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Ela ainda está aqui

Nos próximos dias a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas irá apreciar Projeto de Resolução, de minha autoria, que concede a Comenda do mérito legislativo Tavares Bastos a Elza Miranda, por sua inestimável contribuição a causa da democracia.
Recentemente, o belíssimo filme do cineasta Walter Salles, “AINDA ESTOU AQUI”, revisitou a memória dos anos de chumbo da ditadura militar brasileira, relembrando, para que nunca se esqueça, uma das mais hediondas espécies de violação de direitos humanos: o desaparecimento forçado de pessoas.
O filme constrói, em uma narrativa de rara sensibilidade, na fronteira do possível, o contexto autoritário da ditadura militar dos anos 1970, a partir da violência do aparato estatal perpetrada sobre a família Paiva, mormente, a prisão e o desaparecimento forçado do ex-deputado federal Rubens Paiva.
Rubens Paiva, assim como outras centenas de brasileiros, dentre eles o alagoano Jayme Miranda, desapareceu, simplesmente, desapareceu,. Impingindo, de modo continuado, sofrimento, angústia, danos psicológicos e incertezas aos seus familiares e amigos.
O “Ainda estou aqui”, destaca a luta de Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, que teve que assumir sozinha a sustentação econômica, amorosa e afetiva da família, concomitantemente a luta, por décadas, pela busca da verdade e justiça para o seu marido.
De igual modo a Eunice Paiva, em Alagoas, Elza Miranda foi obrigada a se reinventar, após o desaparecimento de Jayme Miranda, seu esposo.
Essa brava alagoana de Murici, após o golpe militar de 1964, fugiu com o marido para o Rio de Janeiro, onde viveu clandestinamente por dez anos, em constante apreensão, até quando em 4 de fevereiro de 1975, seu marido foi sequestrado e desapareceu.
Após uma verdadeiro calvário percorrendo, ao lado da sua filha Olga Miranda, quartéis, hospitais, necrotérios, instituições de acolhimento, em busca do paradeiro de Jayme Miranda, voltou para Maceió, formou-se em História, montou um instituto de beleza com o que criou seus filhos, foi instrutora do Senac e coordenava o curso de cabeleireira, formando vários profissionais em Maceió.
Simultaneamente, engajou-se na busca de seu marido por décadas, escrevendo diversas cartas para presidentes, ministros, organismos internacionais de direitos humanos, com a ajuda da OAB nacional e dos parentes dos mortos e desaparecidos, bem como viajou diversas vezes a Brasília e São Paulo em busca de notícias do marido.
Atualmente, Elsa da Rocha Miranda está com 87 anos, tem quatros filhos, onze netos e dez bisnetos, sendo uma das raras esposas de desaparecidos políticos vivas.
Ao propor a Comenda do Mérito Legislativo Tavares Bastos a Elza Miranda, associo-me ao necessário movimento democrático e civilizatório pela reparação histórica, verdade e justiça.
* É deputado estadual
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