Política
Infraero realiza patrocínios milionários a reduto político de Hugo Motta sem critério público
Estatal injeta recursos em Patos (PB), enquanto enfrenta déficit milionário e não administra aeroporto no estado

A cidade de Patos (PB), reduto eleitoral do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu mais de R$ 420 mil em patrocínios da Infraero, estatal subordinada ao Ministério de Portos e Aeroportos, comandado por Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O montante representa mais de um quarto dos investimentos da empresa em eventos no Brasil durante o governo Lula (PT), apesar de a Infraero não operar nenhum aeroporto na Paraíba.
Os contratos, celebrados sem seleção pública, contemplaram desde festividades de São João até incentivos ao esporte. Enquanto isso, a Infraero encerrou o ano de 2024 com um déficit de R$ 540 milhões, ampliando questionamentos sobre a priorização de recursos públicos.
Recursos para festas e esportes enquanto estatal amarga prejuízos
O maior repasse foi destinado ao São João de Patos, no valor de R$ 190 mil, autorizado em 17 de junho de 2024, apenas dois dias antes do início do evento, que contou com apresentações de Gusttavo Lima, Bell Marques e Leonardo. Segundo a prestação de contas dos organizadores, a Infraero teve direito a um camarote exclusivo e 80 pulseiras de acesso VIP, sem esclarecer quem usufruiu do benefício.
Outros R$ 231 mil foram destinados à Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) da cidade, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Os valores foram distribuídos para projetos de badminton (R$ 120 mil) e futsal (R$ 111 mil).
Ligação política e falta de transparência
Todos os contratos foram firmados após a nomeação de Silvio Costa Filho para o Ministério de Portos e Aeroportos. Nenhuma concorrência pública foi realizada, e a Infraero não apresentou justificativa detalhada para os investimentos desproporcionais na cidade.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, não comentou as denúncias. Já o Ministério de Portos e Aeroportos alegou que a estatal define suas próprias políticas de patrocínio.
Em nota, a Infraero negou interferência política, mas confirmou que está em negociação para administrar o aeroporto de Patos, sem apresentar documentos que comprovem a existência dessas tratativas. A reportagem solicitou acesso a tais registros, mas a estatal negou alegando sigilo concorrencial.

Reduto eleitoral e influência familiar
A cidade de Patos é berço político de Hugo Motta, mas também de seu pai, o prefeito Nabor Wanderley Filho, e de sua irmã, Olívia Motta, apontada como futura candidata à prefeitura. Sua avó, Francisca Motta, também já ocupou a chefia do município e atualmente é deputada estadual. Todos integram o Republicanos.
Embora não tenha destaque industrial ou agrícola, Patos é um polo regional de comércio e serviços. O Aeroporto Brigadeiro Firmino Ayres, que atualmente pertence ao município, já recebeu voos comerciais e passa por obras de ampliação desde 2023. O Governo da Paraíba estima que a reforma custará R$ 36 milhões, sendo R$ 22 milhões do governo federal e R$ 13,8 milhões do governo estadual.
Hugo Motta frequentemente utiliza suas redes sociais para divulgar as obras do aeroporto e enaltecer a atuação do ministro Silvio Costa Filho.
Infraero sob influência de Motta
O presidente da Infraero, Rogério Barzellay, foi nomeado em fevereiro de 2023 e, segundo fontes do governo, contou com o respaldo político de Hugo Motta para assumir o cargo. O mesmo ocorreu com o atual diretor comercial da empresa, Tiago Chagas Faierstein, que agora está indicado para um cargo na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), com apoio de Costa Filho.
A estatal não esclareceu por que Patos concentrou três dos 11 patrocínios realizados no Brasil. Apenas afirmou que os eventos passaram pelos processos internos de governança e foram submetidos à aprovação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Questionada sobre a distribuição das pulseiras VIP no São João de Patos, a empresa não respondeu, afirmando apenas que o investimento visava "reforçar o relacionamento institucional e comercial da companhia".
Falta de critérios e favorecimento?
Os indícios de direcionamento político nos contratos da Infraero reforçam a suspeita de que os patrocínios foram utilizados como ferramenta de influência e favorecimento, beneficiando aliados de Hugo Motta em seu reduto eleitoral.
Enquanto outras regiões do país aguardam investimentos essenciais, a estatal, com um déficit milionário, destina recursos para festas e eventos esportivos sem critérios claros.
O caso levanta um alerta sobre a transparência e o uso de dinheiro público em estatais controladas politicamente, evidenciando a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa sobre os investimentos da Infraero e outras empresas vinculadas ao governo federal.
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