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Seu nome era Francisco

Dartagnan Zanela 02/05/2025
Seu nome era Francisco
Dartagnan - Foto: Arquivo

O Papa Francisco, aquele que disse que nós bebemos demais e rezamos de menos (e ele estava certo em seu gracejo), nos deixou no dia do aniversário da cidade de Roma.

Na Páscoa, brindou-nos com uma belíssima homilia. Sem sabermos, estávamos diante de suas últimas palavras.

Sua reflexão girava em torno da figura de Santa Maria Madalena que, ao encontrar o sepulcro vazio, correu para avisar os Apóstolos. E eles, também correndo, se lançaram à procura do Senhor. Porque Cristo não é uma relíquia do passado, não é um ídolo oco, nem um personagem histórico petrificado pelo tempo, esquecido num monumento abandonado numa praça ou num museu.

Ele está vivo, vivíssimo no meio de nós, presente em nossos dramas particulares, em nossos sofrimentos coletivos, no olhar dos fragilizados, no semblante dos nossos semelhantes que, tantas vezes, tratamos de forma ranheta e tacanha.

Essa homilia me fez pensar em algo que ele havia dito logo no início do seu pontificado. Citando uma antiga paroquiana, afirmou: “O mundo só existe por misericórdia de Deus.” Só por isso, e nada mais.

Misericórdia. Eis aí uma palavra que o mundo constantemente perverte e distorce. De mais a mais, o que o mundo não desvirtua, não é mesmo? Inclusive distorce as palavras do falecido Bispo de Roma e, fazia e faz isso, sem a menor misericórdia.

Por isso, para não agirmos com leviandade, é essencial que mergulhemos diretamente nas fontes. Isso é fundamental para que compreendamos razoavelmente bem qualquer tema — inclusive para que entendamos as opiniões e os ensinamentos do falecido Pontífice.

É assim que se constrói um ponto de vista com o mínimo de fundamento, o que é bem diferente de um mero chilique com pretensões “criticamente críticas”.

Aliás, em seu livro “O nome de Deus é Misericórdia”, o Papa lembra que nos falta a experiência concreta da misericórdia - e como falta. Basta um bom exame de consciência para percebermos o quão profundo é o fosso da inclemência que carregamos no coração.

Um fosso que, malandramente, se esconde sob muitas camadas de palavras midiaticamente açucaradas e ideologicamente maliciosas. Palavras que desviam nosso olhar do mal que nos corrói por dentro e que nos leva a ferir, impiedosamente, os nossos semelhantes e, tudo isso, enquanto acreditamos que a nossa maldade seria, supostamente, um sinal de tomada de consciência.