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Uma armadilha oculta em nosso coração

Somos movidos pelo desejo, não temos para onde correr. E esse é um problema que todos nós temos que enfrentar, no íntimo do nosso coração, com as parcas forças do nosso ser.
Diante desse entrevero, Siddhartha Gautama diria que bastaria abdicarmos deles para os problemas se escafederem. Nas suas palavras, desejos seriam como pedras: quanto mais desejamos, mais pesada torna-se a vida.
E ele, em grande medida, está coberto de razão. O ponto é que essa não é uma tarefa tão simples assim. Na verdade, é uma tarefa hercúlea porque, o desejo, não é um mero adereço que usamos e descartamos quando nos dá na ventana. Nada disso.
Ele ocupa um lugar central em nossa vida e, por isso, todos nós temos em nosso âmago um vazio que apenas o absoluto pode preencher. Vazio esse que nos torna um ser sedento por ser. O problema é que não sabemos como fazer isso, nem por onde começar.
Segundo René Girard, o desejo não se manifesta em nós de maneira direta, mas sim, de forma triangulada. Ou seja, não desejamos algo porque nos parece bacana, mas sim, porque alguém deseja o mesmo, ou porque outrem já realizou-se com esse algo.
Nesse sentido, nós desejamos ter, ou ser algo, a partir do desejo manifestado por outra pessoa. Como diriam os latinos, “verba movent, exempla trahunt”; as palavras movem, os exemplos arrastam.
Contudo, nem todo anseio, almejado através do desejo do outro, pode ser realizado e, quando isso ocorre, surge em nosso íntimo um desejo irascível de destruir o bem desejado. De destruí-lo literalmente ou simbolicamente.
Não nos esqueçamos: quem desdenha sempre quer comprar.
Frustrados, nos sentimos vazios e, assim, mais uma vez, entramos no ciclo do desejo, movidos pela ânsia de realizarmos não-sei-quê para não nos sentirmos largados no vácuo da vida; ciclo esse que apenas termina quando findamos nossa jornada neste vale de lágrimas.
Por isso, para não sermos enredados pela arapuca mimética, podemos, se assim o quisermos, nos esforçar para nos tornar cônscios daquilo que iremos desejar, para não sermos facilmente arrastados pelo turbilhão de desejos que nos é apresentado por essa sociedade cansada, para não sermos manipulados por esse mundo hiperconectado que quer sequestrar nossa atenção, para não nos tornarmos um reles capacho dos nossos caprichos mesquinhos que imperam em nosso coração.
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