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Tarifa de Trump para a Colômbia é 'um alerta' sobre o velho hábito dos EUA de 'asfixiar economias'

Os 25% de tarifas impostos neste domingo (26) pelos Estados Unidos à Colômbia mostram que as ameaças do presidente Donald Trump não são apenas retóricas.

Por Sputinik Brasil 27/01/2025
Tarifa de Trump para a Colômbia é 'um alerta' sobre o velho hábito dos EUA de 'asfixiar economias'
Foto: © AP Photo / Patrick Semansky

Analistas apontam, em entrevista à Sputnik, que a atitude dos presidente Donald Trump segue uma lógica antiga de Washington de conduzir a política externa pela coerção, asfixia comercial e bloqueios econômicos.

Bastou o presidente colombiano Gustavo Petro recusar dois voos provenientes dos Estados Unidos, que traziam dezenas de imigrantes indocumentados deportados pela administração Trump, para que Trump decidisse impor tarifas de 25% (sob a ameaça de aumentá-las para 50%) a todos os produtos colombianos que chegassem ao mercado americano.

O republicano chamou Petro de "socialista" e o culpou por colocar em risco a segurança nacional de seu país. Imediatamente, começaram os confrontos verbais e comerciais. Bogotá não ficou passiva e, por ordem de Petro, impôs tarifas de 50% aos produtos americanos que entrassem no mercado colombiano.

A narrativa entre os dois presidentes escalou a ponto de Gustavo Petro escrever uma mensagem extensa e incisiva nas suas redes sociais, deixando claro: "Eu não aperto a mão de escravistas brancos".

Esta nova guerra comercial — que na época se pensava que seria protagonizada por México ou Canadá contra os Estados Unidos — levanta a questão sobre o que esperar dos países que não se alinharem ou não estiverem dentro da órbita de interesses de Donald Trump.

"Isso é um alerta não só para os países latino-americanos, mas para o contexto mundial. Em menos de 72 horas, esse governo de Trump fez das ameaças uma realidade [...] É um alerta que se acendeu para muitos países da América Latina e também para o mundo inteiro", diz em entrevista à Sputnik Enrique Pertuz, especialista em ciências sociais com pós-graduação em direitos humanos e presidente do Conselho Departamental de Paz na Colômbia.

Segundo o analista, as tarifas de Trump contra a economia colombiana também servem como um aviso sobre a atitude hostil que os Estados Unidos podem tomar contra aqueles "governos progressistas ou de esquerda" na América Latina, como o de Claudia Sheinbaum, no México, Nicolás Maduro, na Venezuela, Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, e Xiomara Castro, em Honduras.

"Esses países vão receber um tratamento duro [dos EUA], especialmente aqueles que não estão alinhados com o que o presidente Trump quer, que se opuserem a sua posição ou ideologia política, pois estão acostumados a fazer isso por meio de bloqueios, asfixias econômicas e, muitas vezes, com a ruptura das relações", observa Pertuz.

Trump pretende 'marginalizar' certos atores políticos na América Latina

Com as novas restrições comerciais de Washington contra a Colômbia, a relação entre a América Latina e os Estados Unidos se torna mais complicada, com exceção dos governos mais alinhados aos interesses da Casa Branca, como o de Javier Milei na Argentina ou o de Daniel Noboa no Equador, afirma em entrevista à Sputnik Carlos Medina Gallego, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia e doutor em História.

"É uma situação complexa, mas não apenas para a Colômbia. O governo de Donald Trump vai gerar uma dinâmica muito complexa com alguns governos da América Latina", observa o especialista. "O que ele está realmente fazendo [Trump] é criar uma dinâmica de marginalidade com muitos dos países da América Latina. Isso gera grande tensão em termos das relações diplomáticas, econômicas e políticas de cooperação", acrescenta.

Medina Gallego também destaca o fato de que a administração Trump tenha decidido suspender, por 90 dias, a ajuda externa dos Estados Unidos a outros países. Segundo ele, isso pode significar que, durante esse período, o republicano tomará decisões sobre quais países continuará a financiar ou não, muitos deles na América Latina.

Colômbia, o lado mais fraco?

Na Colômbia, existem bases militares dos Estados Unidos. Em 2022, o ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, designou oficialmente a Colômbia como um importante aliado fora da OTAN. Essa designação ofereceu à Colômbia a oportunidade de se beneficiar de um acesso especial aos programas militares e econômicos dos Estados Unidos, mas não garantiu a segurança oferecida aos membros da OTAN.

Além disso, é amplamente conhecida a participação ativa e a intervenção das autoridades dos EUA no chamado Plano Colômbia, que começou em 1999, com os supostos objetivos de combater os conflitos armados internos e o narcotráfico no país sul-americano. Petro, no entanto, foi um dos mais duros críticos dessa estratégia de segurança bilateral, argumentando que ela só beneficiou os grupos criminosos, os setores neoliberais do governo colombiano e os Estados Unidos.

Com a chegada de Petro ao poder, as relações entre os Estados Unidos e a Colômbia foram gradualmente se deteriorando.

"É preciso revisar como as relações entre a Colômbia e certos núcleos de poder econômico, político e militar [nos Estados Unidos] foram sendo sistematicamente rompidas, como o rompimento das relações com Israel", aponta em entrevista à Sputnik Felipe Mendoza, analista e consultor político colombiano.

Tudo isso, segundo o especialista, pode gerar uma reação em cadeia em muitos setores econômicos e militares da Colômbia, o que pode "prejudicar o mais fraco, que claramente é o povo colombiano".

"Hoje temos um fenômeno de radicalização no contexto de uma reorganização do poder internacional, o que deixa a Colômbia em uma posição muito fraca frente aos Estados Unidos, porque os governos [colombianos] anteriores tinham uma dependência de Washington", diz o analista.

E embora o governo de Petro tenha tentado "gerar uma alternativa a essa dependência, não conseguiu, e isso está gerando muitos inconvenientes a curto, médio e longo prazo".