Política

Infraero realiza patrocínios milionários a reduto político de Hugo Motta sem critério público

Estatal injeta recursos em Patos (PB), enquanto enfrenta déficit milionário e não administra aeroporto no estado

Redação com Folha de SP 10/02/2025
Infraero realiza patrocínios milionários a reduto político de Hugo Motta sem critério público
Patos (PB) - Foto: Reprodução

A cidade de Patos (PB), reduto eleitoral do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu mais de R$ 420 mil em patrocínios da Infraero, estatal subordinada ao Ministério de Portos e Aeroportos, comandado por Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O montante representa mais de um quarto dos investimentos da empresa em eventos no Brasil durante o governo Lula (PT), apesar de a Infraero não operar nenhum aeroporto na Paraíba.

Os contratos, celebrados sem seleção pública, contemplaram desde festividades de São João até incentivos ao esporte. Enquanto isso, a Infraero encerrou o ano de 2024 com um déficit de R$ 540 milhões, ampliando questionamentos sobre a priorização de recursos públicos.

Recursos para festas e esportes enquanto estatal amarga prejuízos


O maior repasse foi destinado ao São João de Patos, no valor de R$ 190 mil, autorizado em 17 de junho de 2024, apenas dois dias antes do início do evento, que contou com apresentações de Gusttavo Lima, Bell Marques e Leonardo. Segundo a prestação de contas dos organizadores, a Infraero teve direito a um camarote exclusivo e 80 pulseiras de acesso VIP, sem esclarecer quem usufruiu do benefício.

Outros R$ 231 mil foram destinados à Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) da cidade, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Os valores foram distribuídos para projetos de badminton (R$ 120 mil) e futsal (R$ 111 mil).

Ligação política e falta de transparência


Todos os contratos foram firmados após a nomeação de Silvio Costa Filho para o Ministério de Portos e Aeroportos. Nenhuma concorrência pública foi realizada, e a Infraero não apresentou justificativa detalhada para os investimentos desproporcionais na cidade.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, não comentou as denúncias. Já o Ministério de Portos e Aeroportos alegou que a estatal define suas próprias políticas de patrocínio.

Em nota, a Infraero negou interferência política, mas confirmou que está em negociação para administrar o aeroporto de Patos, sem apresentar documentos que comprovem a existência dessas tratativas. A reportagem solicitou acesso a tais registros, mas a estatal negou alegando sigilo concorrencial.

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados — Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados



Reduto eleitoral e influência familiar


A cidade de Patos é berço político de Hugo Motta, mas também de seu pai, o prefeito Nabor Wanderley Filho, e de sua irmã, Olívia Motta, apontada como futura candidata à prefeitura. Sua avó, Francisca Motta, também já ocupou a chefia do município e atualmente é deputada estadual. Todos integram o Republicanos.

Embora não tenha destaque industrial ou agrícola, Patos é um polo regional de comércio e serviços. O Aeroporto Brigadeiro Firmino Ayres, que atualmente pertence ao município, já recebeu voos comerciais e passa por obras de ampliação desde 2023. O Governo da Paraíba estima que a reforma custará R$ 36 milhões, sendo R$ 22 milhões do governo federal e R$ 13,8 milhões do governo estadual.

Hugo Motta frequentemente utiliza suas redes sociais para divulgar as obras do aeroporto e enaltecer a atuação do ministro Silvio Costa Filho.

Infraero sob influência de Motta


O presidente da Infraero, Rogério Barzellay, foi nomeado em fevereiro de 2023 e, segundo fontes do governo, contou com o respaldo político de Hugo Motta para assumir o cargo. O mesmo ocorreu com o atual diretor comercial da empresa, Tiago Chagas Faierstein, que agora está indicado para um cargo na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), com apoio de Costa Filho.

A estatal não esclareceu por que Patos concentrou três dos 11 patrocínios realizados no Brasil. Apenas afirmou que os eventos passaram pelos processos internos de governança e foram submetidos à aprovação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Questionada sobre a distribuição das pulseiras VIP no São João de Patos, a empresa não respondeu, afirmando apenas que o investimento visava "reforçar o relacionamento institucional e comercial da companhia".

Falta de critérios e favorecimento?


Os indícios de direcionamento político nos contratos da Infraero reforçam a suspeita de que os patrocínios foram utilizados como ferramenta de influência e favorecimento, beneficiando aliados de Hugo Motta em seu reduto eleitoral.

Enquanto outras regiões do país aguardam investimentos essenciais, a estatal, com um déficit milionário, destina recursos para festas e eventos esportivos sem critérios claros.

O caso levanta um alerta sobre a transparência e o uso de dinheiro público em estatais controladas politicamente, evidenciando a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa sobre os investimentos da Infraero e outras empresas vinculadas ao governo federal.