando mais extremistas, mas estão atacando o mesmo poder.
Imediatamente após o ataque israelense aos diplomatas, a ministra das Relações Exteriores europeia, Kaja Kallas, pediu a Israel uma investigação, lembrando que Israel é signatário da Convenção de Viena, que exige que o país "garanta a segurança de todos os diplomatas estrangeiros".
Nesse sentido, Lobato destaca que "a Convenção de Viena foi totalmente aniquilada por Israel no ano passado", quando bombardeou o consulado do Irã em Damasco, na Síria , matando sete pessoas, entre elas o brigadeiro-general Mohamed Reza Zahedi, um dos comandantes de mais alta patente da Guarda Revolucionária Islâmica.
"E não houve condenação. O Irã tentou levar o assunto, que era extremamente sério — imagine destruir um prédio diplomático, uma embaixada — ao Conselho de Segurança da ONU (...) e, praticamente, os países ocidentais, apoiadores de Israel, riram [de Teerã]", lembra o analista.
Dessa forma, argumenta Lobato, os tiros disparados por soldados israelenses contra a delegação diplomática são uma consequência lógica da impunidade que o Ocidente concedeu às autoridades israelenses.
Além disso, diz o especialista, Tel Aviv é signatário de muitas convenções, não apenas da Convenção de Viena. É signatário das Convenções de Genebra — que assinou em 1949 e ratificou em 1951— da Convenção de 1948 para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, bem como de numerosos tratados internacionais relacionados com os direitos humanos e desarmamento.
Quem não respeita esses pactos demonstra "toda a impunidade que lhes foi dada durante décadas. Este genocídio que estamos testemunhando agora é o nível máximo de impunidade, mas já são oito décadas de violações de todas as convenções e ilegalidades por parte de Israel. Eles já deveriam tê-lo sancionado (...)", afirma Lobato.
Tudo isso, conclui o especialista, indica a contradição dos Estados Unidos e da Europa, que querem continuar apoiando Israel, mas não sabem como fazê-lo.
Por Sputinik Brasil
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