Economia
Ibovespa cai 3,15%, aos 120,7 mil, na maior perda desde novembro de 2022
Em dia de confirmação, neste fim de tarde, de novo corte de juros pelo Federal Reserve, o Ibovespa se mantinha desconectado de Nova York desde cedo, assombrado ainda pela deterioração da perspectiva fiscal doméstica. Mas sinais observados na comunicação e nas projeções do Fed - com a indicação de apenas mais dois cortes na taxa de juros americana e piora nas projeções do PCE (índice de inflação ao consumidor monitorado pelo BC dos EUA), bem como a decisão sem unanimidade - deterioraram o humor lá fora, carregando o Ibovespa para profundezas maiores. A comunicação também enseja a chance de abertura de uma janela para interrupção ou encurtamento do ciclo de cortes de juros na maior economia do globo - sinal reforçado durante a coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell.
Assim, o índice da B3, que caía 2,05% pouco antes da deliberação do BC americano, passou a ceder 3,40%, a 120.457,48 pontos, na mínima do dia renovada ao longo - e mesmo depois - dos comentários de Powell, então a caminho de sua maior perda desde 8 de setembro de 2021, no dia seguinte ao discurso do então presidente Jair Bolsonaro na avenida Paulista, na celebração da data nacional com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No fechamento de hoje, o Ibovespa ainda mostrava baixa de 3,15%, a 120.771,88 pontos, no menor nível desde 20 de junho (então aos 120,4 mil pontos). Foi também a maior perda diária em porcentual desde 10 de novembro de 2022 (-3,35%), quando o temor era de que o ex-ministro Guido Mantega viesse a participar da equipe de transição para Lula 3. Por sua vez, o dólar à vista, hoje a R$ 6,2707 na máxima pós-Powell, concluiu o dia a R$ 6,2657, em alta de 2,78%. Na semana, o Ibovespa cai 1,64% e, no mês, cede 3,90% - no ano, a queda chega agora a 10,00%. O giro financeiro foi muito reforçado, mesmo para um dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, como hoje, quando chegou a R$ 83,0 bilhões.
Na B3, todas as ações de maior liquidez operaram em terreno negativo neste meio de semana, e apenas três das 87 componentes da carteira conseguiram sustentar ganho no fechamento da sessão: Marfrig (+1,81%), MRV (+1,54%) e Santos Brasil (+0,54%). A corrente negativa foi puxada hoje pela realização de lucros em Automob (-30,00%), estreante que havia sido o destaque nos dois primeiros pregões da semana. CVC (-17,11%) e Azul (-11,58%) também figuraram entre as maiores perdedoras do dia, com a pressão vista no dólar ao longo da sessão. Entre as blue chips, Vale ON caiu 2,32% e Petrobras recuou 2,23% na ON e 2,58% na PN (mínima do dia no fechamento). Entre os grandes bancos, as perdas variaram entre 2,78% (BB ON) e 4,27% (Santander Unit) no encerramento.
"Atualmente, observamos uma desinflação incompleta, o que sugere um ajuste mais gradual da taxa de juros pelo banco central americano do que projetado anteriormente. Além disso, no comunicado, o Comitê julga que os riscos às metas de emprego e inflação estão relativamente equilibrados", observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Ele acrescenta que, em relação às projeções atualizadas hoje pelo Fed, a de "taxa de juros passou de 3,4% a.a. para 3,9% a.a, indicando, possivelmente, apenas mais dois cortes de 0,25 p.p. no ano que vem", acrescenta o economista.
"De um lado, o Fomc comitê de política monetária do Fed não necessita acelerar os cortes porque não há sinais de hard landing pouso forçado para a economia. Por outro, o cenário inflacionário começa a dar alguns sinais amarelos", diz Sung.
No cenário doméstico, poucas mudanças, mesmo após a aprovação do pacote de cortes de gastos pela Câmara dos Deputados, na noite de ontem, diz Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos. "O fiscal continua a preocupar muito e a aprovação do pacote na Câmara não foi o suficiente para acalmar os ânimos", como visto desde cedo, na abertura dos negócios. "Cenário para o início do governo Trump ainda é de dólar fortalecido, com entrada de recursos por lá contribuindo para enfraquecer, também, a situação do real por aqui."
Na entrevista posterior à decisão desta tarde sobre os juros americanos, Powell observou que, para que os juros continuem a ser cortados em 2025, será preciso que os integrantes do Fed vejam mais progresso com relação à inflação. "Com cortes já realizados, as taxas de juros estão perto de nível neutro aquele que não estimula nem restringe o ritmo de atividade econômica", apontou Powell. "Vemos incertezas elevadas sobre riscos de alta da inflação", disse também o presidente do Fed.
A perspectiva de redução de ritmo ou mesmo eventual interrupção do ciclo de cortes de juros pelo Fed vinha recentemente no radar do mercado, na medida em que eventual início "protecionista" do governo Trump, em janeiro, tende a resultar em pressões inflacionárias nos Estados Unidos.
"No que diz respeito à inflação propriamente dita, Powell adotou uma postura um pouco mais dura. Segundo ele, os indicadores desaceleraram consideravelmente nos últimos meses, mas a inflação ainda está acima da meta", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, destacando a passagem em que o presidente do Fed enfatizou as "incertezas elevadas sobre riscos de alta da inflação" e que, "para cortar juros em 2025", será preciso que o Fed veja "mais progresso na inflação".
"Entre estas incertezas estão, de acordo com o que Powell disse ao longo da entrevista, efeitos das tarifas comerciais sobre a inflação - não se sabe ainda como afetariam o CPI índice de preços ao consumidor, e se o efeito será prolongado", acrescenta a economista.
"Dia pesado com prosseguimento da pressão no câmbio e na curva do DI, o que leva o Ibovespa a se aproximar da mínima do ano", aponta Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, mencionando a expectativa por juros americanos não tão reduzidos para as reuniões à frente, com possibilidade de interrupção do ciclo em 2025, e a deterioração fiscal no Brasil.
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