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Zé Elias: o mestre da crônica política em Alagoas e a arte de tirar políticos do sério

O jornalismo alagoano perdeu, no último dia 5 de fevereiro, um de seus nomes mais icônicos. Zé Elias, aos 74 anos, deixou um legado inestimável como o grande cronista político das últimas quatro décadas.
Com uma escrita afiada e um faro jornalístico impecável, ele acompanhou governos, escândalos e reviravoltas do poder, sempre com aquele tom de sutileza irônica que só os grandes mestres sabem empregar.
Poucos conseguiram fazer política e humor andarem tão juntos quanto ele. Seus leitores riam, os políticos suavam frio. Quando uma nota de Zé Elias saía na coluna da Gazeta de Alagoas, muita gente já sabia que o dia seria longo para os corredores do poder.
E por falar em políticos que perdiam o prumo ao ler suas notas, impossível não lembrar do memorável embate entre Zé Elias e o ex-deputado federal e prefeito de Palmeira dos Índios, Albérico Cordeiro.
A batalha dos pneus e o dia em que Cordeiro perdeu o prumo
Albérico Cordeiro era um político peculiar. Um marqueteiro de si mesmo, sabia fazer campanha sem gastar rios de dinheiro. Em uma de suas estratégias, mandou espalhar pelo Estado inteiro pneus pendurados em postes e árvores, com a frase "Cordeiro 14 Trabalha". Uma jogada ousada. Mas, como todo bom jornalista, Zé Elias viu um ângulo que ninguém tinha notado.
No dia seguinte, lá estava na coluna:
"Além de pedir votos, Cordeiro está ajudando a criar criadouros do mosquito da Dengue com sua propaganda eleitoral."
Pronto. Cordeiro quase infartou. Não dormiu, não comeu, não raciocinou. Para evitar um escândalo sanitário, ordenou que todos os pneus fossem furados na parte de baixo, garantindo que não acumulassem água. Mas o estrago já estava feito. O político sentiu que tinha sido atingido na jugular e decidiu tirar satisfações.
O encontro no shopping e a última palavra de Zé Elias
Um belo dia, o destino tratou de colocar Cordeiro e Zé Elias frente a frente em um shopping de Maceió. O político não perdeu tempo e foi direto ao ponto:
- "Zé Elias, faça-me o favor de nunca mais escrever NENHUMA nota sobre mim em sua coluna!"
Tranquilo como sempre, Zé Elias piscou, fez cara de pensador e respondeu:
- "Nem uma notinha no dia da sua morte?"
Cordeiro arregalou os olhos e silenciou.
E Zé Elias continou
- "Nem na missa de sétimo dia?"
Foi o suficiente para Cordeiro disparar, com toda a indignação que cabia em seus pulmões:
- "NÃÃÃÃÃO!"
Zé Elias sorriu. O recado estava dado.
Em 2010, Albérico Cordeiro faleceu, sem mandato. E, fiel ao seu compromisso, Zé Elias nunca mais escreveu uma nota sobre ele.
O legado de um jornalista que sabia cutucar com classe
Zé Elias foi mais do que um jornalista, foi uma lenda viva da imprensa alagoana. Seu texto mordaz, sua inteligência afiada e sua capacidade de provocar o poder com humor e ironia fizeram dele um dos nomes mais respeitados (e temidos) do jornalismo político.
Seus leitores jamais esquecerão suas colunas afiadas. E os políticos que passaram por suas notas, certamente também não.
Descanse em paz, Zé Elias. Seu nome segue escrito na história do jornalismo alagoano.
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